Foto: Rosa Pomar, licença CC BY-SA 2.0, via Flickr
Em entrevista à agência Lusa, a portuguesa explicou que o seu trabalho envolve uma "negociação que engloba, não só trabalhos de arte, coleções e artistas, mas também pessoas, protocolos expositivos, textos, orçamentos, instituições públicas ou privadas, narrativas, mediações educativas".
A recém-nomeada curadora do Inhotim - que partilha o cargo com o norte-americano Allan Schwartzman e o alemão Jochen Volz, embora estes vivam noutras cidades - descreveu o Inhotim como "uma experiência única" que conjuga arte e natureza. A portuguesa planeia apostar na produção de pensamento crítico naquele espaço, composto por 19 galerias permanentes e quatro temporárias, numa área total equivalente a 300 campos de futebol.
Marta Mestre quer dar seguimento a "exposições temporárias que mostrem a coleção de cerca de 1.300 obras e a sua interação com a botânica e o educativo", através de "um selo editorial que possa publicar textos e vídeos que densifiquem temas importantes para pensar o mundo contemporâneo e o futuro".
O Inhotim, sede um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil, conta com trabalhos de artistas portugueses, como João Maria Gusmão e Pedro Paiva, disse. Segundo a curadora de arte, também o trabalho de Artur Barrio integra atualmente a exposição "Do Objeto para o Mundo - Coleção Inhotim", a primeira mostra itinerante da instituição.
Em 2015, o Inhotim recebeu mais de 350 mil visitantes, 45 mil dos quais de outros países.
Marta Mestre respondeu que seria impossível assumir um cargo desta natureza em Portugal com apenas 35 anos, por haver "uma maior institucionalização", considerando que os "quadros técnicos têm menos mobilidade".
A portuguesa, que estudou história de arte em Paris, foi curadora no Centro de Artes de Sines, curadora assistente da Bienal de São Tomé e Príncipe e ainda editou obras de filósofos em Portugal, como Jacques Rancière. Depois dessas "experiências muito gratificantes" em Portugal, em 2010, inspirada pelo otimismo no Brasil, foi estagiar no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, através de uma bolsa do Governo português, e acabou por ali ficar a trabalhar. "O panorama atual é bem diferente de quando cheguei, há seis anos. Mas talvez pelo facto de trabalhar num campo de imprevisibilidade e incerteza, que é o campo artístico, continuo a ver aspetos muito positivos na cultura brasileira e na forma de trabalhar aqui, o que me faz ver o país com otimismo", referiu.
O Brasil enfrenta não só uma crise económica, com recessão, aumento do desemprego e inflação, mas também uma crise política, com a Presidente Dilma Rousseff a ser alvo de um pedido de destituição do cargo. "Crise relaciona-se à ideia de depuração, que chega após um momento de agonia. A arte ainda guarda, nas nossas sociedades, uma função de cura, uma vez que ajuda-nos a elaborar sentidos, afetos e perceções do mundo. Ao mesmo tempo, é um elemento de crítica enfática e de resposta aos acontecimentos", comentou.
Comentários