“A literatura e a arte são para Pessoa uma matéria de reflexão”, afirmam Richard Zenith e Fernando Cabral Martins, no prefácio da obra, de que são organizadores.
Esta afirmação sustenta os textos escolhidos para esta obra, que expõem “as múltiplas direções” do pensamento de Pessoa, nas suas diversas abordagens, desde a autobiográfica à histórica e política.
Nesta antologia dos escritos de Fernando Pessoa sobre a arte da literatura estão reunidos considerações teóricas e comentários críticos sobre precursores e contemporâneos do poeta.
Richard Zenith e Cabral Martins sublinham a singularidade textual da sua obra, notória no contraste entre simples apontamentos inacabados e a “forte estruturação doso artigos que chegaram a ser publicados”.
“O facto é que encontramos nessas anotações soltas momentos de grande clareza e precisão, mesmo que sem a amplidão e alcance dos artigos”, sublinham.
O livro encontra-se dividido em três secções, uma dedicada aos heterónimos (“Perspetivas heterónimas”), as outras duas ao ortónimo (“Ideias sobre literatura e arte” e “Crítica literária”), todas elas sobre aquilo que deixaram escrito sobre a literatura e sobre alguns escritores.
Segundo os dois organizadores, as explanações críticas ou teóricas atribuídas aos diferentes heterónimos “têm uma pertinência própria” e não pressupõem que as afirmações atribuíveis ao ortónimo sejam mais dignas de confiança.
“Não existe em Pessoa sossego crítico ou estabilidade teórica”, o que não significa, contudo, que não haja pontos de acordo entre todas as vozes, como acontece, por exemplo com o “privilégio dado à literatura no contexto das artes”.
Zenith e Cabral Martins explicam que em Pessoa, a teoria é um diálogo entre teorias e uma permanente experimentação dos seus limites, e que nos casos em que há publicação na imprensa, os artigos ganham “dimensão performativa”.
E exemplificam: “aquilo que é importante nos artigos em que Pessoa elogia Teixeira de Pascoaes (1912) ou António Botto (1932) não será propriamente a adesão ou a convicção plenas do autor, mas o modo como atuam no quadro das discussões poética e ideológica contemporâneas”.
Contudo, os organizadores destacam o “interesse e apoio genuínos” que Fernando Pessoa dedica aos novos poetas, como é o caso de José Régio, Casais Monteiro, Carlos Queiroz ou Vitorino Nemésio.
Todo o comportamento literário de Pessoa demonstra até que ponto a questão da publicação lhe era “indiferente”, já que deixou um único pequeno livro em português – “A Mensagem” – e uma “produção torrencial em todos os géneros e temas, sem qualquer preocupação de realizar obras acabadas”.
Luís de Camões, Antero de Quental, Cesário Verde, António Nobre, Sá Carneiro, Shakespeare, Goethe, Victor Hugo, Allan Poe, Oscar Wilde e James Joyce são alguns dos autores sobre os quais o poeta se debruçou.
Comentários