Tudo começou com uma piada - como é próprio num talk show de um comediante. Tudo começou com uma piada improvisada, não guionada, num dia em que o programa de Jimmy Kimmel - Jimmy Kimmel Live! - tinha corrido especialmente mal. “Quero pedir desculpa a Matt Damon. Não temos mais tempo’, disse Kimmel criando uma situação imaginária em que estaria a correr com alguém do seu programa, alguém inimaginável de se recusar - como seria o caso de Matt Damon.
Damon foi escolhido por alguma razão? Nenhuma mesmo. Foi o primeiro nome que veio à cabeça do entertainer. Podia ter sido Denzel Washington, Leonard Di Caprio ou Sean Penn. Podia ter sido qualquer um, porque foi ao acaso. "Matt Damon foi o primeiro nome que me veio à cabeça. Estava a pensar numa estrela de primeiro plano, daquelas que nunca recusaríamos num programa …”. Mas calhou a Matt Damon e, desde então - e já lá vão 11 anos - o apresentador e o ator mantém o status quo de uma hostilidade que não existe na realidade mas que se tornou um evento no espaço de media.
Ao fim de um ano de picardia pública, Matt Damon foi mesmo ao programa. E a partir daí os dois nunca mais pararam e os episódios sucederam-se. Em 2008, Sarah Silverman era então namorada de Jimmy Kimmel. Juntou-se com Matt Dammon para criar um vídeo intitulado "I'm F—king Matt Damon”. Levou-o ao programa do namorado como … surpresa. O vídeo já foi visto mais de 16 milhões de vezes no YouTube.
Juntos, Kimmel e Damon criaram assim um evento paralelo que acompanha as suas carreiras há mais de uma década e que é de tal forma consequente que muitos já não sabem onde começou e menos ainda onde irá acabar. Certamente não será na cerimónia dos Óscares de 2017, apresentada por Kimmel.
O apresentador fez saber, ainda em janeiro, que desejava que Damon não recebesse qualquer Óscar por Manchester by the Sea, um dos candidatos a melhor filme e em que o ator foi um dos produtores. “Há muito bons filmes e não me compete dizer qual o filme que gostaria que ganhasse. Apenas espero que Matt Damon perca, é a minha prioridade número um. Há muitos a merecer ganhar, mas apenas um a merecer perder”.
Numa entrevista à Vanity Fair, Matt Damon não virou a cara a mais uma batalha. “Tenho de estar preparado para isso. Só farei alguma coisa se ele começar com alguma coisa. Se ele criar problemas, terei de responder e defender-me”.
Três dias antes da cerimónia, era já certo que “alguma coisa” iria acontecer. Kimmel publicou no instagram uma fotografia em que rasurava um cartaz com Matt Damon e em que se lia: "Best Picture Vominee Matt Damon”.
Em palco fizeram justiça a si próprios. Matt Damon entrou lado a lado com Ben Affleck com quem apresentou - ou tentou apresentar - o Óscar na categoria de Melhor Argumento Original.
Entrou em palco sorrindo, antecipando no tom e no riso que algo se iria passar. E tudo aconteceu como devia acontecer nos filmes, de forma perfeita. O "dono" da cerimónia, o seu arquirrival Kimmel, deixou instruções para que a música aumentasse de volume e Damon não se ouvisse. Damon reclamou, por que raio não se ouvia. E depois os nomeados foram listados e quando o envelope se abriu, um final feliz esperava a dupla em palco: Manchester by the Sea, o filme que ambos produziram, o filme que tem o irmão mais novo de Ben Aflleck como protagonista (Casey Aflleck), ganhou o Óscar. Kenneth Lorgan, o realizador, subiu ao palco e agradeceu e, lá atrás, Kimmel de certeza sorriu.
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