Esta edição estava a ser acompanhada sob grande expetativa para tentar perceber qual seria comportamento da Academia em 2020. Depois de conhecidos os nomeados dos BAFTA (os Óscares britânicos) e os resultados dos Globos de Ouro, o mundo estava de olhos postos na divulgação desta segunda-feira para confirmar se iria ou não existir um desvio do caminho que tem vindo a ser trilhado desde os tempos dos #OscarsSoWhite (a hashtag tornou-se viral em 2015 e desde então a Academia tem feito um esforço para ter uma maior representação étnica nas suas nomeações numa indústria dominada por homens brancos).
Neste sentido, a Academia reconheceu o trabalho de Cynthia Erivo, atriz britânica de ascendência nigeriana, pelo seu papel em Harriet com uma nomeação; assim como o sul-coreano Boon Jong Ho está não só entre os nomeados para Melhor Realização, como vê o seu Parasitas entre os escolhidos para Melhor Filme. No entanto, 2020 voltou a ser um ano em que nenhuma mulher está indicada na categoria de Melhor Realização. Desde 2010, apenas uma (Greta Gerwig por Lady Bird) mereceu a distinção. De resto, na história dos Óscares, apenas cinco estiveram nomeadas.
Este tópico tem sido debatido de forma recorrente nas últimas semanas, tendo sido uma das críticas apontadas aos Globos de Ouro, mas que ganhou novamente tração após serem conhecidos os nomeados dos BAFTA. A par de Gerwig, existia a expetativa para perceber se Lulu Wang (A Despedida), Marielle Heller (Um Amigo Extraordinário) ou Joanna Hogg (The Souvenir) iriam estar entre os eleitos. De resto, a própria Gerwig era também um dos nomes falados para assumir uma séria candidata à nomeação pela adaptação de Mulherzinhas — e, se o fosse, seria a primeira mulher a estar nomeada duas vezes na categoria. Contudo, a escolha recaiu em Martin Scorsese, Todd Phillips, Sam Mendes, Quentin Tarantino e Boon Jong Ho.
Assim, polémicas à parte, o destaque vai para Joker, o filme com mais nomeações em 2020. O filme de Todd Philips angariou 11 distinções, estando presente nas mais importes: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Ator (Joaquin Phoenix) ou Melhor Fotografia. A seguir, com 10 nomeações, estão três filmes: 1917, o épico de guerra de Sam Mendes baseado nas histórias do seu avô; Era uma vez... em Hollywood de Quentin Tarantino e a epopeia mafiosa de Martin Scorsese de quase quatro horas, O Irlandês. Já Jojo Rabbit, Mulherzinhas, Marriage Story e Parasitas contam com seis cada.
Assim, a lista dos nove candidatos ao prémio de Melhor Filme é composta por Le Mans’66: O Duelo, de James Mangold, O Irlandês, Jojo Rabbit, de Taika Waititi, Joker, Mulherzinhas, de Greta Gerwig, Marriage Story, de Noah Baumbach, 1917, de Sam Mendes, Era uma vez… em Hollywood e Parasitas.
Para melhor ator principal, foram nomeados Antonio Banderas (Dor e Glória), Joaquin Phoenix (Joker), Leonardo DiCaprio (Era Uma Vez… em Hollywood), Adam Driver (Marriage Story) e Jonathan Pryce (Dois Papas). A lista das melhores atrizes principais é constituída por Cynthia Erivo (Harriet), Scarlett Johansson (Marriage Story), Saoirse Ronan (Mulherzinhas), Charlize Theron (Bombshell – O Escândalo) e Renée Zellweger (Judy). Aqui destacam-se as duas nomeações de Johansson (está igualmente nomeada na categoria secundária por Jojo Rabbit) e Ronan que, aos 25 anos, já conta com 4 nomeações.
2020 fica marcado por ser um ano de regressos de nomes já consagrados. Sir Anthony Hopkins recebeu a sua quinta nomeação pelo seu Papa Bento XVI (ganhou por O Silêncio dos Inocentes em 1992), Tom Hanks estava fora dos nomeados desde 2001 (O Náufrago) e volta estar entre os nomeados pelo papel em Um Amigo Extraordinário. Já O Irlandês valeu a indicação aos veteranos Al Pacino (conta com 8 nomeações, mas está fora destas lides desde que ganhou em 1993 por O Perfume de Mulher) e Joe Pesci (que saiu da reforma para interpretar o mafioso Russell Bufalino e somar a sua terceira nomeação). O mesmo se verificou no feminino: Renée Zellweger (que contou com três nomeações consecutivas entre 2002 e 2004, mas que estava fora dos escolhidos pela Academia desde Cold Mountain) está entre as eleitas ao dar vida a Judy Garland enquanto Charlize Theron (Bombshell) está de regresso desde North Country - Terra Fria em 2006.
De resto, ainda não foi desta. E não foi à primeira nem à segunda. Em 2005, a curta-metragem de animação A História Trágica com Final Feliz já tinha estado na iminência de ser nomeado para os Óscares, mas ficou-se pela lista final. Mais de 10 anos depois, o mesmo fado. No início da emissão havia a curiosidade para perceber se Tio Tomás, A Contabilidade dos Dias, de Regina Pessoa, conseguia ou não a primeira nomeação portuguesa de sempre, mas agora já se sabe que o filme ficou de fora dos eleitos. Multipremiada desde a estreia, a curta-metragem de animação apresenta um homem, numa rotina do dia-a-dia do trabalho, e uma menina a quem ensina a desenhar na parede junto à lareira, com um pedaço de madeira queimada. O filme tem 13 minutos e foi feito em gravura animada, técnica habitual no trabalho de Regina Pessoa.
Todavia, apesar de Tio Tomás não ter sido nomeado e de A Herdade, de Tiago Guedes, nem sequer ter chegado à fase final da competição pela nomeação, há pelo menos dois portugueses na equipa do filme de animação Klaus, nomeado na categoria das longas-metragens: Sérgio Martins e Edgar Martins.
Os concorrentes lusófonos são encabeçados por Democracia em Vertigem, produção da Netflix realizada por Petra Costa, sobre a mudança política no Brasil e o processo de destituição da Presidente Dilma Rousseff, que fez parte da programação do festival IndieLisboa, em 2019.
A cerimónia dos Óscares acontecerá a 9 de fevereiro em Los Angeles, Califórnia, e não terá um apresentador anfitrião, repetindo-se o que aconteceu em 2019.
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