A Quetzal Editores tem vários títulos de Jorge Luis Borges publicados, mas uma série de livros vai passar a ter "uma nova imagem que junta o melhor do escritor argentino com uma das pinturas mais famosas" do holandês Hieronymus Bosch, o tríptico "As Tentações de Santo Antão", que, já agora, faz parte do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Este ano será publicado também "Outras Inquirições" e na capa vai figurar outro fragmento da pintura de Bosch, trabalhada por Rui Rodrigues.
A reedição de "Ficções", de Jorge Luis Borges tem tradução de José Colaço Barreiros. O livro foi originalmente publicado em 1944, quando o autor ainda não tinha ficado cego, e está dividido em duas partes: “'O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam” e “Artifícios”. Dentro destes textos estão "os grandes mitos e elementos centrais" da obra de Jorge Luis Borges, e os "contos fundamentais para entender o seu universo, como ‘As Ruínas Circulares' e ‘A Biblioteca de Babel’", segundo a Quetzal Editores.
“Devo à conjunção de um espelho e de uma enciclopédia a descoberta de Uqbar.” Começa assim aquela que se trata de uma obra central no universo do escritor argentino Borges.
Este pequeno livro de contos, que não chega às 200 páginas, traz textos como “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius” e a “Análise da obra de Herbert Quain”, ambos sobre livros imaginários que Jorge Luis Borges descreve com um detalhe imenso. Em “Análise da obra de Herbert Quain”, Borges aprofunda a sua investigação sobre Quain, autor fictício de “The god of the labyrinth” sobre o qual Saramago também escreveu em “O ano da morte de Ricardo Reis”. A literatura perdida é um dos temas sobre os quais Borges se espraia.
No prólogo da segunda parte do livro, “Artifícios”, Borges escreve que há dois contos que merecem uma “menção demorada”: “A morte e a bússola” e “Funes ou a memória”. O primeiro conto passa-se em Buenos Aires “de sonhos”, onde Borges nasceu. O segundo conto é, de acordo com o que escreve o autor, “uma longa metáfora da insónia”.
“Ficções” é uma prosa que por vezes parece poesia, repleta de referências à arte, à filosofia, às religiões e à música, e continua a fazer justiça à capacidade de Borges em imaginar cada detalhe cuja compreensão pode parecer uma encruzilhada – não fosse o autor grande fã de labirintos.
Ao todo, são 16 contos. O último tem como título “O Sul”. Jorge Luis Borges escreve no prólogo que é “porventura” o seu “melhor conto” e conta a história de um homem chamado Dahlmann.
"Ficções" chegou a Portugal em 1972, publicado pela editora Livros do Brasil, com tradução de Carlos Nejas, com revisão de Maria Ondina Braga. A tradução de José Colaço Barreiros surgiu na Teorema, em 1998, segundo o catálogo da Biblioteca Nacional, tendo conhecido desde então várias reedições, incluindo a mais recente, na Quetzal, em 2013.
Quem é Borges?
Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires, em 1899, e morreu em Genebra, em 1986. Foi nessas duas cidades que estudou, mas viveu noutros locais: Bruxelas, Maiorca, Sevilha e Madrid.
Regressado a Buenos Aires, em 1921, Borges começou a participar ativamente na vida cultural argentina. Chegou a fundar a revista “Prisma” e, com Macedonia Fernández, a “Proa”, onde publicou grande parte da sua obra poética.
Dois anos depois, publicou o seu primeiro livro de poesia – “Fervor de Buenos Aires”, seguido de “Luna de enfrente”. O reconhecimento internacional só chegou em 1961, com o Prémio Formentor.
Em 1955 ficou cego, mas não parou de escrever. María Kodama foi a sua companheira até ao fim. A par da poesia, Borges escreveu ficção e destaca-se no conto, ensaio e narrativa breve.
Jorge Luis Borges foi também professor de literatura e dirigiu a Biblioteca Nacional de Buenos Aires entre 1955 e 1973. Deixou livros como “História Universal da Infâmia”, “O Aleph” e “O Livro dos Seres Imaginários”. Embora nunca tenha sido galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, recebeu muitas outras distinções, como o Prémio Cervantes de Literatura, em 1979.
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