[O Francisco tem 19 anos, estuda nos Países Baixos e está em viagem com um passe de Interrail que o vai levar por esta Europa fora e este é o seu diário de viagem publicado no SAPO24]

Dia 11 (19 de julho) Dica #13 para futuros viajantes - e esta é uma informação útil que percebi demasiado tarde: trazer sempre connosco um tupperware e talheres. Como o fato de banho, nunca sabemos quando, mas haverá uma altura em que vai ser necessário - quando só temos um pacote de noodles comprado à noite num supermercado, quando sobra comida no restaurante, quando a tia-avó polaca da companheira de viagem faz uns pierogis para o caminho. É indispensável e não pesa.

Honestamente, Berlim é uma cidade onde me vejo a viver, pela vivacidade, pela cultura, pelo ambiente. Desde que não tenha de regressar ao A&O Berlin Kolombus, de onde saímos pelas 11:00, muito felizes por não termos de ficar mais nem uma noite (afinal, 25€/noite por pessoa é dinheiro deitado à rua).

Começa o evento e o calor atípico de Berlim só é atenuado pela água geladinha do frigorífico da sala

A caminho da nova "casa", vejo uma Humana, cadeia de lojas de roupa em segunda mão com descontos incríveis. Conhecia em Lisboa e no Porto, mas não sabia que existia noutros países. Lamento não ter tempo para entrar, mas ao meio-dia espera-nos o meet-up da DiscoverEU, com um pequeno lanche para os participantes: frutas, uma sanduíche de galinha, água, uma barra de cereais - mais do que o suficiente. Preparo numa folha de papel uma breve introdução sobre quem sou.

Começa o evento e o calor atípico de Berlim só é atenuado pela água geladinha do frigorífico da sala. Há envelopes espalhados no chão pelas organizadoras, temos de escolher um para nos descrevermos. Uma ronda de introduções (bem divertida) sobre detalhes e regras para o meet-up, incluindo questões logísticas. Algum team building, exercícios para trabalhar em conjunto e descobrir mais sobre a viagem de Interrail.

Divididos por grupos, dá a impressão de nos termos escolhido a dedo. Amelia e eu falamos com Zet, uma polaca muito simpática que vai fazer o Interrail no ano que vem e quer estudar medicina em Itália. Por falar em Itália, há um grupo de sete italianas que viajam juntas e fazem tudo juntas. Os embaixadores DiscoverEU - Ines, Anna, e Nils -, que fizeram o Interrail no ano passado, parecem dar-se lindamente. Junta-se uma grupeta gira.

E chega uma pausa para conhecermos os quartos onde vamos ficar. Amelia fica com três italianas, eu com um finlandês, Pavel, e um sino-alemão, Wenjiu. O quarto é muito melhor do que qualquer hostel partilhado em que tenhamos ficado antes. E é grátis, yes, please!

Segue-se uma visita opcional à East Side Gallery, 1,3 quilómetros (mais precisamente 1.316 metros) com a história da queda do Muro de Berlim

Aproveito para tomar um banho antes de sair. A pizza Prosciutto espera-me no Tasty, o restaurante onde vamos jantar. De início fiquei reticente com o nome, mas a pizza não é má, embora nada tenha a ver com a verdadeira - os italianos concordam. 

Segue-se uma visita opcional à East Side Gallery, 1,3 quilómetros (mais precisamente 1.316 metros) com a história da queda do Muro de Berlim (9 de novembro de 1989). Não vou.

Não vou? Claro que vou. Eu e quase todos os outros. Alex e Kathi guiam-nos quase como duas tutoras de uma turma do secundário. Mas gosto delas; Alex mais aberta a conversas, mais afável (e ruiva, como eu), Kathi mais tipicamente alemã, séria mas cordata e pronta a ajudar. Complementam-se muito bem.

Chegamos à East Side Gallery e deparamo-nos com pinturas de artistas de dezenas de países, incluindo de Portugal

Chegamos à East Side Gallery e deparamo-nos com pinturas de artistas de dezenas de países, incluindo de Portugal. Nota-se alguma fadiga no grupo, muitos vêm de longe, outros estiveram a festejar no dia anterior. Decidimos passar o resto da noite na Uber Platz (chama-se assim por causa da empresa de transporte de passageiros), sentados a ouvir artistas de rua enquanto bebemos iced teas e cervejas comprados num supermercado perto, uma maneira bastante comum de os locais passarem a noite - num clube, num parque ou a ver o rio, não há tempos mortos.

As minhas expectativas para este meet-up não eram muitas: tudo oferecido, 30 pessoas, um horário cheio até à medula. Mas está a ser brutal. Zet tem imensa graça. Parece introvertida, mas o sentido de humor e a maneira de agir são cativantes. Amelia também gosta dela - ambas têm em comum o facto de terem um pai fotógrafo e serem (pelo menos em parte) polacas. Outras pessoas se aproximam de nós: Sofia, da Grécia, Simone, de Itália, Laura, dos Países Baixos e Bolívia.

Pelas 23:00, todos temos vontade de voltar ao hostel. Alguns já o fizeram. O artista de rua não ajuda - parece que só conhece músicas de embalar. Regressamos de autocarro e preparamo-nos para dormir - amanhã o dia começa às 10:00, depois do pequeno-almoço, com um workshop sobre participação política. Fico na conversa com os embaixadores, que contam a sua experiência pessoal de Interrail - Anna visitou Lisboa e diz que foi a sua paragem predileta. Distraio-me e esqueço-me do tempo. Ups, uma da manhã. Se amanhã quero ter energia, o melhor é mesmo ficar por aqui.