Os documentários desportivos não são propriamente um fenómeno recente. Eles sempre existiram como forma de recordar determinados atletas ou competições mediáticas, tinham sempre um certo distanciamento do que acontecia nos bastidores. Por norma, os atletas e as equipas gostam de manter algum secretismo sobre aquilo que é a sua preparação e, portanto, durante muito tempo, os documentários tinham por base muito daquilo que acontecia em campo, numa pista de atletismo ou num circuito automóvel combinado com uma série de entrevistas a pessoas com a sua perspetiva sobre os diferentes acontecimentos.
Contudo, nos últimos anos as equipas e os atletas perceberam que, ao darem mais acesso, podiam utilizar estes conteúdos como uma espécie de campanha de marketing. Ao permitir a entrada nos balneários, ao mostrar o que acontece nos treinos e ao deixar que uma equipa de filmagem captasse emoções à flor da pele, equipas de todo o tipo de desporto perceberam que podiam criar uma relação mais próxima com fãs e até ganhar novos apoiantes.
Nos últimos anos, a F1 ganhou milhões de novos espetadores com a série documental da Netflix. Em 2020, o documentário "The Last Dance" (Netflix) sobre a era de ouro dos Chicago Bulls de Michael Jordan tornou-se num dos mais vistos de sempre nos EUA. E também nos últimos anos surgiu o franchise "All or Nothing", produzido pela Amazon Studios, com uma missão muito simples: em cada ano escolhem uma equipa ou equipas para acompanhar durante uma época desportiva e depois fazem uma série documental que conta os principais momentos, as principais desilusões e, claro, as principais intrigas.
Desde 2016, a franquia já produziu séries sobre equipas de futebol americano, de hóquei no gelo, de râguebi e claro de futebol, como conhecemos deste lado do Atlântico. Na minha modesta opinião, aqueles que acompanharam equipas da Premier League, acabaram sempre por ser os mais bem conseguidos. Em edições anteriores, "All or Nothing" acompanhou uma temporada completa do Manchester City e do Tottenham (com Mourinho) que, ao jogarem na melhor liga do mundo, deram a possibilidade de contar uma história e de mostrar certas perspetivas sobre jogadores e treinadores que se calhar não veríamos de outra forma.
Fazendo de advogado do diabo, claro que a maior parte destas equipas foi paga pela Amazon (e não terá sido pouco) para mostrarem os seus bastidores e é normal ao longo de cada episódio questionarmo-nos sobre quanto daquilo que estamos a ver é mesmo assim e se não haverá alguma censura por parte dos clubes na hora de editar aquilo que foi gravado. Acredito que sim, mas o conteúdo não deixa de ter qualidade e de nos deixar pregados ao ecrã a perceber o que acontece com os jogadores.
O mais recente documentário "All or Nothing" foi lançado no dia anterior ao início do campeonato inglês de futebol e acompanha temporada do Arsenal. A equipa londrina que contou com dois jogadores portugueses — Cedric (ex-Sporting) e Nuno Tavares (ex-Benfica) — e com um treinador espanhol, Mikel Arteta, a dar a sua melhor retórica para tentar levar a equipa para um patamar desportivo que já não atinge há vários anos. A época começou com três derrotas e foi marcada por várias dores de crescimento e por uma direção americana aparentemente pouco interessada no sucesso desportivo do clube. Ao longo de cada episódio, vamos descobrindo e conhecendo melhor os protagonistas (jogadores, treinadores e até fotógrafos do clube) e as soluções que foram sendo encontradas para os diferentes desafios. Se resultaram ou não, têm de descobrir no fim.
- Os primeiros três de oito episódios já estão disponíveis na Prime Video, bem como todas as outras séries "All Or Nothing".
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