“Afinal a mulher tem uma alma grande e tem uma grande mensagem para dar ao mundo. Este prémio serve para despertar as mulheres e fazê-las sentir o poder que têm por dentro”, referiu a autora.
Chiziane foi a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, com “Balada de amor ao vento”, em 1990.
“Quando eu comecei a escrever, ninguém acreditava naquilo que eu fazia. Porque eram escritos de mulher”, referiu, numa alusão à temática do género, um dos fios condutores da sua obra.
Paulina Chiziane, 66 anos, confessou-se confusa com a notícia do prémio.
“Eu nem sequer me lembrava que o prémio Camões existia”, porque os confinamentos provocados pela covid-19 deixaram-na “bem fechada em casa, desligada de tudo”.
O prémio surgiu como uma surpresa bem-vinda.
“Uma surpresa muito boa para mim, para o meu povo, para a minha gente”, que em África escreve “o português, aprendido de Portugal”.
“E eu sempre achei que o meu português não merecia tão alto patamar. Estou emocionada”, acrescentou.
O seu último trabalho foi “A voz do cárcere” escrito em conjunto com Dionísio Bahule, lançado este ano, em Maputo, depois de ambos entrarem nas prisões e ouvirem os reclusos – ela a escutar as mulheres, ele, os homens.
“Há tantas ideias”, disse à Lusa sobre o futuro, ideias que “nem sempre o corpo consegue realizar”.
Mas pode ser que “este prémio seja um motor para eu me sentir um pouco mais de pé, porque às vezes fico cansada”, seja pela idade, referiu, ou pelo impacto “da covid, que impede tudo”, disse, numa alusão à pandemia.
Paulina Chiziane disse que o Prémio Camões pode ser “um alento novo”, um símbolo que de que a sua caminhada “valeu a pena” e de que “é preciso continuar a lutar”.
A escolha da escritora moçambicana foi feita por unanimidade pelo júri do Prémio Camões 2021, anunciou hoje a ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca.
A decisão destaca a “vasta produção e receção crítica, bem como o reconhecimento académico e institucional” da obra, segundo nota que anunciou a distinção.
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