Este artigo tem detalhes do quinto episódio da última temporada da Guerra dos Tronos – os chamados “spoilers” –, pelo que se ainda não o viram, não continuem a ler. Ou continuem, se a vossa “cena” for ler bitaites sobre a série em vez de a ver. Aqui não julgamos ninguém.
Deixemo-nos de rodeios: o penúltimo capítulo da série mais popular de sempre foi uma carnificina. A certa altura, durante o episódio, Daenerys insinua-se a Jon Snow, perguntando-lhe se, para ele, ela é “apenas” a sua Rainha. Ele rejeita-a e ela declara: “Que seja medo”. E a partir daí começa a “matança”. Mas já lá vamos.
A questão é: será que “medo” é a palavra exata aqui? Provavelmente, sim. Foi. Mas não pelas razões mais óbvias.
Desde o momento em que a espada caiu sobre a cabeça de Ned Stark no final da primeira temporada da série que o “medo” se instalou sobre nós. Desde que Jon Snow ressuscitou que, pelo menos para mim, esse “medo” desapareceu.
Muitos de nós dedicaram 10 anos das nossas vidas a assistir aos episódios de todas as temporadas da Guerra dos Tronos. Apaixonámo-nos pela história e imprevisibilidade, pelos diálogos apaixonantes (como aquele entre Tyrion e Varys, no episódio passado, episódio esse que, aparentemente, eu fui uma das únicas sete pessoas a gostar). E nesta última temporada o “medo” voltou, mas por outras razões. Já não é medo de perder as nossas personagens favoritas; agora o “medo” é o de que as mesmas não tenham um destino condizente.
Tirando o mais-que-esperado Clegane-Bowl (que, noutros tempos, teria destaque num episódio só para si), alguém está satisfeito com o destino que foi dado a Varys, Jaime ou Cersei? Quando imaginámos a morte de personagens tão fortes como estas, foi assim que o fizemos? Não quero entrar na conversa mórbida da “maneira certa de morrer”, mas bolas!, assim? São personagens que mereciam mais.
Eu percebo a dificuldade de tentar condensar numa única temporada o destino de personagens que vão sendo construídas há uma década, com todas as suas particularidades. Mas uma personagem como Jaime Lannister não merecia que o seu destino fosse definido à pressa, entre uma noite de sexo de que se arrependeu, uma libertação concedida pelo irmão e uma reunião com Cersei que serviu, basicamente, para que morressem juntos.
E Cersei, talvez a personagem mais complexa, merece morrer num episódio em que não tem uma das suas frases míticas, em que não dispõe de um último ato (qualquer coisa!) em que todos nós, fãs, pudéssemos voltar a “vê-la”? Não. Houve choro, abraços e uma derrocada que a levou embora.
É difícil gostar deste destino. É difícil gostar deste “medo”.
A somar a tudo isto, temos um Tyrion que resolve “desaparecer” nesta temporada, uma Daenerys que sofreu uma viragem na sua personagem que, para muitos, não faz sentido e a contradiz, ela que dizia que não queria ser uma “Rainha das cinzas”.
Ao contrário do episódio passado, em que voltámos a ter pelo menos um diálogo entusiasmante e uma morte difícil de ultrapassar e um tanto ou quanto surpreendente (quantos de nós acharam que, do casal Grey Worm-Missandei, ela seria a primeira a morrer?), este teve o condão de não surpreender. Nem mesmo quando Daenerys decide ignorar o som do sino, sinal de rendição, e começar a tal “matança” de que falámos acima, assassinando milhares de inocentes aos comandos do seu lança-chamas voador. Quem acompanha a série e o que é escrito sobre a mesma temia que isso acontecesse. Sim, “temia”. E por isso não surpreendeu.
Posto isto, não sei o que o último episódio nos reservará. Talvez Arya, no seu cavalo branco (D. Sebastião, estás aí?) coberto de sangue, a desaparecer por entre um nevoeiro de cinzas, mude o seu alvo final de Cersei para a Rainha dos Dragões. Talvez Jon Snow se una a Tyrion para destronarem a tia-amante do primeiro. Talvez Sansa acabe no Trono de Ferro e Jon regresse à vida selvagem para junto de Tormund e Arya reconsidere e ache que uma vida de princesa ao lado de Gendry é, afinal, uma boa ideia.
Mas o “medo”, esse, já desapareceu. Resta-nos a tristeza – não pela morte de personagens, mas pelo caminho que uma série que acompanhamos há uma década escolheu seguir. Merecia mais e melhor. Merecíamos mais e melhor.
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