[O Francisco tem 19 anos, estuda em Maastricht e viajou com um passe de Interrail que o levou por esta Europa fora — Áustria, Polónia, Chéquia, Hungria, Alemanha e Países Baixos — e este foi o seu diário de viagem publicado no SAPO24]

Dia 16 (24 de julho) Epílogo. Dica 18# (e última) para futuros viajantes: visite pelo menos um lugar novo todos os anos. Viajar é sair da rotina, experimentar coisas diferentes e tenho a certeza de que faz bem à saúde. O meu Interrail termina aqui, mas posso garantir que vou continuar a querer conhecer mundo. 

O dia começa como quase todos os dias desde que esta viagem se iniciou. Com uma diferença: eu fico, Amelia continua. Acordamos cedo, vamos até à estação e despedimo-nos. Aceno um adeus enquanto entra no comboio — que-por-acaso-é-um-autocarro-porque-o-comboio-de-Maastricht-para-Aachen-foi-cancelado. Em Aachen apanhará o comboio para Munique e daí, finalmente, seguirá para Graz, na Áustria, onde deverá chegar já noite.

Sem querer, Amelia levou consigo algumas coisas minhas, nada importante. A saudade instala-se instantaneamente

O ambiente é agridoce. Não chove, a manhã está agradável — o tempo é instável nos Países Baixos, num minuto chove copiosamente, momentos depois o sol brilha, quente. Sem querer, Amelia levou consigo algumas coisas minhas, nada importante. A saudade instala-se instantaneamente.

É engraçado, já contei como nos conhecemos e nunca tínhamos estado juntos até aqui, mas a verdade é que não nos fartámos um do outro ao longo da viagem. E não faltaram oportunidades para haver discussões, amuos, separações. Mas, simplesmente, não aconteceu. Soubemos sempre comunicar as nossas vontades e recuperar dos momentos mais frustrantes, como a perda do comboio em Viena ou a tarde para esquecer em Budapeste. Animámo-nos um ao outro. Pergunto-me como teria sido fazer o Interrail a solo ou, ao contrário, com quatro, dez amigos. 

Uma coisa aprendi, é importante ter o/a companheiro/a de viagem certo. Amelia foi essa pessoa, interessante e também divertida — e não escrevo isto só porque sei que ela vai ler (obrigado, Amelia, por me teres aturado ao longo destes quinze dias de viagem).

Com franqueza, pensei que ia gastar muito mais, cerca de 1.000€. E ainda acredito que é um valor sensato para duas semanas

Em frente do computador, ponho-me a magicar. Por onde começo esta crónica, a última de uma série de 18? Dou uma vista de olhos à minha conta bancária, é final do mês e tenho de pagar a renda. Percebo que gastei no Interrail menos dinheiro do que esperava. Faço as contas mentalmente: reservas de comboio, alojamento, alimentação, cerca de 600€ no total. Amelia terá gasto sensivelmente o mesmo.

Com franqueza, pensei que ia gastar muito mais, cerca de 1.000€. E ainda acredito que é um valor sensato para duas semanas (16 dias). Como foi possível? Bem, é preciso lembrar que não tivemos de pagar duas noites em Cracóvia (casa de família), mais duas em Berlim (a cargo da DiscoverEU) e mais duas em Amesterdão (casa de amigos) — em Maastricht, Amelia ficou em minha casa. Só aqui poupámos muito dinheiro, não apenas nas dormidas, mas também em alimentação.

Ao longo da viagem, comemos quase sempre em restaurantes (baratos, mas ainda assim restaurantes). Podíamos ter optado por cozinhar nos hostéis em que fomos ficando, algo que por vezes (nem sempre!) é possível, ou até ter optado por comprar comida de supermercado.

Depois desta experiência, o meu conselho para qualquer viajante é contar com um orçamento de 75€ por dia

No bolo de 600€ (cada um) está, além da alimentação, a fatia que coube a atividades lúdicas, como entradas em museus ou passeios de barco, e a fatia dedicada a lembranças — também aqui não fizemos nenhuma extravagância, até porque teríamos de carregar com ela o resto da viagem, algo a ter em conta. Quando leu que estive vai não vai para comprar a máquina dispensadora de wafers Manner, e foi logo em Viena, a pergunta da minha mãe foi imediata: "E como vai carregar isso na viagem?" "Ao colo, como um bebé", foi a minha resposta, mas, claro, as mães têm (quase) sempre razão.

Depois desta experiência, o meu conselho para qualquer viajante é contar com um orçamento de 75€ por dia: 20€ para alojamento, 20€ para alimentação, 20€ para atividades/lembranças, 10€ para transportes locais e uma almofada de 5€ para emergências (não haverá uma emergência — ou devaneio — por dia, esperemos). Estes são números de um estudante habituado a contar tostões — pode não dar para grandes maluqueiras, mas também ninguém passa mal.

A verba diária também depende do itinerário, o custo de vida não é igual em todos os países; visitar Londres ou Paris é certamente mais caro do que Zagrebe ou Varsóvia.

Se podia ter feito mais? Podia, mas não seria a mesma coisa. Talvez a conclusão seja mesmo essa: uma viagem não sacia, mas alimenta a vontade de fazer outra e outra e outra.  

Finanças à parte, Amelia acaba de me enviar uma mensagem a dizer que um dos seus comboios (alemães!) está atrasado, comprometendo a sua próxima transferência. Ui. Assegura-me que fez uma reserva para um comboio alternativo. É mais um par de horas, mas deve resolver o problema. Suspiro de alívio. Queixa-se ainda de não ter quem a ajude a carregar a sua mochila pesadíssima para o compartimento certo... Ah pois!

Entre uma coisa e outra, as notificações do grupo de Berlim não param: mensagens e fotografias de cada um a chegar a casa ou num novo lugar desta União Europeia. Fico contente por ter conhecido estas pessoas — e não foram poucas, de Edward, o britânico que vai com o seu melhor amigo estrada fora (Zagrebe, Veneza, Paris), a Zet, a polaca que só fará o Interrail no próximo ano e que quer estudar medicina em Itália.

Se podia ter feito mais? Podia, mas não seria a mesma coisa. Talvez a conclusão seja mesmo essa: uma viagem não sacia, mas alimenta a vontade de fazer outra e outra e outra.  

Por agora, tenho muito que fazer em Maastricht: os meus amigos vão indo e voltando das suas férias e é a altura perfeita para nos reunirmos à volta de umas cervejas e vinhos; o restaurante buffet de sushi onde trabalho umas horas está cheio de turistas belgas à espera do seu sashimi e, last but not least, ainda tenho de pensar nas cadeiras que vou fazer no próximo ano letivo.

E chega a hora de terminar este diário e agradecer ao SAPO24 a oportunidade que me deu de publicar estas crónicas — que, espero mesmo, animem outros estudantes a viajar e a conhecer esta Europa tão fantástica. A todos, boas viagens.