Em declarações à agência Lusa após ter sido divulgado que tinha sido escolhido para suceder ao neerlandês Ivan van Kalmthout, Pedro Amaral afirmou que pretende “reposicionar o TNSC, como teatro nacional, no centro da sociedade portuguesa”.

Pedro Amaral referiu-se ao TNSC como “uma instituição de enorme prestígio que defende a cultura, uma montra da cultura, mas que está muito longe da sociedade”.

O maestro lamentou que o TNSC “tenha ainda uma linguagem muito institucional” e realçou que deseja “aproximar o TNSC da sociedade portuguesa e tornar o TNSC parte da vida cultural do país, em Lisboa, mas também fora de Lisboa”.

Amaral defendeu a itinerância do TNSC – atualmente encerrado para obras de reabilitação - à qual se referiu “como um instrumento capital, naquilo que é levar a cultural musical e operática a todo o território nacional”.

O próximo diretor artístico do TNSC considerou que a instituição “deve intensificar a sua deambulação pelo país”.

Pedro Amaral quer dar “mais espaço aos artistas portugueses” no TNSC, “prosseguindo o trabalho feito” pelos seus antecessores, designadamente Elisabete Matos e Ivan van Kalmthout, por quem afirmou ter “muito respeito”.

“Conseguiram trazer muitos artistas portugueses para o palco do teatro, que durante muitos anos não aconteceu”, afirmou o maestro, para quem “o S. Carlos tem de ser uma montra dos artistas portugueses”.

O maestro referiu-se ao “aspeto internacional do TNSC que é incontornável” e projeta “trabalhar em parceria” para efetuar produções à escala internacional.

Parcerias a estabelecer “desde logo com os parceiros europeus em geral nesta Europa sem fronteiras”, com a rede transnacional Opera XXI, e com os parceiros da América do Sul, designadamente com o Brasil, que apontou como “um território imprescindível”.

O próximo responsável pela programação do TNSC expressou o desejo de uma expansão do orçamento atual do TNSC, “à medida que for aumentando o seu público”.

À Lusa, Pedro Amaral reforçou a vontade “de ganhar espaço no interior da sociedade, para que as pessoas sintam que ir ao teatro [de S. Carlos] é uma parte natural da sua vida, como ir a um espetáculo de teatro ou ao cinema ou visionar um filme ou uma série televisiva em casa”.

Pedro Amaral destacou os corpos artísticos do teatro, nomeadamente o Coro, “que é de uma enorme qualidade”, e a Orquestra Sinfónica Portuguesa, “que tem alguns dos melhores músicos que tocam em Portugal”. “Grandes artistas que é preciso valorizar”, enfatizou.

Pedro Amaral tem um mandato de quatro anos, que inicia no próximo dia 1 de setembro, e está confiante que “é possível consubstanciar” estes objetivos e “lançar sementes”.

“Quatro anos pode não dar para tudo, seguramente não dá, mas dá para iniciar”, afirmou Amaral, recordando que em metade do seu mandato irão decorrer obras de requalificação do teatro, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

“Tenho ideias muito claras, tenho de persuadir as equipas, com as quais vou trabalhar, para procedermos a esta viagem”, afirmou.

O maestro defendeu a multiplicação da oferta artística do TNSC: “Eu não concebo que um teatro nacional abra as suas portas, em média, uma vez em cada duas semanas”.

“O [Teatro Nacional de] S. Carlos tem de ter uma oferta muito mais abundante e presente”, defendeu, olhando também para “o extraordinário volume turístico que há em Lisboa”. Amaral referiu que o ano passado visitam a capital entre seis e sete milhões de turistas, “sendo imperioso captar uma parte destes visitantes”.

O maestro reconheceu que inicia funções num teatro com melhores condições e com uma estabilização laboral.

“A administração do Opart conseguiu ter uma casa bastante arrumada, e tem feito um trabalho estrutural, que é um trabalho silencioso, que só quem está por dentro percebe, e redunda nessa estabilidade”, disse.

“É uma sorte para quem entra poder partir desse trabalho feito”, disse o maestro de 53 anos.