Numa época digital, o mundo físico ainda ganha em alguns temas. E assim é no que toca às livrarias e à compra de livros. Em setembro, um estudo da Nielsen/GfK, encomendado pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), concluía que "os livros em papel dominam o mercado (97%), ainda que o digital tenha crescido ligeiramente face ao passado".

Além disso, "as lojas físicas são o principal canal de aquisição de livros (86%), sendo que o canal online ultrapassa os 40% enquanto local de compra".

"Há algo de especial em percorrer os corredores, ser surpreendido por uma capa ou um título"

Ruben tem 29 anos e diz-se fã da experiência de compra numa loja física. "Prefiro comprar em livrarias porque aprecio o contacto direto com os livros. Gosto de os folhear, observar as capas, sentir o peso, e até avaliar pequenos detalhes, como o tipo de papel e a disposição do texto", confidencia ao SAPO24. "Para mim, essa experiência é uma parte importante do processo de escolha e compra".

Contudo, não esconde sentir que o online está a ganhar — e também acaba por ceder, mas numa experiência mista. "Opto por compras online apenas em situações específicas, como quando há promoções atrativas ou quando não consigo encontrar o livro na loja física. Mesmo nesses casos, normalmente já conheço o livro previamente, seja porque o vi numa loja ou porque pesquisei bastante antes de decidir".

Também Flávio, 28 anos, segue a mesma prática e não hesita em apontar as desvantagens do online — e a paixão que o leva às livrarias. "Não gosto de estar limitado por filtros ou algoritmos. Há algo de especial em percorrer os corredores, ser surpreendido por uma capa ou um título. E muitas vezes acabo por descobrir algo que nem sabia que procurava, simplesmente porque estava ali ao meu alcance físico. Esta espontaneidade faz parte do encanto de visitar uma livraria e transforma o ato na compra numa experiência mais rica e pessoal".

"As pessoas que trabalham nas livrarias também nos ajudam a escolher"

Ana Leonor, 15 anos, fala sobre um pormenor que a leva às livrarias e a ignorar a compra nos sites. "As pessoas que trabalham nas livrarias também nos ajudam a escolher um livro de acordo com o tema que procuramos e online às vezes é mais difícil".

"Muitas vezes são as recomendações dessas pessoas que me fazem conhecer novas histórias e coleções, que muitas vezes passam a ser umas das minhas favoritas. Se calhar online não arriscava comprar", nota ainda.

Lara, um ano mais velha, acrescenta outro fator. "A compra em livraria é importante porque consigo ver se o livro tem uma linguagem que consigo compreender, se está de acordo com os meus gostos".

"Parece que agora vejo mais pessoas a ler do que antes e a fazerem um evento de uma aparentemente simples ida a uma livraria"

Já Beatriz, 21 anos, refere que não gostava de ler até ao verão passado. "Comprei um livro por brincadeira, para ler nas férias, porque estava associado a um filme que queria muito ir ver ao cinema. Acabei por lê-lo em três dias na praia. Claro que tive de ir comprar mais a seguir e acabei por fazê-lo numa feira do livro. O facto de ser num sítio em que podia mexer nos livros ajudou nesta escolha, até porque também podia ver o tamanho da letra e do próprio livro", frisa.

Bianca, 18 anos, também é adepta desta segurança que as livrarias trazem. "É uma outra experiência ver os livros em pessoa e poder ver como são. Só me costumo sentir segura a comprar online quando é um livro que já conheço bem", diz.

Mas ver, tocar e cheirar livros é mais do que isso. "Parece que agora vejo mais pessoas a ler do que antes e a fazerem um evento de uma aparentemente simples ida a uma livraria. É muito giro isso e também partilhar uns com os outros o que lemos, até para termos recomendações de livros, remata.

Um mundo de livrarias a descobrir

Tanto em Portugal como lá fora são muitas as livrarias que resistem ao tempo e que se tornam marcos da vida literária de muitas pessoas, desde escritores a leitores.

O SAPO24 fez uma seleção de alguns destes espaços.

Em Portugal

A Bertrand do Chiado foi distinguida pelo Guinness World Records como "a livraria mais antiga do mundo em funcionamento". São sete salas com nomes de escritores portugueses — Aquilino Ribeiro, José Saramago, Eça de Queiroz, Almada Negreiros, Alexandre Herculano e Sophia de Mello Breyner — e um café que evoca Fernando Pessoa.

Considerada a "livraria mais bonita do mundo", a Livraria Lello transporta consigo "mais de um século de história e de estórias, embebido no espaço arquitetónico e também no saber livreiro". Foi um dos lugares de inspiração de J. K. Rowling para criar a saga Harry Potter.

Esta livraria, que ocupa um antigo quartel de bombeiros, junta livros a um mercado com produtos biológicos. A maioria das obras está assente em estantes criadas por caixas de fruta reaproveitadas. Um espaço especializado em obras usadas e edições de autor, mas onde também se encontram livros novos.

Uma das maiores livrarias de Portugal, tem também uma particularidade: todos os livros estão expostos pela capa e não pela lombada — e muitas das edições existentes não estão disponíveis em mais nenhuma livraria do país. Sediada num antigo palácio, é também possível ver-se tetos decorados com talha dourada e outros pormenores característicos do edifício original.

Mais do que uma livraria independente, este espaço em Braga junta exposições, apresentações de livros, debates, concertos, animações infantis e ateliers. Situada na Casa Rolão, um exemplar de arquitectura civil do século XVIII, em estilo barroco, tem também um jardim e uma cafetaria.

E no estrangeiro

No centro da capital islandesa, esta livraria completa-se com um bar e restaurante. Com títulos internacionais disponíveis nas estantes, à noite ganha música ao vivo em alguns dias da semana.

Escondida num beco entre a Praça de S. Marcos e a Ponte Rialto, esta livraria torna-se um ponto de referência por estar numa zona em que a água entra no outono e inverno. Por isso, os livros são salvaguardados dentro de gôndolas, canoas e banheiras.

Situada na centenária Igreja Dominicana de Maastricht, esta livraria espalha-se por todo o edifício. É também local de sessões de autógrafos, debates, palestras, entrevistas e até concertos. A livraria conta ainda com um departamento musical.

A Fourth Avenue, em Nova Iorque, é casa da livraria conhecida por ter "18 milhas de livros", o que equivale a cerca de 29 quilómetros. Ali encontram-se livros novos, usados e edições raras, bem como outro tipo de artigos, desde vinil, vestuário e material de papelaria.

A maior livraria da América do Sul encontra-se num antigo teatro, que mantém a decoração e estrutura intactas. No edifício, até o palco foi aproveitado e deu origem a um bar onde os livros também têm parte importante.