Quando pensamos nas pessoas mais influentes da história da humanidade, é difícil não colocar Karl Marx na lista. Nascido na antiga Prússia do século XIX, Marx foi um filósofo e sociólogo que debateu assuntos relacionados com a economia e com o modo de vida das classes sociais mais baixas em plena revolução industrial. A sua obra alterou o rumo da história, não apenas pela sua teoria sobre a evolução da sociedade com base no conflito entre classes sociais e a intervenção do Estado, mas especialmente devido à sua crítica ao sistema capitalista.
Apesar de a sua capacidade intelectual e vontade de mudar o mundo merecerem o maior respeito, muito do mérito do seu trabalho deve-se à sua amizade com o filósofo alemão Friedrich Engels. Nascido no seio de uma rica família da alta burguesia, Engels desprezava o trabalho fabril que lhe era imposto, afirmando que a atividade económica que o seu pai desempenhava ao gerir variadas fábricas em Inglaterra era considerada exploratória das classes mais baixas. Esse sentimento de compaixão pelos operários levou Engels a participar na publicação de jornais reformadores, permitindo-lhe conhecer Karl Marx que foi o seu grande colega e camarada durante o início da revolução social. Juntos construíram uma das obras políticas mais relevantes de todos os tempos, O Manifesto Comunista, passando por muitas dificuldades e obstáculos associados à nacionalidade dos autores e ao regime político e económico existente à época.
São estes episódios que o filme O Jovem Karl Marx vem contar, de maneira empolgante e muito real, no grande ecrã. A longa metragem teve a sua antestreia na mostra de cinema Judaica em Cascais, no início de abril e estreou nas salas de cinema de Lisboa na passada quinta-feira, 20 de abril. Sendo uma produção francesa realizada por Raoul Peck, que recebeu este ano uma nomeação para o Óscar de melhor filme estrangeiro com I Am Not Your Negro, O Jovem Karl Marx apenas será exibido na sala de cinema francês das Amoreiras, e nas salas de cinema do El Corte Inglés.
O filme foca-se de forma estranhamente entusiasmante no modo como se tratavam os temas políticos no final do século XIX e que era através do diálogo. Assente em episódios de discussões atrás de discussões, um filme que à partida poderia ser aborrecido, torna-se curioso e interessante graças à excelente performance dos atores e ao modo realista como o guião está escrito, que é uma grande vantagem do cinema europeu.
Apesar do título, o Marx que nos é apresentado no filme tem de tudo menos de jovem - pensador, homem de família, pobre, apaixonado e (claro) com uma longa barba negra. O que pode, por outro lado, ser considerado “jovem” no filme é a ideia do movimento comunista. Permite-nos assim assistir ao nascimento da teoria marxista de forma estável e crua, sem os grandes efeitos cinematográficos ou atributos sonoros a que estamos habituados, e brilha precisamente graças ao fascínio e interesse associados ao tema do filme.
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