Este é um espetáculo já com provas dadas sendo na realidade o sucesso internacional "Motherhood", da autora norte-americana Sue Fabisch.
Na versão portuguesa ganha o título 'MÃES' e é encenado por Ricardo Neves-Neves com direção musical de Artur Guimarães.
No palco, é exposta a realidade da maternidade com quatro mães (três mães e uma grávida) pelas atrizes Gabriela Barros, Raquel Tillo, Ana Cloe e Tânia Alves.
O enredo da peça desenrola-se numa tarde e noite em que o grupo de amigas se encontra para o baby shower de uma delas, Ana, interpretada por Raquel Tillo. De seguida, acabam a partilhar todo um conjunto de experiências sobre maternidade, gravidez, vida familiar, intimidade e questões femininas, que num tom sempre humorístico transporta o público para a exaustão constante de ter filhos.
Sempre com música ao vivo e músicos que participam na ação, tocada por um piano, bateria e guitarra, bem como outros instrumentos, mesmo em momentos em que não se canta, o público pode assistir a uma montanha-russa de emoções entre quatro amigas que falam abertamente sobre questões que todas as famílias sabem identificar.
Em entrevista ao SAPO24 no ensaio de imprensa, uma das protagonistas, Gabriela Barros, já experiente nos palcos com musicais, destaca que este é especial por ser no Villaret: "Eu nem tinha noção que podia comportar uma banda e é tão giro que faz um efeito um bocado "Café teatro" que cria uma proximidade com o público e uma sensação de aconchego que pode ser uma experiência muito gira para quem vem ver".
"Este teatro tem uma sonoridade muito boa, mesmo sem microfones. O tema também é uma coisa nova, um musical sobre mães", acrescenta.
Uma visão corroborada pelo encenador Ricardo Neves-Neves, que apesar de admitir que recentemente o Villaret não viu muitos musicais, já desceram as escadas dos camarins as maiores figuras de destaque nacional e internacional. "Foi um trabalho que começamos na sala de ensaios e quando colocamos aqui teve todo um exercício sonoro e técnico que faz com que aquilo que chegue à plateia seja possível", afirma.
"Lembro que esta sala já organizou vários eventos musicais, nomeadamente o Festival da Canção, várias peças musicais, Teatro de Revista, que não sei como era possível caber as escadarias gigantescas que já vi em imagens. Este palco já viu tudo. Elis Regina cantou aqui e existem recorrentemente pequenos concertos", acrescenta.
Também em entrevista, Raquel Tillo, estrela de outros musicais e a única das quatro atrizes em cena que não é mãe, realça que se preparou para a personagem observando a realidade à sua volta. "Eu tenho muitas amigas grávidas, muitas amigas com bebés. Não foi uma coisa difícil de chegar lá".
Como curiosidade, conta ainda que no seu papel, a grávida do grupo de amigas "uma das maiores facilidades é que a minha barriga é muito grande e é realmente um impedimento físico para mim e então isso acaba por ser bom. Eu nunca tive de fingir que estava a ser difícil mexer-me. É mesmo difícil fazer os movimentos normais com a barriga falsa".
Gabriela Barros, que foi mãe recentemente, acrescenta que na narrativa "existem muitas coisas com que me identifico, outras nem tanto. Mas sei que são coisas que se fala entre mulheres, como receios e dúvidas. É muito interessante poder navegar neste mundo sendo mãe. Mas até nisso este musical é muito giro porque a única pessoa que está grávida no palco é a Raquel que não é mãe na vida real".
"A música é um estímulo tremendo para o espírito"
Na exploração do estilo do teatro musical, o encenador questiona: "Porque não um musical sempre?".
"Eu gosto muito de trabalhar com música em cena é um prazer gigantesco poder por um lado trabalhar com a voz cantada onde os músicos estão sempre em articulação com as atrizes, mas também trabalhar a banda sonora onde nos ensaios percebemos que a música pode estar sempre em articulação. Em conjunto com o diretor musical Artur Guimarães foi muito fácil também perceber a dinâmica e o movimento musical quando estamos em cenas de palavra falada e não cantada", sublinha.
Sobre experiência com música realça que "já trabalhei muitas vezes com música em cena, orquestra, bandas em versão mais clássica ou contemporânea e jazz, mas é a primeira vez que estou a fazer um musical e aqui na Força de Produção".
"A música é um estímulo tremendo para o espírito, ter todos as semanas de ensaios músicos a fazer crescer as cenas através da música é um prazer enorme que nos faz lavar um sorriso para casa. Este sorriso com que eu andei estas semanas é o que quero que os espectadores levem ao vir ver o espetáculo ao Villaret", frisa.
Sobre as partes imperdíveis do espetáculo, Gabriela Barros sublinha que "é tudo". "Devem vir ver pela banda espetacular, pelo tema que acho que é ablativo para toda a gente. Mesmo os homens que normalmente não adoram musicais, e não sentem atração por este tipo de teatro, acabam por vir acompanhar as mulheres, namoradas, mães e é engraçado que vejo isto em muitos musicais que faço e os homens acabam por adorar. Por isso, este é mais um musical para toda a gente e lá por ser um tema de mães dá para todas as idades e faz-se uma tarde ou uma noite bem passada", sublinha.
Tillo diz ainda: "Temos três músicos incríveis e um diretor musical incrível e isso adiciona imenso ao espetáculo, sendo que temos músicos que também brincam connosco durante a peça e acompanham de todas as formas e isso é incrível de se ter num palco".
Será um musical para mães?
A atriz aponta: "Não, porque eu também estou aqui e não sou mãe e o nosso encenador também não é mãe. É um espetáculo para toda a gente. Fala muito de maternidade, mas fala mais sobre o que ter filhos e ter uma vida atarefada e acho que todos nós nos conseguimos identificar com isso. É também um ar fresco, uma risada. É um bocadinho a exaustão constante de ser mãe. É um espetáculo em ácidos".
A esta ideia, o encenador acrescenta ainda que este é um trabalho sobre experiências pessoais de quem o escreveu: "Este é um texto de Sue Fabisch que é uma mulher e escreveu o texto de acordo com as suas experiências e a vida de outras mulheres. O trabalho que nós fizemos na sala de ensaios contou com uma reflexão sobre o texto e também com o ponto de vista das atrizes que também está na peça. Foi um processo com muita atenção à escolha das palavras e forma despoderada de estar em cena e tratar alguns temas que são delicados, mas sempre com um grande sentido de humor, despudor e de alegria em cenas mais problemáticas".
"Estas são atrizes que eu conheço já há muito tempo e já trabalhei com todas, tenho à vontade com elas na partilha artística. Foi um processo aberto onde colocamos todas as nossas dúvidas e tive sempre esse apoio, tendo sido uma construção partilhada em si. Depois, como elas são todas doidas e eu gosto de gente doida, foi sempre um processo muito divertido e leve que ao mesmo tempo foi sério", partilha.
Tudo no mesmo cenário
Sendo este um musical que se passa num mesmo cenário, a sala da amiga grávida, e numa só tarde, Ricardo classifica-o como "um género de carrossel de emoções". "A música dá a ideia de movimento e dá este lado que nos apetece dançar e cantar. Eu estou há meses com estas músicas na cabeça e acho que vão permanecer durante anos. É divertido", afirma.
Raquel Tillo acrescenta ainda que na "realidade a música ajuda a criar um ambiente diferente. Quando a música entra imediatamente temos muita sonoplastia e então os sons e a luz criam ambientes diferentes, mesmo que seja no mesmo sítio. A encenação do Ricardo é fora do sítio e leva-nos a muitos sítios".
Já Gabriela Barros destaca "não existem novas realidades, é mais a dinâmica constante entre estas quatro mulheres. É sobre o que é ser mãe, amiga e é sobre sororidade entre amigas".
"A arte consegue salvar"
Numa nota mais pessoal, Neves-Neves, falou ainda sobre o poder da arte, em especial o teatro de grande público: "Eu acho que a arte consegue salvar, mesmo que não salve uma vida inteira, pode salvar-nos o dia ou a semana. É uma espécie de vitamina para a alma e às vezes andamos com a alma cinzenta ou pesada e encontramos este género de multivitamínico para o espírito e para o ânimo e isso parece-me mais importante do que se considera".
"A alegria é algo que devemos viver e preservar. Ânimo significa alma do grego, se estivermos vazios por dentro dificilmente vencemos com a nossa vida seja no que for. Por isso, este espetáculo que nos diz algo que podemos levar connosco tem uma importância vital", diz ainda.
O primeiro dia de 'MÃES' já se encontra sem disponibilidade, mas oportunidades não faltarão para ver este musical no Villaret, visto que vai permanecer por lá, pelo menos até 28 de abril. Os bilhetes custam 20 euros e estão disponíveis aqui.
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