“Colocámos no único espaço disponível, e a pedido da senhora ministra da Cultura, que acolhemos de imediato, no final das escadas no ‘hall’ da biblioteca, duas obras de Julião Sarmento”, disse Ana Pinho, no início da conferência “Cultura, Coesão e Impacto Social”, no âmbito da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia (UE), a decorrer em Serralves, no Porto.
A presidente de Serralves contou que uma delas pertence à coleção da fundação e, outra, à Coleção de Arte Contemporânea do Estado, em depósito na instituição.
Trata-se, respetivamente, de “Dias de Escuro e de Luz VIII (Dança)”, de 1990, da coleção do Estado, e de um “Desenho”, de 1987, da coleção de Serralves, como indicou a instituição à agência Lusa.
Julião Sarmento esteve sempre “intimamente ligado” a Serralves ao longo de muitos anos e à sua “missão”, sublinhou Ana Pinho, acrescentando que é um artista que personifica também aquilo que Serralves tenta fazer.
Falando numa “enorme perda”, Ana Pinho referiu que a “obra gigante” de Julião Sarmento ficará para sempre.
A listagem ‘online’ da coleção de Serralves inclui perto de três dezenas de obras de Julião Sarmento, várias em depósito, vindas de várias coleções – do Estado, privadas e do artista -, que se juntam às da própria Fundação. Este acervo atravessa mais de 40 anos do percurso de Julião Sarmento, da tela em acrílico “Sem título (Kobus Ellipsiprymnus)”, de 1972, a “Estoril yellow plants”, de 2013.
A coleção do Estado, em depósito em Serralves, inclui cinco das mais emblemáticas obras do artista, como “O Príncipe de Homburgo”, de 1978, “Memória do túnel” e “Santuário do Endovélico”, ambas de 1985, e “Sem título (For Joseph Beuys)”, de 1987, em vários suportes, além da tela “Dias de Escuro e de Luz VIII (Dança)”, de 1990, agora exposta.
No ano passado, de julho a setembro, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves levou ao Museu de Aveiro a mostra “No brilho da pele”, com uma seleção de obras de Julião Sarmento.
O funeral do artista plástico, que morreu na terça-feira, em Lisboa, aos 72 anos, realiza-se na sexta-feira, às 11:00, do Picadeiro Real, em Belém, para o Cemitério do Alto de São João, na capital.
Fonte da Galeria Cristina Guerra disse à agência Lusa que o velório vai decorrer na quinta-feira, das 18:00 às 22:00, no Picadeiro Real, do antigo Museu dos Coches, na Praça Afonso Albuquerque, em Lisboa.
Figura central da arte portuguesa desde 1970, Julião Sarmento foi dos primeiros a alcançar amplo reconhecimento nacional e internacional, tendo realizado, ao longo de uma carreira de 50 anos, dezenas de exposições individuais e participado em coletivas, em Portugal e no estrangeiro.
Marcou presença em grandes certames internacionais dedicados à arte contemporânea, como a Documenta de Kassel (1982, 1987), para a qual foi o primeiro artista português convidado, e nas Bienais de Paris (1981), Veneza (1980, 2001, 2010) e São Paulo (1992, 2002). Representou Portugal na Bienal de Arte Veneza em 1997.
Foi distinguido com o Prémio Internacional Il Lazio, de Itália, em 2009, e venceu, em 2012, o Prémio da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), na área das artes visuais, o Prémio Universidade de Coimbra, em 2009, o Prémio de Artes Casino da Póvoa, em 2013, e a Medalha de Prata de Mérito Municipal, de Sintra, em 1997.
Em Portugal, a obra de Julião Sarmento teve importantes exposições retrospetivas na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, em 1993 e em 2000, e no Museu de Serralves, no Porto, em 2012 e 2013, tendo sido alvo, no estrangeiro, de mostras relevantes, nomeadamente no Museu Rainha Sofia, em Madrid, em 1992, e no Museu Witte de Witte, em Roterdão, nos Países Baixos, em 1991.
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