“Eu não vejo esperança na esquerda contemporânea. Atualmente, a esquerda só sabe contra quem deve opor-se. É importante saber estar contra, mas também é importante saber em que assuntos se está a favor”, disse à Lusa o autor do livro “Utopia para Realistas” recentemente traduzido para português.
Para o historiador Rutger Bergman, 30 anos, “há exceções”, mas na Europa o fenómeno é igual em muitos países: os socialistas estão a perder na Alemanha, Noruega ou na Holanda e sublinha que o fenómeno “não é uma coincidência”.
Segundo o historiador, a energia política – e os Estados Unidos são o grande exemplo – assim como a maior parte das “grandes ideias utópicas” concentram-se nos partidos de direita.
“A direita tem visões horríveis e radicais, mas são ideias claras e muito precisas: a construção de um grande muro, a expulsão de emigrantes ou o Brexit, o que era impossível de imaginar há 20 anos. Pode dizer-se que o Brexit foi uma utopia que foi concretizada e a política é isso mesmo: provocar uma ideia radical e concretizá-la”, afirma Bregman.
O autor refere que as grandes mudanças começam quase sempre nas franjas da sociedade e só depois chegam ao centro e explica que a ideia central do livro é a de que todas as épocas e civilizações foram marcadas por ideias utópicas e irrealistas como o fim da escravatura, democracia, direitos iguais para homens e mulheres ou Estado de Bem-Estar.
“Ao longo da História a utopia tornou-se realidade, mas o grande problema da atualidade e da minha geração – não é termos alcançado a utopia – é não termos qualquer visão sobre o ponto para onde vamos a seguir”, alerta o autor que se dedica ao estudo sobre a erradicação da pobreza.
Nesse sentido propõe medidas como a introdução do pagamento de um salário base para todos os cidadãos, semanas de trabalho de 15 horas e flexibilidade fronteiriça.
“Erradicar a pobreza nos Estados Unidos custaria apenas 152 milhões de euros, menos de um por cento do Produto Interno Bruto (PIB). É sensivelmente um quarto da despesa militar norte-americana. Ganhar a guerra contra a pobreza seria uma pechincha quando comparada com as guerras no Afeganistão e no Iraque, que um estudo de Harvard estimou terem custado 3,6 a 05 mil milhões de euros” , escreve Bregman no livro que reflete também sobre o sistema bancário e a crise que marcou os últimos anos.
“Ainda estou chocado com a crise financeira (2008). A visão dos políticos na Alemanha ou do meu país (Holanda) é tão limitada e tão condicionada pelos tecnocratas que criaram todo este problema ao introduzirem o euro e as desigualdades entre o norte e o sul. Depois vieram com moralidades ao afirmarem que a culpa está nos países do sul como foi o caso do ex-presidente do Eurogrupo”, afirmou.
O livro “Utopia para Realistas” foi publicado este mês em Portugal pela Bertrand Editora.
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