Ouça aqui o episódio do podcast Um Género de Conversa com Marta Bateira:
Marta Bateira tem 40 anos de idade, é tripeira de gema e criou uma das personagens humorísticas mais aclamadas da atualidade. Nestes 50 minutos com Patrícia Reis e Paula Cosme Pinto, revela: “A Marta e a Beatriz misturam-se, não tenho crises existenciais quanto a isso”. Assume, contudo, que os primeiros meses no papel de mãe a solo foram “muito solitários” e “agressivos” e que a sua saúde mental ficou fortemente abalada. “Pensei algumas vezes que se fosse presa ou para o manicómio, não estava mal, ao menos conseguiria descansar. Estava a dar o surtanço total”.
Em resposta às críticas que recebe por falar da maternidade sem o deslumbramento que socialmente ainda é muito exigido às mulheres, ressalva: “Eu nunca disse que a minha filha estragou a minha vida, ela mudou a minha vida, o que é muito diferente”. Aproveitou a visibilidade pública para ser porta-voz do lado menos cor de rosa da gravidez e do puerpério, e mantém agora voz ativa para apontar o dedo à falta de apoio que tantas mulheres enfrentam: “Educar uma criança sozinha é muito duro. E também ninguém fala sobre a responsabilidade financeira das mães. As leis têm de mudar, assim como a sensibilidade do juiz, da juíza, dos advogados, ir a tribunal é muito humilhante. A parte emocional de tudo o que fizeste a solo não é considerado”, explica Marta Bateira. “E os homens ainda têm muito este raciocínio: 'Ela tem mais dinheiro que eu, então ela que pague. Ela está a ser mesquinha, ela é que quis, eu queria um aborto'. Nós somos sempre as mal-intencionadas que estão a tentar sacar dinheiro. É muito desgastante. Fui a tribunal num dia em que fui a palco, e foi terrível, chorei a noite inteira”.
Este período conturbado acabou por lhe servir de inspiração para o espectáculo “Resort”, que tem levado a salas esgotadas de todo o país, e onde aproveita o humor para fazer um género de catarse não só sobre os desafios da maternidade, que acabou por ter de enfrentar sozinha, mas também sobre a pandemia, a crise de identidade, as inseguranças em relação ao corpo, as cirurgias estéticas, o retomar da vida sexual, as suas dores de crescimento enquanto mulher que quer ser livre das pressões sociais. “Foi a primeira vez que fiz comédia com tão pouco distanciamento da tragédia. A viver ali, com as hormonas saltitantes e a gozar com aquilo, foi um exercício bom. Trabalhar salvou-me”, conta a humorista. “Voltei aos palcos com medo de não rir mais, e de não conseguir fazer rir. Porque a maternidade também te pode tirar o sorriso. Pensei que a Beatriz ia morrer mas os palcos vieram provar que ainda consigo. Que nos podemos sempre reinventar". Por isso mesmo, deixa um recado a outras mulheres que estejam a passar por algo semelhante: "Unam-se e sejam menos duras umas com as outras. Não há mães perfeitas".
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