Com argumento e realização de Mickey Fonseca, e produção, direção de fotografia e montagem de António (Pipas) Forjaz, fundadores da produtora moçambicana Mahla Filmes, “Resgate” inspira-se em raptos que aconteceram no país, na violência que o marcou e, sobretudo, procura retratar as condições de vida da maioria da população, de acordo com os seus criadores.
A história centra-se em Bruno, um homem que sai da prisão, cumprida a pena, que se reencontra com a mulher e a filha, e procura reconstruir a vida, sem sobressaltos, com o emprego numa sucata.
O banco, porém, surpreende-o com a cobrança de um empréstimo, feito pela mãe recém-falecida, para pagamento de despesas de saúde, e ameaça penhorar-lhe a casa.
A impossibilidade de fazer o pagamento, com o seu salário, leva-o de volta ao antigo gangue e à sua teia de sequestros, crimes a que Bruno acaba por se opor, pondo em risco a sua vida e a da sua família.
“Resgate” desenrola-se em zonas de pobreza, entre casas degradadas e estradas de terra, mostra os transportes coletivos informais, os “chapas 100″ e os “my love”, que surgem da procura a que não respondem os transportes públicos formais.
“Foi um trabalho extremamente árduo de realizar”, afirma o cineasta, no dossiê de apresentação do filme.
“Moçambique é um país diverso, com uma mistura de raças, etnias, línguas e origens culturais [distintas], e era importante representar isso através do elenco e do diálogo”, prossegue Mickey Fonseca, no depoimento que acompanha a ficha técnica da produção.
O filme foi rodado em Moçambique, em 2017, depois de um processo de recolha de fundos que contou sobretudo com a intervenção da produtora Mahla, e a montagem da obra ficou concluída este ano, em Portugal.
“A determinação de fazer um filme independente parte da dificuldade de acesso a fundos para cinema”, no país, mas também “da crença nas capacidades [dos profissionais] e de um profundo desejo de contar esta história, com total controlo sobre o filme finalizado”, segundo o realizador.
Assim, durante seis anos, recorda Mickey Fonseca, a produtora Mahla trabalhou “incansavelmente em publicidade”, para “lentamente” adquirir “equipamentos de filmagem” e reunir tudo o que pudesse “poupar para cobrir os custos de produção”.
“Com um orçamento apertado e aspirações altas, escolhemos cuidadosamente locais (…), um estilo de vestuário específico para cada personagem”, prossegue o cineasta.
As leituras do guião e os ensaios decorreram durante meses, com atores experientes e não-atores, “dispostos a trabalhar quase de graça, dando o melhor de si durante todo o percurso”, permitindo criar “personagens autênticas que deram vida à história e nos orgulharam”.
Gil Esmael, Arlete Bombe, Rachide Abdul, Laquino Fonseca e Tomás Bié estão entre os atores que protagonizam “Resgate”.
“Estou eternamente grato a todos”, conclui Mickey Fonseca, no texto de apresentação do filme, com o qual espera estimular “o diálogo social sobre questões apresentadas”, a falta de emprego, a dificuldade de acesso à habitação, a exclusão social, a corrupção.
Mickey Fonseca tem em “Resgate” a primeira longa-metragem. Trabalha há cerca de 20 anos na área do cinema, em Moçambique e na África do Sul. Com António Forjaz, dirigiu a ‘curta’ “Mahla”, que deu nome à produtora. Foi um dos assistentes de realização de “Diamantes de Sangue”, de Edward Zwick.
António Forjaz nasceu em Joanesburgo, cresceu em Maputo, formou-se em cinema pelo Columbia College Chicago, em 1995, soma mais de 20 anos de trabalho no setor.
Depois da estreia em Moçambique, em julho, e da exibição em Portugal, “Resgate” será distribuído em Angola, em setembro. Entretanto foi projetado em festivais de cinema africano em Ouagadougou, no Burkina Faso, e no Festival Internacional de Harare, no Zimbabué.
“Resgate” fica em exibição nos cinemas Alvaláxia, em Lisboa, e Parque Nascente, no Porto, até 14 de agosto, em duas sessões por dia.
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