O décimo terceiro livro da poetisa norte-americana, publicado nos Estados Unidos a 26 de outubro, é um volume esguio, com apenas 64 páginas, e “os seus poemas, falados em tons abafados e hesitantes, são delicados e reservados”, segundo uma crítica literária hoje publicada no The Washington Post.
“Os poemas são elegantes, chocantes e obcecados pela morte, assombrados por intimidações de mortalidade, por fantasmas que olham para trás com pesar e para a frente com trepidação. É um livro de fim de vida, onde a vida em questão pode ser de qualquer pessoa: a do poeta, do leitor, do planeta”, acrescenta o artigo.
A editora descreve-o como “um dos mais assombrosos” livros da autora, em que, tal como em “Íris Selvagem”, “há um coro, mas os oradores são inteiramente humanos, simultaneamente espectrais e antigos”.
“‘Winter Recipes from the Collective’ é música de câmara, um convite para aquele reino privilegiado, suficientemente pequeno para que o instrumento individual se faça ouvir, dolente e carregado, e depois retomado pelo instrumento seguinte, espirituoso e animoso”, acrescenta.
Ao mesmo tempo, “é suficientemente grande para conter toda uma vida: os inconcebíveis ganhos e perdas da velhice, as princesinhas a chocalhar no banco de trás de um carro, um passaporte abandonado, os ingredientes de uma revigorante sanduíche de Inverno, a morte de uma irmã, a presença alegre do sol, o seu brilho medido pela escuridão que lança”.
Segundo o crítico do The Washington Post, Troy Jollimore, professor de Filosofia da Universidade da Califórnia, a impressão com que se fica ao ler estes poemas de Louise Gluck é de fragilidade e vulnerabilidade, de pequenas figuras humanas agrupadas contra uma paisagem fria e vazia.
No primeiro poema, intitulado simplesmente “Poem”, a autora escreve algo como "para baixo e para baixo e para baixo e para baixo / é para onde o vento nos leva", mas sem nunca dizer o que é esse baixo para que estamos a ser levados, embora deixe algumas pistas não muito encorajadoras.
O benignamente intitulado "A Children's Story" é ambientado durante um passeio de carro com "todas as princesinhas / a chocalhar na parte de trás do carro", mas logo revela ansiedade e um prenúncio sobre o futuro, de que ninguém sabe nem pode falar, mas onde as princesas terão de viver.
Os pais das princesas possuem conhecimentos, mas o que eles sabem não é como manter os seus filhos a salvo, ou confortá-los, mas algo muito mais duro: que “o desespero é a verdade”.
Como escreve Louise Gluck num outro poema, "tudo regressa, mas o que regressa não é / o que desapareceu", demonstrando que o pensamento quase otimista de que "tudo regressa" é contradito logo a seguir.
Da mesma forma, o que pode parecer promissor num contexto diferente - a ideia de "uma nova vida" - revela-se como uma questão de necessidade desesperada, um indivíduo desmotivado à procura de um papel para preencher o vazio criado pela perda e abandono.
Cada fim é um novo começo, mas neste livro, cada menção de novos começos é imediatamente qualificada e esvaziada de qualquer potencial de esperança, descreve o jornal.
“Embora ‘Winter Recipes from the Collective’ seja uma leitura desafiante, é refrescante na sua vontade de enfrentar as incertezas e ansiedades acendidas pela nossa atual situação, em que as previsões do nosso futuro coletivo se alternam entre o assustador e o inescrutável”.
Em Portugal, este novo livro da laureada com o Nobel da Literatura ainda não tem data de publicação, mas a editora Relógio d’Água tem estado a traduzir e a publicar toda a obra da autora, a mais recente das quais se intitula “Ararate” e vai estar à venda nas livrarias a partir de sábado.
Até ao momento, em Portugal, estão publicados “Vita Nova”, “Uma vida de Aldeia”, “Noite Virtuosa e Fiel”, “Averno” e “A Íris Selvagem”.
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