"Mestres do Ar" é uma minissérie sobre a Segunda Guerra Mundial baseada em factos reais ocorridos nas operações levadas a cabo pela 8.ª Força Aérea Americana, uma unidade de pilotos de bombardeiros que combateu as forças militares da Alemanha Nazi entre 1942 a 1945. Inspirada num livro com o mesmo nome ("Masters of the Air: America's Bomber Boys Who Fought the Air War Against Nazi Germany", do biógrafo Don Miller), tem o seu grande chamariz nos produtores executivos ligados ao projeto: Steven Spielberg, Tom Hanks e Gary Goetzman, a mesma equipa por detrás das multipremiadas minisséries "Irmãos de Armas" (2001) e "The Pacific" (2010).
- Para quem gosta do tipo de leitura estilo "The True Story Behind", a revista TIME publicou recentemente um artigo sobre a 8.ª Força Aérea Americana.
- "Mestres do Ar" é vista como a história que fecha esta trilogia sobre a II Guerra Mundial (pelo menos até vir outra série e virar tetralogia) de Steven Spielberg e Tom Hanks: "Irmãos de Armas" mostrou o ponto de vista dos paraquedistas da Companhia Easy, "The Pacific" o dos fuzileiros no rescaldo imediato do ataque japonês a Pearl Harbor e, agora, a série da AppleTV+ mostra o combate contra as forças nazis a partir dos céus.
Ao longo de nove episódios, a estrearem semanalmente às sextas-feiras — os três primeiros já estão disponíveis —, a série centra-se nas vivências e experiências de vários homens dessa unidade durante as suas missões, que são liderados por dois Majores: o Major Gale "Buck" Cleven (Austin Butler, o "Elvis" que venceu o Óscar, mas que ainda não se esqueceu do sotaque do "Rei") e o Major John "Bucky" Egan (Callum Turner), dois amigos que se conheceram nos tempos de recruta e que, embora sejam totalmente diferentes um do outro, são unha com carne e carregam aos seus ombros muito da história — ao estilo do que já tínhamos assistido em "Irmãos de Armas" com os oficiais Richard Winters (Damian Lewis) e Lewis Nixon (Ron Livingston).
"Mestres do Ar" a nível técnico e produção é de lhe se tirar o chapéu. As cenas aéreas são um regalo e deslumbram: são emotivas, imersivas e transportam o espectador para o interior dos enormes bombardeiros B-17 — ou não fossem um constante recordar da brutalidade dos combates nos céus (a série custou uns alegados 250 milhões de dólares e isso nota-se!). No entanto, Miguel Magalhães, notando que só pode falar pelos dois episódios que viu, sente que muito do investimento da produção foi para o que se passa "lá em cima" e para os "aviões", descurando a parte do texto. Ou seja, tirando duas cenas (a corrida das bicicletas e a troca de galhardetes com os soldados britânicos) o diálogo e a interação das personagens "não é do melhor", como se fosse difícil de criar uma ligação com elas. João Dinis concorda, realçando que também tem algumas dificuldades com o casting. Como exemplo deu o caso do Sargento Hartman de "Nascido para Matar" (1987) — "aquilo sim, é o que eu associo a um militar".
"Irmãos de Armas" e "The Pacific"
A cena do desembarque na Normandia de "O Resgate do Soldado Ryan", apesar de ter sido filmada há mais de 25 anos, continua ainda hoje a ser uma das mais brutais representações do caos e terror vividos numa guerra. A produção, os detalhes; é tudo tão vívido e palpável com o olhar que não espanta que só esta cena de 20 minutos tenha custado 20 milhões de dólares. O realismo é tal de maneira cru e duro que muitos soldados veteranos norte-americanos, na altura, em 1998, tiveram de abandonar as salas de cinema durante a sessão porque as imagens do famoso Dia D são demasiados fortes e estavam a funcionar como gatilho para a sua perturbação de stress pós-traumático (PSPT) — tanto que o departamento do Governo dos EUA para assuntos relacionados com ex-combatentes abriu inclusive uma linha de apoio telefónica.
Só que este realismo em torno da guerra só era possível ser vivido no cinema. Na televisão, não havia nada que se assemelhasse em termos de ambição a este projeto. Tal como lembra a Empire, hoje somos mimados com grandes orçamentos via plataformas de streaming com séries a terem níveis de produção de autênticos blockbusters. Mas, por alturas do virar do milénio, as coisas não eram bem assim. Isto até estrear a série "Band of Brothers" (2001) na HBO.
A minissérie de 10 episódios adapta o livro homólogo de Stephen Ambrose (um historiador e especialista em matérias da Segunda Guerra Mundial) e é épica em vários aspectos: no orçamento (foi a mais cara de sempre na altura), na escala, na ambição, nas estrelas do elenco (é incrível ver esta série 20 anos depois e perceber quantas caras conhecidas — e bem novinhas! — tem). E, claro, muito do carimbo de qualidade é explicado pela ligação de Steven Spielberg e Tom Hanks ao projeto (saídos de fresco de "O Resgate do Soldado Ryan"), que trabalharam como produtores executivos. Em todos os sentidos, a série é um marco na história da televisão e não é injúria nenhuma escrever que não havia nada assim para ver no conforto do sofá.
Em 2010, a mesma equipa voltou a reunir e criou "The Pacific", série igualmente passada na Segunda Guerra Mundial e com 10 episódios, mas agora a mostrar os acontecimentos decorridos na linha frente de batalha no Pacífico, revelando o combate entre soldados japoneses e americanos, numa história que começa no rescaldo imediato do ataque a Pearl Harbor. Segue a linha de "Irmãos de Armas", embora sob o ponto de vista de três fuzileiros. Há quem prefira a pioneira, contudo, ninguém nega a qualidade e excelência da "sequela".
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