Em causa estão nove álbuns que o famoso autor de "Construção" gravou entre 1987 e 2001, quando os direitos de comercialização das suas músicas pertenciam à editora BMG, além de oito antologias produzidas durante aquele período.
O lançamento dessas músicas em plataformas como Spotify, Deezer e Apple Music foi anunciado pela Sony Music, que adquiriu o catálogo, como forma de celebrar os 75 anos do cantor, que se comemoraram na passada quarta-feira.
O anúncio foi feito quando a Sony terminou a digitalização de toda a produção de Chico Buarque.
A produtora também lançou hoje uma página interativa na internet sobre Chico Buarque e uma sala virtual, onde os visitantes podem obter informações sobre a carreira do compositor.
Os álbuns oferecidos nas plataformas vão desde "Francisco" (1987) a "Cambaio" (2001), fase que, segundo a Sony, "representa a maturidade musical de Chico Buarque como compositor, letrista e cantor".
Um dos álbuns divulgados é "Paratodos" (1993), considerado um dos mais importantes na carreira do cantor e que compreende "um conjunto de canções que se tornaram clássicos da música brasileira", como "Futuros Amantes", "De volta ao samba" e "Tempo e artista".
Entre as antologias divulgadas estão "Chico Buarque" (1989), "Chico Buarque Ao Vivo - Paris, Le Zenith" (1990), "O Melhor De Chico Buarque" (1997) e "Chico ao Vivo" (1999).
Francisco Buarque de Hollanda, com uma carreira musical de mais de cinco décadas, também se destacou no mundo da literatura como escritor de romances, contos, poesias, peças teatrais e livros infantis, com títulos como “Roda Viva”, “Gota d’Água” e “Ópera do Malandro”, "Chapeuzinho Amarelo", "Benjamim" e "O Irmão Alemão".
O compositor foi anunciado há exatamente um mês como o vencedor da edição deste ano do Prémio Camões, o principal prémio literário de língua portuguesa, que distingue o conjunto da obra.
Chico Buarque fora já distinguido com o prémio Jabuti, o mais importante prémio literário no Brasil, pelos romances “Estorvo”, em 1992, "Budapeste", em 2004, e por "Leite Derramado", em 2010, obra com que também venceu o antigo Prémio Portugal Telecom de Literatura (atual Prémio Oceanos).
Numa entrevista publicada hoje pelo jornal francês Le Monde, o músico e escritor brasileiro comentou a situação política do seu país, afirmando que a "cultura do ódio" se espalhou pelo Brasil.
"Ameaças existem, não necessariamente contra os artistas, mas contra a esquerda em geral, os gays, as minorias, as mulheres. Uma cultura do ódio espalhou-se pelo Brasil de uma maneira impressionante. Este ódio é alimentado pelo novo poder, o Presidente, os que estão à sua volta, os seus filhos, os seus ministros. (...) A cultura não tem o menor valor aos seus olhos. Dito isto, continuarei a viver no Brasil, não quero viver longe do meu país”, disse Chico Buarque ao Le Monde.
No entanto, apesar de declarar que não se quer afastar do país sul-americano, Buarque referiu que pediu recentemente um visto de longa permanência em França, onde tem uma casa há décadas.
“Hoje não estou no exílio. Estou aqui, a tentar escrever, a trabalhar em Paris, o que costumo fazer quando estou a escrever”, referindo que a situação atual que o próprio vive, é diferente daquela que o levou a um exílio na Europa, em 1969, na época da ditadura militar no Brasil.
O autor de romances como "Leite Derramado" e "O Irmão Alemão", acrescentou ainda ao jornal Le Monde que se encontra a escrever um novo livro, desde o início deste ano.
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