A quinta edição da Judaica começa com a longa-metragem baseada no livro “History on Trial: My Day in Court With a Holocaust Denier” (“História de um processo: A minha jornada em tribunal com um ‘negacionista’ do Holocausto”, em tradução livre), sobre a luta da historiadora Deborah Lipstadt, pela verdade dos factos, contra o revisionismo do escritor David Irving, que construiu uma imagem favorável à Alemanha nazi.
A historiadora norte-americana, após a publicação da sua obra “Denying the Holocaust The Growing Assault on Truth and Memory” (“Negação do Holocausto: A Crescente Agressão Contra a Verdade e a Memória”), no início dos anos de 1990, foi processada por difamação pelo escritor britânico David Irving, que minimizou o caráter violento da Alemanha de Hitler, negou a morte de judeus em Auschwitz e a existência de campos de extermínio.
No ano 2000, a justiça britânica reconheceu David Irving como “negador ativo do Holocausto” e condenou-o ao pagamento de uma indemnização de dois milhões de libras (cerca de 2,34 milhões de euros, a preços atuais) a Deborah Lipstadt e à sua editora, a Penguin House.
“Negação” (“Denial”), o filme protagonizado por Rachel Weisz, com realização de Mick Jackson e argumento de David Hare, reconstrói o processo e é exibido na abertura do festival, a par da curta-metragem “Com alguma paciência”, de László Nemes, o realizador húngaro de “O Filho de Saul”, Óscar de melhor filme estrangeiro, em 2016.
Rodada em 2007, a ‘curta’ descreve uma situação de guerra, em pouco mais de 14 minutos, apenas com base nas expressões de um militar.
No segundo dia do festival, “Negação” sustenta o debate “Negacionismo, Pós-verdade: Defender o Indefensável?”, entre Esther Mucznik, da Comunidade Israelita de Lisboa, o historiador Pedro Aires Oliveira, da Universidade Nova de Lisboa, e o juiz Renato Barroso.
“Lou-Andreas Salomé – A Vida de uma Filósofa”, da alemã Cordula Kablitz-Post, fecha a programação de quarta-feira. O filme aborda o universo da autora de origem russa e, em particular, a sua proximidade a Nietzsche, Freud e Rainer Maria Rilke.
“Um desvario” e “Correspondência amorosa” com Rilke são algumas das obras da escritora publicadas em Portugal.
“Indignação”, de James Schamus, adapta o romance do norte-americano Philip Roth, e será exibido na quinta-feira, com apresentação do escritor Richard Zimler.
Nesse dia é esperado em Lisboa o rabino William Wolff, para a estreia do documentário da alemã Britta Wauer sobre o seu percurso – “O rabino Wolff” – e para a exibição de “Uma turma difícil”, produção francesa de Marie-Castille Mention-Schaar, sobre o encontro de um grupo de alunos em risco com sobreviventes de campos de concentração nazi.
Ao longo dos restantes dias serão ainda apresentados “Operação Antropóide”, de Sean Ellis, sobre a morte do dirigente nazi Reinhard Heydrich, e “O Rei do Once”, do argentino Daniel Burman, que remete para relações familiares no bairro judaico de Buenos Aires.
Estes filmes não terão estreia comercial em Portugal, segundo a organização da mostra.
O programa conta ainda com o documentário “Jerry Lewis – O Homem por trás do Cómico”, apresentado pelo crítico João Lopes, e “O Último a Rir”, com nomes da comédia norte-americana, como Mel Brooks e Rob Reiner, que será apresentado pelo escritor Francisco José Viegas.
O certame em Lisboa fecha a 02 de abril, com “A Guerra dos 90 Minutos”, “falso-documentário” israelita em que o conflito entre Israel e a Palestina se traduz num jogo no estádio de Leiria, com o ator português Pêpê Rapazote a fazer de árbitro. A sessão conta com o realizador, Eyal Halfon, e o produtor, Assaf Amir.
A mostra será retomada em Cascais a 06 de abril, com a antestreia de “O jovem Karl Marx”, do realizador Raoul Peck, que foi nomeado para o Óscar de melhor documentário por “I am not your negro”.
Em Belmonte a Judaica vai decorrer de 05 de maio a 03 de junho e, em Castelo de Vide, de 12 de maio a 10 de junho.
Nestas duas localidades será exibido o filme “O último voo de Petr Ginz”, de Sandra Dickson, sobre um adolescente assassinado em Auschwitz.
Em Belmonte será recordado o engenheiro, historiador e arqueólogo de origem polaca Samuel Schwarz, que se fixou em Portugal no início da Grande Guerra de 1914-18.
A programação completa poderá ser consultada em www.judaica-cinema.org.
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