Alheio à azáfama que o rodeia, um grupo senta-se à sombra para ler. Quem o compõe, na sua grande maioria, não se conhece entre si, tendo apenas como elemento unificador a leitura. Este podia ser o início de uma parábola estoicista de tempos imemoriais sobre pessoas de nariz enfiado nos seus tomos enquanto o mundo implode a sua volta, mas não é o caso — nem este é um clube de leitura normal. É uma “Reading Party”, e o segundo elemento do nome é mesmo para levar a sério, não houvesse música a ecoar das colunas, seguindo-se aos sons do virar de páginas.
Inserida na programação do festival de sustentabilidade e consciência ambiental Cidade do Zero — que assentou arraiais nos dias 14 e 15 de setembro nos espaços do Instituto Superior de Agronomia (ISA) na Tapada da Ajuda, em Lisboa —, esta é uma iniciativa que coloca o livro e a leitura no centro da experiência social. A premissa é simples de acompanhar: a “Reading Party” dura uma hora e, durante a primeira metade, os participantes são incentivados a ler um livro a partir de uma seleção previamente divulgada. O silêncio dá então lugar à música ambiente, e o âmbito passa a ser conversar com as outras pessoas e trocar ideias quanto àquilo que se acabou de ler.
“O conceito surgiu em Nova Iorque com um grupo de amigos, e nós fizemos as adaptações necessárias para o contexto português, nomeadamente a introdução de um tema — neste caso, as alterações climáticas, por estarmos aqui na Cidade do Zero — , e também uma lista de livros curada por mim e pela Wook, que é a nossa parceira do evento”, explica Rita Saias, anfitriã da sessão e fundadora do projeto, ao SAPO24. Romance, ensaio, investigação e literatura infantil estiveram entre as escolhas disponíveis, mas sempre girando à volta dos temas da sustentabilidade, respeito pelo mundo natural ou as consequências de um potencial abismo climático.
Ao todo, cerca de 40 pessoas sentaram-se no espaço prazenteiro pelas 17:00 horas de sábado, 14 de setembro, ora em puffs, ora nas bordas de uma fonte desativada, ora nas próprias toalhas que trouxeram de casa, para tomar parte nesta festa. Composto sobretudo por mulheres, de várias idades, este grupo informal — o evento era de entrada gratuita, bastando inscrição prévia — seguiu quase todo ele as indicações, trazendo os livros recomendados para a Tapada da Ajuda, e privilegiou o formato físico, vendo-se ainda assim alguns e-readers. Dispostas pelo espaço estavam algumas folhas com citações e temas de conversa para motivar aquela que seria a segunda parte da sessão.
Após 30 minutos de leitura, “Vida a Mil”, de Silly, começou a brotar das colunas, sinal de que era suposto iniciar-se as conversas. Seguiram-se então uma série de canções girando sempre à volta do tema ecológico e da sustentabilidade, de artistas como Bjork, Jamiroquai, Marvin Gaye e Talking Heads, entre vários outros, ficando esta curadoria a cargo de Mafalda Nunes, diretora criativa da marca Sequin Fight e DJ que, como aponta Rita, tem o dom de “escolher sempre a playlist certa para o momento certo”.
"Estamos sistematicamente a ser bombardeados com informação, imagens, vídeos, tudo, e a leitura permite-nos recentrar e focar só numa coisa, naquele momento em que estás sozinho contigo próprio e com o teu livro"
Questionada quanto à ideia de juntar o ato de ler à sociabilização num espaço ao ar livre, Rita Saias começa por dizer que a leitura não só é um meio para “nos recentrarmos e nos cultivarmos e aprendermos”, como também “é uma forma de consciência social e de mecanismo de construção social”. Para melhor explicá-lo, a anfitriã recorre à sua experiência. “Desde sempre que utilizei a leitura quando preciso de tempo e de espaço para mim. Estamos sistematicamente a ser bombardeados com informação, imagens, vídeos, tudo, e a leitura permite-nos recentrar e focar só numa coisa, naquele momento em que estás sozinho contigo próprio e com o teu livro. E, portanto, acho que isso é um ato de autocuidado nesta sociedade em que vivemos de hipercomunicação e de hiperestímulos. Por outro lado, é um instrumento também de construção social, na forma em que te obriga a pensar efetivamente sobre os assuntos e às vezes és confrontado com visões que são diferentes da tua e isso obriga-te a pensar ‘ok, se calhar eu pensava sobre isto desta forma, mas acabei de ler este livro'”.
O fundamento da “Reading Party” é então pegar nesse exercício de compreensão de um outro entendimento que não aquele que tínhamos à priori e pô-lo em prática, dialogando com os outros. A ideia é que “pessoas com visões diferentes, mas com interesse obviamente no mesmo tema, possam sair um bocadinho das suas próprias bolhas, as bolhas dos amigos, da família, dos algoritmos, que já estão super viciados e perpetuam muitas vezes estereótipos ou preconceitos que temos e, portanto, dar a oportunidade de falar sobre estes temas”, explica Rita.
Face a um panorama social onde o espaço público de partilha deixou de ter lugar de destaque e a discussão não só é levada para o meio digital, como também é empolada e polarizada no mesmo, iniciativas como a “Reading Party”, considera a organizadora, têm como objetivo criar pontes. “Faz parte da democracia termos ideias diferentes e querermos chegar a um consenso, mas a sociedade está tão polarizada que é muito difícil chegar efetivamente a esses consensos e a uma visão comum de o que é que nós queremos como sociedade. E eu espero que esta Reading Party seja uma oportunidade para que isso aconteça”, afirma.
"A leitura não está morta"
Apesar da “Reading Party” ser um conceito novo a ser aplicado, Rita Saias não é alheia à experiência de leitura partilhada, pelo contrário. É da sua responsabilidade o clube de leitura “Politicamente Correto”, que se reuniu de duas em duas semanas na sua primeira edição e prepara-se agora para entrar na segunda. Face ao número de inscrições que se foi avolumando, e tendo em conta o seu cariz presencial, a organizadora viu-se obrigada a fazer uma pré-seleção e a dividir os grupos em dois, cada um com 15 pessoas: um para debater clássicos da ciência política (é essa a sua área de formação, conta) e outro “muito mais focado em questões e tendências globais, por exemplo, questões europeias sobre o alargamento ou questões também do impacto das redes sociais nos temas políticos”.
“Estamos sempre, de alguma forma, a perpetuar aquele mito de que as pessoas não se interessam, não querem saber, etc. E os dados de que dispomos demonstram que as pessoas muitas vezes não participam porque não se sentem à vontade para isso. Mesmo em termos do voto, acham que não sabem o suficiente, ou que estão longe do sistema político, e têm muita vergonha de dizer que não sabem ou não têm também tempo para ler todos os programas eleitorais, todas essas coisas. Isto provoca um afastamento entre o sistema político e os nossos representantes e os cidadãos. E o Politicamente Correto é isso mesmo, é um conjunto de iniciativas que visa criar essa aproximação entre as pessoas e o sistema político, de uma forma descomplexada, de uma forma apartidária, de uma forma independente, para que as pessoas se sintam mais próximas e possam votar, engajar-se em movimentos cívicos e por aí”, explica Rita Saias.
O tipo de pessoas que se têm juntado ao Politicamente Correto vai desde aqueles naturalmente inclinados aos seus temas — “estudantes de relações internacionais, profissionais ligados à comunicação, à assessoria de imprensa e ao jornalismo político” — a outros “em áreas mais científicas, como engenharia e medicinas, que sentem exatamente o que mencionei, de que não sabem nada, têm vergonha de não saber e querem procurar saber mais e estar mais por dentro dos assuntos”. Não obstante essa diversidade, há o reconhecimento de que clubes de leitura como este ainda são feitos por um nicho de pessoas com formação superior, sendo que o objetivo é alargar a sua composição para todo o tipo de potenciais leitores, numa lógica de convites e de “passa a palavra”.
É também aqui que entra a “Reading Party”, transpor a lógica do clube para um cenário totalmente aberto, onde qualquer pessoa se pode juntar, bastando-lhe um livro e vontade. Ao observar como decorreu a tarde na Tapada da Ajuda, dir-se-ia que o primeiro passo foi dado — e com sucesso. Com alguma timidez, as pessoas foram levantando-se e procurando com o olhar quem já estivesse disposto a conversar. Apenas uma minoria preferiu manter as leituras, mesmo que abanando os ombros ao som da música, e pelas 18:00 já era possível vislumbrar vários grupos de conversa dispostos pelo espaço.
"Começamos ali a falar sobre se era possível mudar o destino desta questão das alterações climáticas, passámos pelo meio da política e acabámos a falar sobre o vegetarianismo”
Dos primeiros a tomar a iniciativa em falar com os demais foram João e Alice. O casal — ele, consultor de 25 anos com formação em Engenharia e Gestão Industrial; ela, com 24 e a trabalhar na área da sustentabilidade — não veio por acaso para “Reading Party”, já que Alice faz parte do clube do “Politicamente Correto” e ambos assumem-se como leitores assíduos e omnívoros que vão “para as livrarias perder tempo à procura de livros em segunda mão”. Ainda assim, foi com curiosidade que vieram passar a tarde ao ISA, João para ler “Como evitar um desastre climático”, de Bill Gates, e Alice trazendo consigo “Uma Teoria da Democracia Complexa”, de Daniel Innerarity.
Visto que cada pessoa teve apenas 30 minutos para ler antes de começar as conversas, João temia que “isso pudesse funcionar mal”, mas “na verdade, já conseguimos ver um bocadinho do que é o teor [do livro] e desperta muito a curiosidade em conhecer os outros”. No seu entender, este “é um ponto de partida incrível para discussões”. “Nós começamos ali a falar sobre se era possível mudar o destino desta questão das alterações climáticas, passámos pelo meio da política e acabámos a falar sobre o vegetarianismo”, conta, já que tanto ele como Alice adotaram esta prática alimentar.
“Eu acho que foi muito bem organizado, gostei da parte de falar com as outras pessoas. No início, estava tudo um pouco tímido para começar a interagir, mas depois notou-se logo que se criaram várias conversas diferentes sobre diferentes temas. E mesmo pessoas que nem tinham trazido livro ou não estavam a par da dinâmica, acabaram por se envolver bastante, por isso acho que no geral correu super bem”, aponta Alice.
Dado que um dos objetivos da “Reading Party” era o furar da tal bolha em que nos colocamos na nossa vida quotidiana, Alice leva consigo uma experiência “muito positiva, porque criou uma maior tolerância entre as pessoas e uma discussão muito melhor do que propriamente estarmos às vezes à distância ou a ver uma pessoa que não conhecemos a ler um livro de ‘esquerda’ ou de ‘direita’ e categorizá-la apenas por aquilo que ela está a ler naquele momento, sem nunca ir falar com ela por isso é estranho”. Pelo contrário, esta iniciativa demonstrou-lhe que “estes momentos são bons para abrir o diálogo e perceber que, se calhar, não somos tão diferentes dentro do nosso espectro”.
“Acho que as pessoas, quando vêem outras a ir falar [sobre livros] ganham curiosidade — eu, por exemplo, estava a ver alguém a ler o mesmo livro que eu, é interessante perceber porque é que escolheu esse livro também, o que é que a levou a tal, porque se calhar foi a mesma razão que me levou a mim. Ou, por outro lado, um livro oposto que talvez eu tenha passado e nem achei interessante”, afirma. “Estava toda a gente a ver o que é que os outros estavam a ler. É uma experiência totalmente diferente, principalmente quando lemos não-ficção, porque ficamos a criar um ponto de vista e há sempre aquele dilema interno do ‘concordo ou não com o autor?’ e há sempre vontade de discutir. Portanto, acho que é algo quase natural”, completa João.
Vindo “sem expectativas”, Margarida e Tiago também estiveram presentes na “Reading Party” e a sua experiência foi igualmente positiva, ainda que ligeiramente distinta. Margarida, de 24 anos, a tirar psicologia, é uma leitora devota ao ponto de ter de dividir o tempo entre a tese de mestrado e os 35 livros que já leu este ano, do romance e dos clássicos literários àqueles centrados na sua área. Já Tiago, de 29 anos, vai no segundo curso — está a tirar engenharia mecânica, depois se ter formado em engenharia do ambiente — e admite ser mais dado à não ficção, entre as “ciências concretas” e a temas como política, ciências políticas, economia e filosofia, apesar de gostar também de fantasia e ter como objetivo reler toda a obra de J.R Tolkien em breve.
"Há muito em Portugal aquela ideia de que não se consegue parar para ler. Estamos focados para sair para aqui ou para ali e não há ‘vamos sair para ler’"
Ainda que ambos gostem de ir ler fora de casa, em parques ou cafés, os dois lamentam a falta de eventos desta natureza em Lisboa. “Estas iniciativas são muito raras de encontrar. Eu tenho alguns grupos de amigos que de vez em quando recomendamos [livros] uns aos outros e estamos a ler coisas ao mesmo tempo, ou estamos a ler faseado e depois discutimos os livros, temos um grupo no WhatsApp só para isso”, afirma Margarida. Foi por isso que, ao tomar conhecimento da “Reading Party”, preparou-se a rigor, trazendo “Lá, onde o vento chora”, romance de Delia Owens. Tiago, assumindo entre risos ser o “plus one” deste encontro, optou por um livro que já estava a ler, “4 Ismos em foco”, de William Ebenstein.
Para Margarida, o mais enriquecedor foi conhecer outra pessoa a ler o mesmo livro, já que as duas tiveram “duas opiniões completamente diferentes” quanto ao mesmo. “Eu sou de Ciências Humanas, então estava muito mais focada naquilo que são os sentimentos transparecidos no livro, na parte pessoal, no abandono das pessoas, naquilo que é a quase crueldade como o livro está escrito”, põe-se a explicar. Por contraste, a outra pessoa, ao deparar-se com aquela história, pensou, por comparação, "a minha vida é mesmo boa". Margarida deu por si a dizer “‘olha, não pensei nisso’, foram duas opiniões muito diferentes daquilo que era a mensagem inicial.”
Depois da sessão, de uma coisa estão os dois certos: querem repetir e esperam que mais gente se junte. “Há muito em Portugal aquela ideia de que não se consegue parar para ler. Estamos focados para sair para aqui ou para ali e não há ‘vamos sair para ler’. Precisamos de mais iniciativas destas, mais grupos grandes, de gente do nada a aparecer e começar a ler”, afirma Tiago. De resto, “foi uma experiência nova e diferente. Sair um bocadinho de casa e compartilhar com tanta gente. Afinal a leitura não está morta, como muita gente pensa; está viva e está dinâmica”, conclui.
Contrariar os hábitos do “scroll horrível” no telemóvel
Tal como Alice, Joana sabia ao que vinha quando se juntou à “Reading Party” durante a tarde. Estudante de doutoramento no ISA em Engenharia do Ambiente, não só tinha curiosidade em ver a Cidade do Zero aproveitar um espaço que percorre diariamente, como é amiga de Rita Saias e é alguém que engrossa a tendência de pessoas que começaram a ler cada vez mais nos últimos tempos [ver caixa].
“Houve uma altura que não era assim tão assídua na leitura, muito por causa também do que faço, já que passo o dia a ler e escrever e chego ao fim do dia às vezes com uma certa animosidade com os livros, às vezes cria-se essa distância. Mas depois também comecei a ler aqueles livros mais simples, que não se tem de pensar muito, só mesmo para me projetar para outros sítios, e isso começou outra vez a fazer-me agarrar o gosto pela leitura e perceber que, ok, estamos a ler coisas diferentes do meu dia-a-dia e que não me tem de cansar”, conta a investigadora de 30 anos.
Contrariando os hábitos do “scroll horrível” no telemóvel antes de adormecer “e dormir com aquele cansaço e acordar pesada”, começou a ler na cama e isso floresceu numa nova relação que abandonou os limites do colchão. Foi isso que a levou a optar por vir para a “Reading Party” começar a ler “Sobre o Céu”, de Richard Powers, no seu Kobo. Não só achou “o espaço aqui muito acolhedor” e a música ambiente algo “relaxante”, como viu esta experiência comunitária como algo importante porque “estamos todos juntos, mas vivemos muito isolados, as comunicações são todas muito atrás do ecrã”.
Além disso, o intuito de falar com outros participantes sobre livros que não conhecia foi “uma agradável surpresa”. “Normalmente estes clubes de leitura às vezes focam-se num livro só, não é? Para toda a gente estar no mesmo pé e percebermos do que é que estamos a falar. No entanto, aqui foi um tema e achei super interessante e como podemos estar a partilhar ideias diferentes e também estar a puxar-nos para outros livros”, afirma.
No caso de Joana, acabou a falar principalmente com uma participante que não escolheu um exemplar da lista, trazendo antes um livro que a estudante de doutoramento até já tinha lido. Calha que, por mera coincidência, essa pessoa é a Ana, mentora pedagógica de 25 anos na Teach for Portugal com a qual o SAPO24 também falou e que veio de propósito do Porto para este evento acompanhada da amiga Inês, investigadora da mesma idade na Fraunhofer Portugal.
Questionadas quanto ao que as levou a ir e vir da Invicta no próprio dia só para integrar esta “Reading Party”, ambas citam perentoriamente a falta de eventos semelhantes a acontecer no Porto e a vontade de partilhar leituras com outras pessoas. Dada a vontade em querer participar, nenhuma das duas trouxe livros que faziam parte das listas, mas isso não perturbou a experiência.
“Adorei, porque no início chegámos um bocadinho atrasadas e estávamos a ver como é que isto se ia desenvolver, porque começamos por ler o livro, mas depois percebemos que podíamos ter a oportunidade de interagir com outras pessoas. E, pela minha experiência, as pessoas com quem falei tinham ideias muito idênticas às nossas, tinham gostos muito parecidos e partilhámos experiências muito enriquecedoras de parte a parte. Ou seja, saio daqui, mais do que leitora, que já era, com uma pequena bagagem”, afirma Ana. “Não sabíamos que havia uma lista e o facto de termos trazido livros diferentes por engano acho que abriu portas a conversas muito distintas. De alguma forma, o livro que eu trouxe [“Filosofia Felina”, de John Gray] era um bocado baseado em filosofia e na existência da vida, portanto isso fez a ponte com o que uma rapariga com quem eu estava a falar também estava a ler, que era o crescimento as árvores e a comparação disso com a evolução humana. Ou seja, complementámo-nos, foi perfeito”, completa.
No caso de Inês, trouxe um livro — “Rant”, de Chuck Palahniuk, não editado em Portugal — que lhe estava a custar começar a ler, até porque a sua área predileta é fantasia e está a começar a abranger outros géneros literários. A vinda à sessão foi para si importante “no sentido de começar a falar com alguém e dizer, ‘olha, não estou a conseguir ler muito este livro, conheces o autor? Conheces a história?’ Foi um bom ponto de conversa, porque até é um autor conhecido, então havia opiniões de volta para me explicar ‘olha, se calhar este livro é um bocado lento, mas ele tem outro que é mais fixe, que podes gostar mais’”, conta.
O que estes dois depoimentos deixam transparecer é que, se a “Reading Party” teve como objetivo a ideia de quebrar a bolha, é também inevitável que pessoas com a leitura como interesse comum façam disso um veículo de afinidade. “Acabei por ter muito em comum com a pessoa com quem escolhi falar, mas não foi de propósito. Portanto, foi até uma coincidência engraçada ver que somos de sítios diferentes, mas que tínhamos um percurso similar e os gostos de livros eram distintos mas tentamos arranjar ali um ponto em comum. Eu dei uma recomendação e ela deu-me de volta e agora, se continuarmos a falar no futuro. talvez a ideia seja comentar os livros que lemos”, exemplifica Inês.
O que tais partilhas também demonstram é a avidez em encontrar semelhantes — lá está, a ponto de fazer mais de 600 quilómetros no próprio dia para participar neste evento. Daí que ambas deixem o repto para que haja mais iniciativas públicas de leitura — desde cafés que funcionem também como bibliotecas a cimeiras e festivais mais centrados nos leitores do que propriamente nos autores. Mais tangível é o pedido de que haja uma próxima sessão no Porto, algo que Rita Saias afirma estar a ser equacionado, ainda que o próprio futuro da “Reading Party” ainda esteja nas calendas.
"Ninguém sabia bem para o que é que vinha, mas acho que cumprimos naquilo que era o objetivo"
Se a segunda edição do “Politicamente Correto” tem início nesta semana, esta iniciativa tem um futuro algo mais nebuloso. “Estamos um bocadinho a perceber como é que funciona, se este modelo também traz valor acrescentado aos leitores e às pessoas que temos connosco”, afirmava a organizadora ainda antes do evento ter início.
No entanto, dada a felicidade com que Rita Saias falava ao final da tarde sobre esta sessão inaugural, é bastante provável que isso venha a acontecer: “Não havia muitas expectativas, sendo a sessão inaugural, ninguém sabia bem para o que é que vinha, mas acho que cumprimos naquilo que era o objetivo e pelo menos foi isso que as pessoas transmitiram, de estarem confortáveis a ler o seu livro e depois falarem com outras pessoas. Ficámos muito contentes por ter tantas pessoas quando tivemos. Sentimos que foi um momento bom para quem participou. Estamos super contentes com o resultado final e esperamos que as pessoas que participaram também”.
Comentários