SEGUNDO NASCIMENTO (1966-1974)

1 - EMERGE VERA LAGOA

Através de um pequeno acontecimento – fugaz e quase obscuro – antevê-se o futuro de Maria Armanda como jornalista. Trata-se da primeira vez que mostra os seus escritos a alguém. Situamos este episódio nos finais dos anos 1930, início dos 1940: «A primeira pessoa que um dia imaginou que eu poderia vir a ser jornalista foi um velho amigo de Moçambique. Era advogado e chamava-se Alberto Moreira. Estava eu numa noite de Lourenço Marques, uma daquelas noites em que esperamos que nos aconteça alguma coisa (em África esperamos sempre alguma surpresa, esperamos sempre que a felicidade nos bata à porta, esperamos até o impossível), quando o impossível aconteceu. Teria uns vinte e três anos, rabiscava num papel certas observações que tinha feito e mostrei-as ao Alberto Moreira.»13456789 Vera Lagoa descreve o que se passa de seguida e que a surpreendeu verdadeiramente: «Não é que o homem pega no papel e desata a correr pelas ruas para levar “aquilo” ao “Notícias”? O de lá. (...) Fiquei aterrorizada. Por minha vez, corri pelas ruas até apanhar o Alberto e rasguei o papel. Hoje, procuro, com certa curiosidade, rememorar o que tinha escrito. Passou-me completamente da ideia. Tenho pena. Talvez o tivessem aceite. Talvez tivesse começado então, sem querer, o que mais tarde decidi por vontade própria.»2

Também Lello Portela3 (que mencionámos acima a propósito de Natália Correia) lhe oferecera em tempos idos um lugar no seu jornal, O Sol: «foi um homem que acreditou em mim. Num talento que ele dizia existir e que eu não encontro.»4

Anos mais tarde, Marvine Howe, jornalista americana correspondente do The New York Times em Lisboa desde 1956, também a aconselha a escrever. Mas a escrever como falava. E Maria Armanda diz que, nessa altura, se fartou de rir e repetiu-lhe o que sempre ouvira da boca de toda a gente relativamente aos seus dotes profissionais: «Que era uma óptima (vejam bem) secretária, mas que não tinha talento para escrever.» Veio a saber depois que Marvine Howe não se conformou com a resposta simples de Maria Armanda a qual, quase imediatamente, terá esquecido o assunto.5

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O primeiro contacto de Maria Armanda com o mundo dos jornais foi no Diário Ilustrado e podemos dizer que não foi uma experiência simpática, segundo o relato da própria.6 Corre o ano de 1956, Maria Armanda está a trabalhar na Redex e é desafiada por Miguel Urbano Rodrigues7 para trabalhar como secretária da direcção naquele periódico, que iria ser lançado brevemente. Apesar de saber que o ordenado era inferior ao que estava a ganhar na Redex, Maria Armanda aceitou o desafio, visto que Miguel Urbano Rodrigues «precisava de uma pessoa da sua confiança (sobretudo que fosse bonita, e lá chegaremos) para secretária do director do jornal. O director era um bom rapaz – dizia ele –, mas fraco e precisava de uma mulher de pulso a seu lado». Maria Armanda aceita o lugar, não «para dominar o director», Carlos Branco, mas sim para ser essa pessoa de confiança e permanecer-lhe fiel: «Aceitei o lugar e creio que o desempenhei como devia. Carlos Branco (...) teve confiança em mim. E não teve motivos para se arrepender.» Segundo relata, Maria Armanda percebe porque é que a secretária tinha de ser essa mulher firme: pretendia-se que ela ultrapassasse as ordens do director e que, por exemplo, redigisse contratos de compra de artigos que este não aprovara. «Não estava no acordo que fosse estúpida e vil. Como não estava no acordo, cumpri com o meu dever para com o director, zelando pelos seus interesses». Quando confrontada com esta atitude por Miguel Urbano Rodrigues, que lhe pergunta se ela está por ele, Maria Armanda responde-lhe: «Sou por ti, mas não sou uma traidora.» Então, Miguel Urbano exige a sua saída alegando que «Maria Armanda era uma mulher perigosa, de esquerda e filha de um deportado político!».

Sobre este caso, pelo seu lado, Miguel Urbano Rodrigues diria (já depois do 25 de Abril e acossado por Lagoa): «Aquela mulher foi sempre um saco de problemas. Se não era uma coisa era outra...» Afirmava que Maria Armanda havia sido contratada «apenas para endereçar envelopes e apenas para isso», o que, na verdade, parece inverosímil. Miguel Urbano desfia ainda um rol de acusações que chegam até a ser pouco elegantes para explicar o inexplicável: fez com que ela fosse despedida.8 Mas a história não termina aqui. Um dia após a saída de Maria Armanda, Miguel Urbano Rodrigues, coloca no jornal uma secção especial para os desempregados: «Nós, como lamentamos muito a situação dos desempregados, a partir de amanhã publicaremos gratuitamente o anúncio das pessoas que pretendam trabalhar.» Maria Armanda é a primeira a responder! «E eu não dormi toda a noite a pensar na hora de entregar a minha carta. A porta do jornal a abrir e eu a entregar a resposta ao n.º 1.» Eis o anúncio: «Ex-secretária da direcção deste jornal, com as melhores referências, procura situação compatível. Resposta ao n.º1.» Como seria de esperar, a carta de Maria Armanda Falcão gera grande celeuma dentro do jornal, uma vez que fora despedida no dia anterior! «Bem, havia uma reunião, eles não sabiam se haviam de publicar se não, mas acharam que tinha de haver um mínimo de fair play e então publicaram. O primeiro anúncio foi o meu. Claro, dali não me veio emprego nenhum, mas tempos depois empreguei-me; eu sabia trabalhar...»9

A sua passagem pelo Diário Ilustrado deu-lhe a conhecer a vida apaixonante do jornalismo, «E foi por isso que fiquei sempre com a ideia de que gostaria de trabalhar num jornal. Mas nunca como secretária, pois se há coisa de que eu esteja farta é de ser secretária. Prefiro lavar roupa, esfregar panelas, do que ser secretária. É a profissão que mais detesto e que desempenhei sempre. Parece que até era boa secretária...»10 Um dia, num amanhecer mais inspirado, talvez recordando o que Marvin lhe dissera, Maria Armanda resolve tomar uma iniciativa: «E se experimentasse escrever? Uma cronicazita, uma despretensão qualquer.»11 E escreve.

No momento de escolher a quem entregaria a primeira crónica, Maria Armanda decide-se pelo Diário Popular, que, com uma tiragem de 130 mil exemplares por dia, fazia jus ao seu nome.12 Era um jornal que tinha como director Francisco Pinto Balsemão, um homem novo, dinâmico, que imprimia ao seu jornal um cunho especial. Era um homem que, inspirado nos jornais ingleses, promoveu, por exemplo, reportagens aprofundadas sobre cidades portuguesas; organizava mesas-redondas sobre temas específicos e convertia o resultado em texto e em artigos publicados. Organizou também, dentro do jornal, áreas editoriais temáticas, promoveu reuniões diárias da redacção, contratou jovens repórteres e impulsionou jornalistas a procurarem os seus temas. Balsemão desafiou, em 1965, gente como Agustina Bessa-Luís, Ruben A., Miguel Torga ou Sophia de Mello Breyner Andresen a escreverem regularmente no suplemento literário. Como relata Fernando Dacosta: «Balsemão, acho que foi ideia dele, [decidiu] criar um grupo de grandes repórteres a começar por Urbano Carrasco, um repórter extraordinário, com quem eu aprendi muito! (...) havia um grupo de cinco ou seis que não estavam na redacção. Estavam frequentemente fora (...) e depois os jornalistas, quando chegavam, não iam para o jornal. Havia uma vivenda na Costa da Caparica, uma espécie de hotelzinho de charme, para onde eles iam para escrever as reportagens. Veja o avanço que isto representava para a época! Quando ouço contar que eles não saíam... Agora é que não saem!!!»13

Francisco Balsemão era, Maria Armanda sentia-o, um homem de espírito aberto, que estava disponível para receber propostas inovadoras, por isso marca uma reunião para lhe apresentar a sua ideia, relata: «O coração saltava-me do peito. Era justamente esse coração que me impelia, que me forçava a mudar de carreira numa altura já um pouco tardia da minha vida.»14 Balsemão percebe o potencial de Maria Armanda, entrevê-lhe uma sensibilidade e uma perspicácia fora do comum para apreender os tiques e as nuances das relações humanas, quer em meios elegantes, quer em meios desfavorecidos. Aposta na sua capacidade para compreender rapidamente vaidades, conflitos, amizades, simpatias ou solidariedades. A comunicação desses ambientes, das rivalidades e trivialidades, dos dramas pessoais ou comunitários, seria o seu trabalho como cronista. O então director do Diário Popular acertou em cheio no alvo, na medida em que se apercebeu do talento de Maria Armanda e soube ver nela uma novidade no meio jornalístico e social português.

Assim, fica acordado que Maria Armanda Falcão faria três crónicas por semana, e que passariam, logo que possível, a ser diárias (o que nunca chegou a acontecer). No entanto, Francisco Balsemão pede-lhe que encontre um pseudónimo, pois considera que o seu nome «não tem força». É então que Maria Armanda decide que o primeiro nome deve ser Vera15, como sugestão de verdade, definindo o tom que, afinal, pretende dar aos seus textos. E depois? Que apelido escolher? «Foi então que surgiu a tal história do Sttau, que estávamos a jantar em casa do Francisco Veloso e estava o Sttau e eu disse-lhe que queria, que precisava de um pseudónimo, mas não tinha jeito nenhum para o descobrir. E ele disse: “Mas o que é que estamos a beber? [Vinho] Lagoa? Ficas Lagoa!”...!»16 Por isso, Francisco Pinto Balsemão, mas também Sttau Monteiro, seriam os «padrinhos» de Vera Lagoa.17 Mais tarde, Maria Armanda teria de justificar o uso do pseudónimo: «Não foi com intuitos de fugir a responsabilidades, mas por ser um nome de mais fácil divulgação o meu nome era menos expressivo. E até porque penso que não é o nome que faz o escrito, mas sim o escrito que faz o nome. A repercussão teria sido a mesma se eu tivesse assinado Maria Armanda Falcão.»18

Maria Armanda revela também que se esquecera de combinar o título da coluna «E quando saiu a primeira[crónica], ainda era o meu neto mais velho bebé, estava a passeá-lo de carrinho na Caparica e compro o Diário Popular e vejo “Bisbilhotices”. Afundei-me nessa altura. Fiquei desmoralizadíssima.»19 Ela sabe que as palavras têm consequências, porque, afinal, quem escreve sobre bisbilhotices? Uma bisbilhoteira... O peso desse título far-se-ia sentir durante todo o período em que a coluna foi publicada (e não só). Apesar de muitos dos textos serem muito mais do que simples crónicas mundanas, a etiqueta cola-se-lhe à pele. E, como tem um humor apurado, Vera Lagoa aproveita para, de vez em quando, fazer jus ao nome, como na crónica de 18 de Maio de 1967: «Transcrever uma carta recebida é uma bisbilhotice. Uma autêntica bisbilhotice. Mas alguma vez eu havia de justificar o título da minha secção.»20 Reafirma (sempre que pode) que não gosta do título: «A palavra bisbilhotice põe-me em picos. O que eu gostaria que fossem – de resto estava assim combinado com o Dr. Balsemão – seria, sem imitar, porque o género e o ambiente são completamente diferentes – umas crónicas do género de Carmen Tessier, do “France Soir”. Como o título dela é “Les potins de la commère”, procurámos um título que tivesse o mesmo significado. E embora eu não goste do título, também não encontro outro para a minha coluna e esse [título] “bisbilhotices” ficou.»21

No dia 18 de Março de 1966, Vera Lagoa publica a sua primeira crónica no Diário Popular, cujo subtítulo é «Jorge Amado, “croquettes” e canções...». O assunto era a segunda visita do escritor brasileiro a Lisboa. A editora pretendeu colocá-lo em contacto com o «meio intelectual, literário e artístico português»22 realizando uma grande recepção: «Intelectual, literário e artístico é uma forma de expressão... pois entre os convidados predominavam pessoas só lateralmente ligadas à “inteligentzia” portuguesa. Foi talvez por isso que naquela recepção os intelectuais e escritores presentes não tiveram oportunidade sequer de se abeirar do grande escritor brasileiro...»23 «Nascia» Vera Lagoa, a mulher de quem todo o país iria falar nesse final de década. Tinha início uma das carreiras mais fulgurantes, e provavelmente a mais inesperada, no jornalismo em Portugal. Surge como uma pedrada no charco. É uma nota de frescura no panorama jornalístico e um vendaval de que todos querem estar a par (e de que muitos têm receio). Porque quem compra o Diário Popular, até pode não comprar o título por causa de «Bisbilhotices», mas a primeira coisa que vai ler é esta secção. Quem o diz é Maria da Luz Moita: «Era uma novidade, porque não havia muito, não havia redactores com o carisma dela! Porque ela não era só aquilo que escrevia, os textos nem eram nenhumas obras[-]primas... era a presença dela. E depois, era a má-língua... Porque ela atacava as pessoas, não tinha pejo nenhum, ela embirrava com uma pessoa e “descascava-a” e punha ali tudo, chamava-lhe pirosa, chamava-lhe tudo, não fugia a nada! Expunha-se e expunha a pessoa, não é?... e punha a pessoa de rastos. E toda a gente lia! Por exemplo, na própria redacção do Popular, que achava que as crónicas dela eram “uma porcaria”, o chefe de redacção dizia mal, mas depois, a verdade, é que aquilo era a primeira coisa que as pessoas iam ler...! Isso é que interessava!»24 E é a própria Vera Lagoa que explica: «Porque enveredei por aí? Bem! Não havia o costume de indicar as pessoas de per si e tanto eu como o jornal estávamos certos de que iríamos ao encontro do gosto do público. Porque o público gosta mesmo de saber o que se passa com as pessoas. Não por bisbilhotice, mas por interesse real.»25 Sobre a sua maneira de escrever, Lagoa era, no entanto, humilde: «Há quem diga que pretendo, quando quero escrever a sério, ser a Simone de Beauvoir portuguesa. Gostaria sim, mas falta-me talento e cultura.»26

Maria da Luz Moita fica fascinada com Vera Lagoa: «Entrava lá [no Diário Popular] com o seu ar, com as suas capelines, com os seus luxos e ficava tudo de boca aberta, tudo a olhar, sempre muito importante, era uma primeira figura! Era um espanto! Ela foi sempre uma primeira figura.»27 A ligação entre a antiga redactora do Diário Popular e Vera Lagoa começa nessa época com uma pequena história. Maria da Luz entrara para o Diário Popular num período experimental: «Quando eu comecei a escrever à máquina na redacção do Popular, ficou tudo parado a olhar: “Mas o que é isto?” (...) naquele tempo em que havia carretos, era tão bom! Teclava a uma velocidade que os outros paravam para ouvir! Aquilo era uma sinfonia!»28 Por isso é contratada imediatamente, mas com um ordenado modesto. Publica, anonimamente (e contra o regulamento do próprio jornal), quase todos os dias, na secção «Um conto por dia». Os textos eram bem pagos e Maria da Luz tinha, assim, um dinheiro extra. Acabou a publicar contos quase todos os dias. Até que começaram a tentar perceber quem eram os seus autores: «Quando descobriram que aqueles contos eram meus, ofereceram-me um lugar na redacção...» Isto chegou ao conhecimento de Vera Lagoa, que admirou a audácia de Maria da Luz e, por isso mesmo, quando vai semanalmente ao Diário Popular, dirige-se sempre a Maria da Luz Moita: «Vinha-me sempre falar e eu ficava muito satisfeita, mas claro, eu reduzia-me à minha insignificância, nunca tentei nenhuma espécie de confiança com ela... A D. Vera Lagoa era a D. Vera Lagoa e tinha outro estatuto, claro.»29 E a relação das duas teria contornos futuros, como veremos.

A entrada de Vera Lagoa no Diário Popular não é, no entanto, consensual. Urbano Carrasco foi um dos jornalistas do Popular que não a acolheu, não simpatizou e contestou a sua admissão, mesmo sendo ela apenas uma colaboradora do jornal. A autora da secção «Bisbilhotices», atenta e perspicaz, apreendeu de imediato esta reacção. Vera confessa que o receava porque sabia bem que «era um dos que se opunha a que entrasse para o jornal»30 e, além disso, Urbano Carrasco era um jornalista muito considerado. Um jornalista que assinou reportagens que deram muitas primeiras páginas memoráveis (sobre Israel, Angola ou Índia). Um homem que tinha a fama de resolver, de improviso, inesperada e competentemente, qualquer problema. Umas das suas histórias mais célebres é a que diz respeito a um convite da NATO a jornalistas portugueses para fazerem uma reportagem sobre uma viagem num dos seus aviões. Urbano causou sensação ao entrar no aparelho levando várias gaiolas com pombos. Chegados ao destino, os jornalistas tiveram de se apressar para conseguirem comunicar rapidamente às redacções dos respectivos jornais os seus textos. Urbano não se preocupou minimamente: bastou-lhe enviar os pombos e a sua reportagem chegou à redacção do jornal antes de todas as outras...31 Possivelmente, por saber da antipatia do jornalista por ela, Vera Lagoa arquitectou uma forma de contornar a situação em seu favor: «Imediatamente passei a consultá-lo, a procurá-lo para me aconselhar, para me ajudar a ser jornalista.»32 Ele julgava-a apenas vaidosa, mas verificou que Vera Lagoa sabia que, para ser profissional, era necessário trabalhar e que estava ali para aprender. Dacosta diz – e Sara Ferro confirma – que ela tinha uma grande capacidade de trabalho, era muito profissional, e que Urbano ficou espantado com essa competência. Por isso, ele deu a mão à palmatória algum tempo mais tarde, quando lhe confessou precisamente este facto. Estavam em Viseu, para onde tinham ido em reportagem e, em conversa amena, diante de um chá e de uma lareira, Urbano diz-lhe: «Você sabe que um bom repórter como você e eu (!) não precisa de se deslocar para encontrar o acontecimento. Ele vem ter connosco. Vai ver. Os outros saíram cheios de blocos, cheios de frio. Nós ficámos aqui. E dentro de uma hora, a cidade sabe que aqui estamos e vem ter connosco. Teremos assim o acontecimento à nossa procura.»33 Mais lhe dizia: «Não te preocupes. Chegas lá. Porque das duas uma. Ou se tem tarimba, ou se tem talento.»34

Vera Lagoa tinha um talento inato: era rápida na apreensão das coisas e, por isso mesmo, como nos diz Carlos Pissarra: «Foi assim que ela se tornou também muito informada, porque ela realmente captava tudo. Mas não entrava no fundo da questão...»35 Simplesmente, apreendia e escrevia. Tinha aquele tipo de cultura intuitiva, como descreve Fernando Dacosta: «O intuitivo é uma forma superior de conhecimento, porque não mete muito o raciocínio; o raciocínio estraga as coisas porque não as apanha em amplidão. Esta gente grande – até o Sena dizia que o racional só serve para nos levar ao irracional – portanto, a Maria Armanda, era um caso de intuição como era a Amália, a Natália, um pouco esotéricas... A Maria Armanda não enveredou muito por esse campo, que eu saiba, do esoterismo, nem do espiritismo, ao contrário da Natália e da Fernanda de Castro... Ela era mais terra-a-terra... E era culta!!! Ela podia não ser erudita – o erudito é aquele que tem conhecimento acumulado para mobilar, o outro não, é para ajudar a pensar. (...) Porque não se pode confundir informação com conhecimento. Hoje, há muita informação e pouco conhecimento... é uma grande carneirada. Ela não, ela conhecia! Ela era sábia! Muita gente tem muita informação, tirou cursos etc., mas não é sábia porque não é capaz de elaborar nada. É um armazém de informação e depois, normalmente, essa gente se tem boa memória, faz um figurão... mas só estão a largar fichas. Sem nada dela própria. Já a Maria Armanda sabia que podia outro tipo de coisas, era muito dotada!»36 E Carlos Pissarra acrescenta: «Ela não estudou. Fez a 4.a classe. Ela lia, sim, mas ela era uma mulher muito curiosa, muito viva, muito esperta. Tinha uma memória prodigiosa e a sua capacidade de apreender as coisas, de absorver as coisas, era fora de série. Portanto, ela falava de tudo e de nada, e tudo aquilo com expressão de mulher muito informada. (...) Ela lia. Lia muito, mas eu tenho sempre ideia que ela lia tudo muito na diagonal. Mas isso é uma arte também...»37

Vera Lagoa
créditos: Oficina do Livro

2 - COMO E SOBRE O QUE ESCREVE VERA LAGOA?

Vera Lagoa escreve. Escreve «furiosamente», no sentido em que a sua pena – ou melhor, a sua inquieta e sonante máquina de escrever Olivetti – mordaz, assertiva, bem-humorada, realista, mas também triste ou emocionada, leva os seus leitores numa viagem por mundos que eles desconhecem ou aos quais não têm acesso. A linguagem é coloquial. Nova. Fresca. Muito inesperada. Mesmo quando fala de temas mais sérios. Ninguém sabe sobre o quê ou sobre quem é que Vera Lagoa vai escrever na próxima crónica... A curiosidade do público é aguçada por subtítulos expressivos feitos, muitas vezes, de trocadilhos inteligentes. Usa de tudo: títulos de filmes, provérbios, frases feitas...

Com a sua eloquência e sentido de observação, percorre todas as classes sociais. Não esquece nenhuma, nem para criticar nem para elogiar. Os seus textos têm um carácter muito próprio. A inspiração vem de onde menos espera. Usa em seu benefício, e para gáudio do leitor, a sua inata atenção às coisas e às pessoas. Impacto, novidade, curiosidade e polémicas, os dois primeiros anos de escrita são decisivos na vida, na popularidade e na fama que Vera Lagoa granjeou em Portugal. No fundo, era a pessoa certa para o lugar certo: nada lhe escapa, nem a criança abandonada, nem os «maduros» que miram as pernas das turistas no Rossio. Dos importantes membros do Governo aos pretensiosos que frequentam as noites do São Carlos. Todos são escrutinados. Mas os seus interesses vão mais além. Lagoa fala de teatro, de ópera, de literatura, de artes plásticas. Conhece os meios e os artistas, contacta com o fechado e exclusivo mundo da «melhor sociedade» e desvenda, perante os nossos olhos, os detalhes e as idiossincrasias de cada grupo social.

Uma das razões do seu sucesso (e impacto) é o facto de nomear as pessoas. Não era costume fazê-lo. Vera Lagoa nomeia os elegantes e os lojistas, os cabeleireiros e os artistas, as empregadas de balcão e os empregados de restaurante. Estes últimos têm especial consideração por ela: «Há uma camada em que tenho muita popularidade e em que não sinto qualquer adulação, em que mesmo que eu não fosse a Vera Lagoa e não tivesse uma secção chamada “roteiro dos restaurantes”, seria igualmente considerada. São os empregados de restaurantes. Eles estavam praticamente esquecidos, trabalhando uma vida inteira sem nunca terem merecido uma citação. As pessoas acham o meu “roteiro” fútil, mas se eles são bons funcionários, devem sentir-se compensados. E não precisam de bajular para se mostrarem reconhecidos. Depois, não me coíbo de apontar os defeitos de outros do mesmo ramo. Uma referência desta natureza tem uma importância muito maior que a do anúncio pago, que diga que o restaurante é o melhor do mundo.»1

Vera Lagoa considera-se uma das poucas mulheres do país que não precisa de inventar histórias porque «quando quer» vive-as…2 Raro é o dia em que não lhe acontecem coisas «extraordinárias e importantes». Basta-lhe, como ela mesma afirma, sair de casa e ir até à Baixa: «Bem sei que para mim a paisagem humana é que é extraordinária e importante.» Relata, como exemplo, o que se passou quando apanhou um táxi e ouviu o chauffeur dizer que já tinha feito vários serviços para ela, não olhando, sequer, pelo retrovisor. Admirada, Vera Lagoa perguntou: «“Se não me está a ver, ou se me viu só à entrada, como pode lembrar-se?” E ele: “Conheço-a pelo perfume.” Claro que não podia deixar de lhe lembrar que dezenas de mulheres perfumadas entravam no seu táxi durante o dia. Respondeu: “Pois é. Mas aqui, na área, só a senhora é que usa esse perfume. Pode parecer-lhe mentira, mas é certo que fixo o perfume das pessoas e isso faz com que me lembre delas.” Foi uma coisa pequena, um pequeno acontecimento. Mas eu sorri, ele sorriu, despedimo-nos com simpatia e... farei o possível por não mudar de perfume (...). E há pessoas que dão a volta ao Mundo e não lhes acontece nada!»3

Através das suas crónicas altera-se a ideia, que nos é passada frequentemente, de que Lisboa era, simplesmente, cinzenta. Não é verdade. Era simultaneamente insólita, provinciana, cosmopolita, elegante, pobre e encantadora. Lisboa, a começar pelas redacções dos jornais, seria uma cidade viva, como nos diz Fernando Dacosta: «Era um ambiente muito divertido. (...) Lisboa era fabulosa, os cafés estavam abertos até às 4, 5 da manhã! Com gente sempre na rua! Havia, depois, de facto, uma coisa que era implacável, que era a repressão contra a oposição comunista. Aí é que era... porque a própria PIDE era selectiva. Não andava a perder tempo com ninharias...! Salazar também dizia que “revolucionários de café não fazem revoluções...!” Agora, ao Partido Comunista, sim, porque era o único que estava organizado, apoiado internacionalmente, o grande perigo era ali que estava! E aí [a PIDE] era implacável. Aos outros, não os deixavam entrar no aparelho de Estado, mas depois tinham a sua vida... Vera Lagoa dava-se muito bem nessa ambiguidade e, portanto, foi uma pessoa que marcou, porque de facto na sua época marcou um certo estilo.»4

Mas não se pense que os seus textos são simples. Não o são. A crónica social de qualidade é difícil de fazer, nem que seja porque é necessário encontrar formas diferentes de dizer coisas banais. Longe da medianidade, ela representou o protótipo do «cronista social» de qualidade que, como nos diz Gilberto Freyre, «quando junta à argúcia na selecção do significado dentre o trivial, a graça literária de expressão, pode afirmar-se escritor, até antológico»5.

Se Vera era convidada para uma festa, ou se ia a um concerto no Teatro São Carlos, encontrava sempre forma de reportar os acontecimentos e de relatar detalhes. Colocava uma dose de malícia e de veneno, e outra de elogio, mais outra de crítica, outra ainda de humor e, como nos diz José Miguel Júdice, «Às pessoas ridículas não lhes perdoava e, portanto, era preciso este tipo de textos!... e tanto que ela continuava a ser convidada, apesar desse picante, malícia e maledicência, que eu vim a conhecer de outras formas.»6

Livro: Vera Lagoa, Um Diabo de Saias”

Autora: Maria João da Câmara

Editora: Oficina do Livro

Data de lançamento: 20 de julho

Preço: 19,71€

Com efeito, através das suas crónicas entendemos muito facilmente que havia muito mais do que apontamentos sobre acontecimentos aparentemente fúteis: havia crítica social e havia política. Compreendemos que a política entrava na crónica. Que a crónica continha dissimuladamente comentários ao regime. E que Vera Lagoa soube, de uma forma muito inteligente, falar de triavialidades para «espetar alfinetes». Nas entrelinhas. Ou descaradamente. Por exemplo, em 1966, escreve: «A Maria Barroso portou-se à altura. Por isso lhe dei um beijo. O Zé de Lemos andava com a mania de me fazer beijar toda a gente. Estava a ver que me obrigava a beijar os ministros. Que aflição! Não porque fossem feios – oh não, eram horríveis – mas porque fazia cerimónia.»7

Outro exemplo: na noite de 25 para 26 de Novembro de 1967, quando a chuva e a lama destruíram bairros e aldeias inteiras na maior cheia que ocorreu em Portugal no século xx8, Lagoa elogia o Rádio Clube Português, que ajudou a que muitas vidas fossem salvas: «Puro espírito altruísta e de solidariedade. E até de sacrifício. Porque se sujeitaram a um castigo. Por ajudar o próximo sem a necessária autorização.» Denuncia que «À hora em que as maiores desgraças ocorriam, imperturbável, na TV, o senhor do ponteiro prosseguia o seu programa, falando de “ligeiros aguaceiros”.» E depois: «Não quero acreditar. Mas vi. Vi começarem a enfeitar as árvores do Rossio para os festejos de Natal. Na altura em que se fazem peditórios por todo o país. Na altura em que vários países estrangeiros nos fazem donativos. Será possível que se gaste, este ano, como nos outros, uma fortuna a enfeitar a cidade? Proponho que esse dinheiro seja inteiramente entregue às vítimas das inundações.»9

A sua opinião importa. De ilustre desconhecida, passou a ser uma mulher requisitada até para as mais insólitas ocasiões: exposições de automóveis, festivais de folclore ou concursos de beleza em fábricas de bolachas da periferia de Lisboa. Como resultado, Vera Lagoa não se limita a escrever para o Diário Popular. Tem uma rubrica – «No mundo do Espectáculo» – na revista Rádio & Televisão, e colabora também na revista Notícia, de Luanda, um projecto editorial de grande ambição, como nos conta Fernando Dacosta: «Era uma revista muito avançada, porque para já, a censura em Luanda deixava passar muito mais coisas, e então os tipos capitalistas tiveram esse projecto muito interessante que foi lançar a revista em Luanda, em Lisboa, em Lourenço Marques e no Brasil. Havia uma delegação em Lisboa e nessa delegação a directora era a Edite Soeiro, comadre da Vera Lagoa. A Edite Soeiro também era uma mulher muito interessante, e fez uma redacção onde tinha o José Cardoso Pires, o Herberto Helder, o Luiz Pacheco, eu, a Vera Lagoa, a Natália Correia. Era uma redacção extraordinária! Aliás, ao contrário do que para aí dizem, as redacções [nessa época] eram uma festa! O jornalismo era muito interessante antes do 25 de Abril! E ganhava-se muito bem!»10

Em 1966, perguntada sobre que temas de cultura preferia, Vera Lagoa considera-se, antes de mais, profundamente ignorante, explicando: «porque quero, gosto de saber tudo e de tudo e afinal cada vez tenho menos tempo para abarcar os cada vez mais vastos ramos de conhecimento que vão sendo considerados cultura geral.» Apesar de tudo prefere, entre todos, o ensaio literário, lendo preferencialmente sobre «casos e acontecimentos do nosso tempo, como a guerra na Argélia ou do Vietnam [sic]. Gosto, enfim, de coisas que me ajudem a compreender a minha época para melhor a aceitar.» Para ela, no entanto, cultura não é só o livro: «Tiradas as reuniões mundanas ou aquelas que o pretendem ser, com os amigos ou conhecidos, não perco um bom espectáculo, porque sou admiradora de todas as artes de palco.»11

A escrita de Vera Lagoa reflecte, portanto, os seus interesses e abrange, além da arte e da cultura – a ópera, o teatro, o bailado, a literatura ou a pintura – muitos assuntos: a condição feminina, a pobreza, a moda... Assuntos que são abordados nas suas crónicas de várias formas: porque se indignou (ou rejubilou) com pequenos acontecimentos do quotidiano, porque assistiu a uma estreia marcante, porque visitou uma exposição ou porque, muito simplesmente, encontrou um escritor na rua. E é sobre alguns temas dessas páginas antológicas que nos debruçaremos de seguida.

Não assuntos de homens

Entendia Vera Lagoa que a mulher tinha valor por si mesma. Não é feminista e não se cansou de o repetir pela vida fora: «Não sou sufragista. Não, que horror!», detesta que pensem isso dela. Pugna pela igualdade de oportunidades, mas não pela igualdade pura e simples e à pergunta: «Gosta de ser mulher?», responde: «Muito. Mulher ou homem [é]-me indiferente, porque gosto de estar viva. Não admito que haja diferenças entre estar vivo como homem e estar vivo como mulher. Desde que me sinta um ser responsável...»12 Quando uma amiga sua diz aos amigos e ao marido – que, «para poderem falar à vontade dos seus assuntos», planeavam um jantar de homens –, «Não há assuntos de homens», Vera Lagoa revela: «Fiquei encantada. Aí está uma coisa que gostaria de ter sido eu a responder.»13

Congratula-se quando vê, em França, três mulheres – Vieira da Silva, Irène Monesi e Marie-Claire Blais – alcançarem o reconhecimento que merecem, sentindo-se «orgulhosa de pertencer a um sexo que, apesar de oprimido (senhores homens opressores, vocês sabem bem que é verdade), consegue arrancar três prémios daqueles, em concorrência com os maiores talentos da França».14Em Portugal, as mulheres que elogia recorrentemente na sua coluna são também aquelas que, de alguma forma, alinham com os seus ideais políticos, como Isabel da Nóbrega, Maria Lamas ou Elina Guimarães: as suas crónicas nunca são inocentes.

Admira muitíssimo as mulheres que lutam pelos seus ideais e que não desistem deles. Tanto pode ser uma italiana que desafiou a máfia, como Serafina Battaglia15, ou qualquer mulher cosmopolita, artista ou empresária.16

Já Edith Evans, a primeira mulher toureira que conhece, leva-a a escrever: «Praça de touros? O último reduto, verdadeiramente. (...) Pronto. Acabou o último reduto. Está provado que a mulher, se quiser e se lhe apetecer, também pode tourear. E bem.»17 Porque havia, realmente, redutos. São vários os relatos em que Vera Lagoa chega a ser a única mulher presente, como por exemplo na apresentação pública de um automóvel, para onde só haviam sido convidados homens. Quando ela entra provoca espanto: «Ouviram-se uns vagos sons quando o meu chapéu branco surgiu na porta, mas logo que surgiu a linha 68, os vagos sons transformaram-se em exclamações admirativas. Fiquei um pouco complexada, mas não há dúvida que os homens preferem os automóveis.»18

O mundo masculino e o feminino eram separados desde a infância; havia escolas femininas e masculinas, profissões masculinas e femininas. O assédio às mulheres era frequente: «Já passaram no Rossio, em frente da pastelaria Suíça, por exemplo? Que viram? Certamente o friso de raparigas estrangeiras, sentadas de perna traçada com toda naturalidade e, em frente, em fila, um grupo – e grande – de conquistadores: de homens mal-educados, de homens com grandes problemas por resolver, enfim, de gente sub-sub, como lhe chamou um amigo meu, que não é nada sub. Eles olham, dizem graçolas, chamam atenção uns dos outros para as pernas das jovens. Elas, surpreendidas, verificam se não terão alguma nódoa negra demasiado em evidência, se não terão algum aleijão à vista. Não percebem. E eu também não percebo porque não se cria o tal corpo de “vigilantes” que enxotaria – é este o termo – os sub-sub dali. Aquela fila do Rossio, de olho torvo e concupiscente, e palavra suja, não nos coloca bem, pois não?» Para estes casos, Lagoa chega a sugerir a criação de uma «polícia turística» cuja função seria auxiliar «principalmente, as turistas a desembaraçar-se dos seus admiradores. Chamo-lhes assim para não usar nomes feios». Vera Lagoa chega a ir a uma esquadra de polícia, forçada a levar um homem que a insultara: «Naquele passeio, em frente de dois conhecidos restaurantes, permanecem constantemente grupos de desempregados (prefiro não lhes chamar vadios), de inadaptados (usa-se muito o termo), de... etc. Esses grupos não aceitam a evidente promoção da mulher. São seres decadentes para quem a mulher promovida é um inimigo.»19

Nesta sociedade, os contrastes de tratamento, benefícios e privilégios masculinos são comuns. Por exemplo, as mulheres são importunadas por fumarem no átrio do Conservatório Nacional, coisa que aos homens era permitido...20 Estamos num mundo em que alguns autores calvos consideram que as mulheres não devem estranhar que os homens lhes faltem ao respeito «dado que fumamos, usamos calças à homem, servimo-nos dos bancos dos “snack-bares”(!), perdemos a religiosidade, não temos espiritualidade, tornámo-nos “estúpidas”, nós, que, duma forma geral, nada devíamos à inteligência».21

Com a consolidação da sua carreira e com o seu protagonismo, Vera Lagoa começou a ser alertada para situações relativas à condição feminina pelos próprios leitores que lhe escrevem denunciando artigos, notícias ou injustiças que atentam contra a dignidade da mulher. Chegam mesmo a incitá-la, como Maria Helena Ferreira: «Você que tanto tem lutado pela dignificação da mulher e pelo que está certo e errado, que lhe parece esta notícia aqui junta? (...) Ó Vera, critique, ridicularize e aponte esta injustiça com toda a força da sua inspiração.»22 Vera Lagoa não hesita: «Pego num jornal e, profundamente admirada, leio: “Num futuro longínquo a mulher encontrará a sua verdadeira dimensão.” Julgo tratar-se de um engano, de uma gralha, enfim, de qualquer coisa que tivesse saído errada naquele título. Mas não. Tratava-se de uma opinião expressa em enormes letras destacadas. Senti-me chocada. Então nós, as mulheres, ainda não encontrámos a nossa verdadeira dimensão e só num futuro longínquo a encontraremos? Tem graça, pois, quanto a mim, encontro-me perfeitamente dimensionada.» O texto aludido questiona o papel da mulher na medicina, na advocacia, em cargos de direcção, e contesta sobretudo a sua intervenção na política: a mulher que prefere ser «conduzida» deve manter-se informada, mas nunca intervir em questões políticas, uma vez que a sua influência «pode fazer-se sentir através dos elementos masculinos do clã». Lagoa comenta: «Fiquei elucidada. O declarante, que também afirma não gostar de vir a ser dirigido por uma mulher (deve bastar-lhe a que tem em casa), termina por dizer que “a mulher verdadeiramente feminina prefere ser dirigida a dirigir”. Oh! Mas a que espécie de mulheres se refere aquele senhor? Não certamente àquelas que tão brilhantes carreiras têm feito como médicas, advogadas, engenheiras, directoras. Não certamente todas as que, como eu, – friso bem, como eu –, se interessam profundamente por questões políticas. Essas têm repugnância em servir-se do método sugerido: “agir através dos elementos masculinos do clã”.» Porque, para Vera Lagoa «Há mulheres fortes e mulheres fracas. Há homens fortes e homens fracos. Melhor: há seres humanos.» E termina: «Não aceito a promessa de um futuro longínquo. Mais. Não a admito. Exijo – e tenho – um presente imediato. Falo em nome das mulheres que encontraram sua verdadeira dimensão, não em competição – como tanto apraz de dizer por aí – mas em verdadeira e íntima colaboração com os homens.»23 Em vez da promoção da mulher: «eu prefiro, como o Sérgio Ribeiro, que se chame apenas promoção em geral. Do homem e da mulher. Ambos a necessitam. E de que maneira! Quando se insiste em que a mulher deve trabalhar para ajudar o orçamento familiar, etc., fico em fúrias. A mulher deve trabalhar porque toda a gente o deve fazer, homem ou mulher. Para ajudar? Acho ridículo. Para existir e é tudo.»24

Estamos num mundo em que violência doméstica é comum – e, pior do que isso, aceite – sendo até assunto – tragicómico – de canções populares, que não escapam à pena de Maria Armanda. É o caso da letra de uma canção de António Fonseca para um disco de Manuel Dias:

Zanguei-me com minha esposa
e no momento irado
bati-lhe e ela chorou (...)
Alguém se abeirou de mim
e me pediu a chorar
Paizinho não batas mais (...)
quando ouvi dizer alguém
Olha que se ouve na rua (...).

Vera Lagoa conclui irónica: «Moral da história: quando se bate na “esposa”, deve fechar-se a janela e mandar as “criancinhas” brincar para a rua.»25 Ainda a propósito de violência doméstica, critica a inutilidade de certos actos de protagonismo e a injustiça da própria Justiça. Ao ler que o conde do Funchal lançara a ideia de construir, na capital, um monumento dedicado à mulher, com réplicas nas capitais das províncias ultramarinas comenta:

Ora até que enfim aparece alguém que nos faz justiça. Alguém que reconhece termos direito a um monumento... A verdade é que nos estragam com mimos. Temos, como se sabe, acesso a todos os empregos, pagam-nos o mesmo que aos homens, etc. Ah! Esquecia-me. Temos também outra regalia, podemos – e devemos – apanhar pancada do marido. Desde que não vá demasiado longe, desde que não conduza à morte. Neste caso, se a pancada for muito forte e morrermos, ùnicamente [sic] para colocar o marido numa situação embaraçosa, o pobre homem é condenado a quatro anos de prisão. Quatro anos! Tanto tempo para quem se limitou a descarregar o seu mau humor! Pois é verdade. Foi essa a pena, injusta (pois devia ser absolvido), a que um homem de Valongo foi condenado por ter estrangulado a mulher. Ainda bem que se fez justiça. Imaginem que os direitos eram iguais e o pobre réu de Valongo era condenado a vinte e um anos de prisão, como aconteceu a uma mulher da Pampilhosa que, no mesmo dia, matou o marido! Tem razão o conde do Funchal. Estamos mesmo a precisar de um monumento.26

Sobre o recém-lançado Dicionário Mundial de Mulheres Notáveis, Vera Lagoa observa: «Ora até que enfim que nos foi dado o nosso justo valor»27 mas numa análise mais cuidada, reflecte: «Neste dicionário há, felizmente, de tudo. De tudo. Tem, contudo, estranhas omissões. Se as acho estranhas é porque nele encontrei inclusões que demonstram uma extraordinária boa vontade em nada omitir. E, como três quartos da obra são dedicados a portuguesas, ficamos sabendo que três quartos das mulheres mundialmente notáveis são portuguesas. Mais um motivo de orgulho.»28 Depois, faz uma apreciação das diferentes entradas e do espaço dedicado a cada mulher: Callas tem 23 linhas, Simone de Oliveira tem 53, Simone de Beauvoir tem 42 e Simone Signoret é omissa... O dicionário descreve as irmãs Montenegro «de larga carreira literária», mas omite, por um exemplo nada acidental, Isabel da Nóbrega que: «Já foi premiada e isso deve bastar-lhe. (Não é Belinha?)»29

Quando Susana Mentz, uma jornalista brasileira, visita o Diário Popular, Lagoa comenta: «A Susana ficou muito admirada por ver tão poucas mulheres a fazer jornalismo em Portugal. E disse que gostaria muito de ficar por cá uma temporada. Eu dissuadi-a. Se a nossa vida já é tão difícil. Que faríamos com uma concorrente tão bonita?»30 Embora houvesse algumas pioneiras (Maria Antónia Palla, Edite Soeiro, Manuela de Azevedo), Fernando Dacosta explica: «Não havia muitas mulheres nos jornais nessa altura; as redacções eram hostis às mulheres porque os jornalistas diziam que não podiam dizer palavrões à vontade porque havia senhoras... etc. Eu ainda apanhei essa época, em que havia poucas. Só depois do 25 de Abril é que começou a mudar.»31

Lagoa elogia as mulheres que lutam pela igualdade de direitos, chama-lhes: «Queridas companheiras de luta» e refere que «não podia ficar impassível ao ler nos jornais um resumo da Assembleia Geral da Secção Feminina do Sindicato dos Profissionais de Escritório. (...) muitos anos que venho afirmando a minha indignação pela diferença de remuneração no trabalho das mulheres, pela discriminação que dignifica uma “Secção Feminina”[sic] num Sindicato que abrange 24 378 mulheres empregadas. (...) Que diriam os homens se lhes criassem uma “Secção Masculina”?»32

Porém, também critica articulistas desfasadas da realidade, «Muna e Lila continuam em Acção» é o subtítulo da crónica em que afirma: «É o que tem valido às mulheres dos trabalhadores: Muna e Lila continuam a dar conselhos utilíssimos. No último número da revista Acção, Muna ensina como se deve beber consommé em taça. E também que não se deve dizer “bom proveito”. Ah! A seguir, Lila dá-nos mais uma receita económica; mexilhões ao “gratin”. Sempre com cogumelos, claro. Pergunto a mim própria como poderíamos, nós, as mulheres trabalhadoras, viver sem Muna e Lila. E Lila e Muna, como poderiam viver sem nós?...»33

Quando assiste a uma sessão na Assembleia Nacional, Vera comenta: «estranhei (não admira, porque nunca lá tinha ido) foi ver os deputados andarem sempre de um lado para o outro, não ouvindo absolutamente nada do que diz o orador, mas quando este acaba de falar, desatam às palmas e a dizer: “Muito bem[!] Isso é que é falar!” Não são amáveis? Muito. (...) As três senhoras deputadas das províncias ultramarinas saíram todas ao mesmo tempo e pouco depois da minha chegada. Estranhei, mas deve ter sido por se tratar de política, coisa que não costuma interessar as senhoras. Também pode ter havido outra razão. Podem ter tido necessidade de procurar um “toilette”, coisa absolutamente natural, e na Assembleia não há “toilette” para senhoras. Como se vê, não está previsto que haja mulheres em S. Bento.»34 Por isso, quando em 1970 entra para o Governo a primeira mulher, Maria Teresa Lobo, Vera Lagoa não deixa passar a oportunidade de se lhe dirigir, felicitando-a: «Não há cargos para mulheres, nem cargos para homens. cargos para pessoas que os saibam desempenhar. Chegou a altura de o provarmos. (...) Nós mandamos de forma diferente. Mas mandamos. Atrevam-se a desmentir-me, senhores homens da minha terra. Devia antes dizer super-homens, porque os homens da minha terra julgam-se mais homens do que os outros.»35


1. Emerge Vera Lagoa

1 Alberto Moreira era advogado e director do jornal Eco dos Sports, um periódico de Lourenço Marques publicado entre 1938 e 1956 (ver: GONÇALVES, Iuliana Filimon Barros, SOUSA, José Manuel Motta de (org.), Publicações Periódicas portuguesas existentes na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (1927-1945), Coimbra, Biblioteca Geral da Universidade, 2001, p. 192). Alberto Moreira é também o padrasto de Sara Ferro.

2 LAGOA, Vera, «Passou-se há vinte anos», O Diabo, 18 de Março de 1986, pp. 1-4.

3 Lello Portela (1893-1949). Republicano, militar, seguiu a arma de Cavalaria e optou pela aviação. Tirou o brevet em Londres. Participa na Grande Guerra e, quando regressou a Portugal, foi várias vezes deputado e depois governador civil de Lisboa. Crítico e analista em questões militares colabora regularmente n’O Século e n’A Voz. Fundou o semanário O Sol (ver: http://clubedohistoriador.blogspot.com/2017/06/alberto-lello-portela.html, consultado em 31-12-2019).

4 LAGOA, Vera, «Rosas e Nardos para Lello Portela», O Sol, 9 de Março de 1976, p. 1.

5 LAGOA, Vera, «Passou-se há vinte anos», O Diabo, 18 de Março de 1986, pp. 1-4.

6 Todo este episódio é narrado no livro: LAGOA, Vera, Revolucionários Que Eu Conheci, Lisboa, Intervenção, 1977, p. 142 e seguintes.

7 Miguel Urbano Rodrigues (1925-2017) era jornalista e militante histórico do PCP. Publica livros de ficção e textos políticos, em Portugal e no Brasil. Antes de se exilar no Brasil, durante o Estado Novo, foi redactor do Diário de Notícias e chefe de redacção do Diário Ilustrado. (Ver: https://www.publico.pt/2017/05/27/sociedade/noticia/morreu-urbano-rodrigues-jornalista-e-historico-do-pcp-1773711, consultado em 04-03-2020.)

8 Todo este episódio é narrado no livro: VILHENA, José, Vera Lagoa Meteu a Pata na Poça, Lisboa, Edições Branco e Negro, s.d., pp. 104-105.

9 Entrevista de Vera Lagoa a Carlos Cruz, no programa Quarta-Feira, RTP, Fevereiro de 1982.

10 FÉ, Maria da, «Blow Up de Vera Lagoa», Magazine, 23 de Março de 1968, p. 8.

11 LAGOA, Vera, «Passou-se há vinte anos», O Diabo, 18 de Março de 1986, pp. 1-4.

12 VIEIRA, Joaquim, Francisco Pinto Balsemão O Patrão dos Media Que Foi Primeiro-Ministro, Lisboa, Planeta, 2017, pp. 69-77.

13 Entrevista de Fernando Dacosta.

14 LAGOA, Vera, «Passou-se há vinte anos», O Diabo, 18 de Março de 1986, pp. 1-4.

15 Também Maria Lamas utilizara, como primeiro nome de pseudónimo, Vera, em 1950, quando escrevia para o jornal Mãos de Fada (PRATES, Maria Luzia Fouto, Maria Lamas (1893-1983) – Uma Participante na História da Mentalidade Feminina, tese de doutoramento, Lisboa, FCSH-UNL, 2010, p. 63). 16 Entrevista de Vera Lagoa a Carlos Cruz, no programa Quarta-Feira, RTP, Fevereiro de 1982.

17 «A Lisboa elegante no Cocktail de “Bisbilhotices”», Diário Popular, 3 de Maio de 1968, p. 13.

18 Magazine, 1968, p. 10.

19 Entrevista de Vera Lagoa a Carlos Cruz, no programa Quarta-Feira, RTP, Fevereiro de 1982.

20 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», Diário Popular, 18 de Maio de 1967, p. 239.

21 FÉ, Maria da, «O Blow Up de Vera Lagoa», Magazine, 23 de Março de 1968, p. 8. Tessier ficou célebre por meio da sua coluna «Les potins de la commère» (que poderemos traduzir por «Os mexericos da comadre»), na qual escrevia sobre os rumores relacionados com o mundo literário, artístico e social, sobre várias personalidades públicas e vedetas, e revelava curiosidades e mesquinhezes. No fundo, Tessier observava e desnudava o mundo onde se movia – o «tout Paris» – referindo todos os nomes (alguns numa lista negra, sua, própria) e revelando-lhes os escândalos. Curiosamente, Carmen Tessier era, também ela, secretária profissional de Maurice Boudet, na Radio Poste Parisien, em 1937. Entra depois no Paris Soir e, após a Segunda Guerra Mundial, pretende obter a carteira profissional, o que lhe é vedado, devido ao facto de ter trabalhado neste jornal, tomado pelos nazis logo após a ocupação e proibido logo após a libertação de França. Tessier torna-se jornalista vencendo todas as resistências (ver, por exemplo: https://fr.wikipedia.org/wiki/Carmen_Tessier, consultado em 06-07-2020).

22 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», op. cit., 18 de Março de 1966, p. 12.

23 Idem.

24 Entrevista de Maria da Luz Moita, 21 de Janeiro de 2020.

25 FÉ, Maria da, «O Blow Up de Vera Lagoa», Magazine, 23 de Março de 1968, p. 8.

26 Ibidem.

27 Entrevista de Maria da Luz Moita.

28 Idem.

29 Ibidem.

30 Ver: LAGOA, Vera, «Na morte de Urbano Carrasco», O Diabo, 4 de Dezembro de 1982, p. 5 (itálico no original).

31 Urbano Carrasco (1921-1982) nasceu em Moura, Alentejo. Foi um jornalista que esteve ligado ao Diário Popular durante quatro décadas. (Ver: https://www.newsmuseum.pt/en/imortais/urbano-carrasco, consultado em 05-03-2020.)

32 Ver: LAGOA, Vera, «Na morte de Urbano Carrasco», O Diabo, 4 de Dezembro de 1982, p. 5 (itálico no original).

33 Idem.

34 LAGOA, Vera, «Foi há vinte e cinco anos», O Diabo, 20 de Março de 1990, p. 1.

35 Entrevista de Carlos Pissarra.

36 Entrevista de Fernando Dacosta.

37 Entrevista de Carlos Pissarra.

2. Como e Sobre o Que Escreve Vera Lagoa?

1 SOEIRO, Edite, «Maria Armanda Falcão – Bisbilhotando Vera Lagoa», Notícia, Angola, 3 de Maio de 1969, p. 50.

2 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», op. cit., 14 de Dezembro de 1966, p. 148.

3 Ibidem, 14 de Dezembro de 1966, p. 149.

4 Entrevista de Fernando Dacosta.

5 FREYRE, Gilberto, «A crónica social como literatura.», Diário Popular, 18 de Abril de 1968, pp. 11-12.

6 Entrevista de José Miguel Júdice.

7 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», op. cit., 6 de Maio de 1966, p. 33.

8 O número de mortos é mais de meio milhar, vinte mil casas ficaram destruídas e os prejuízos foram calculados em três milhões de dólares, a preços da época. https://rr.sapo.pt/cheias-1967/, consultado em 13-03-2020.

9 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», op. cit., 24 de Novembro de 1967, p. 367. (A data citada está errada. Será de 26 de Novembro e não de 24 de Novembro que vem indicada no livro que citamos.)

10 Entrevista de Fernando Dacosta. Vera Lagoa era madrinha do filho de Edite Soeiro e de Acácio Barradas.

11 «Ora diga-nos – Que temas de cultura prefere?», Diário Popular, 16 de Julho de 1966.

12 FÉ, Maria da, «Blow Up de Vera Lagoa», Magazine, 23 de Março de 1968, p. 9.

13 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», op. cit., 3 de Agosto de 1966, p. 77.

14 Trata-se dos prémios atribuídos a Vieira da Silva, Irene Monesi e Marie-Claire Blais. Ver: LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», op. cit., 4 de Novembro de 1966, p. 140.

15 Ibidem. Em 1967, Serafina Battaglia (1919-2004) foi a primeira mulher a testemunhar contra a máfia, após o assassínio do marido (membro da Cosa Nostra) e do filho por um clã rival. Veste-se sempre de luto e, quando o filho é assassinado, decide falar, denunciando os seus assassinos às autoridades. (Ver, por exemplo: VÉRON, Anne, Les Femmes dans la Mafia, s.l., Nouveau Monde Editions, 2015.)

16 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», Diário Popular, 29 de Maio de 1969, p. 15. Uma das mulheres que admira é uma tecedeira artística chamada Sereira Amzalak (ver: http://garfadasonline.blogspot.com/2018/05/a-tecelagem-domestica-por-sereira.html (consultado em 25-09-2020) ou Fernanda Pires da Silva (ver: https://sol.sapo.pt/artigo/683494/fernanda-pires-da-silva consultado em 25-09-2020). 17 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», Diário Popular, 8 de Outubro 1969, p. 29.

18 Ibidem, 24 de Novembro de 1967, p. 366.

19 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», op. cit., 24 de Agosto de 1966, pp. 86-87; ibidem, 30 de Julho de 1967, pp. 297-298; ibidem, 26 de Junho de 1966, p. 53.

20 Ibidem, 21 de Outubro de 1966.

21 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», Diário Popular, 24 de Setembro de 1969, p. 22.

22 Arquivo Vera Lagoa, Correspondência, 21 de Abril de 1967.

23 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», op. cit., 13 de Abril de 1967, pp. 216-217.

24 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», Diário Popular, 15 de Maio de 1970, p. 30.

25 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», op. cit., 22 de Junho de 1967, p. 268.

26 Ibidem, 31 de Maio de 1967, pp. 249-250.

27 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», 23de Março de 1967, pp. 203-204.

28 Idem.

29 Trata-se de Isabel da Nóbrega (1925). Recebeu o Prémio Camilo Castelo Branco para o romance Viver com os Outros, 1964. Trabalhou na rádio e escreveu cerca de 3000 crónicas para diversos jornais e revistas. Da sua vida familiar, destaque-se o facto de ter sido companheira de João Gaspar Simões, entre 1954 e 1968, e de José Saramago, de 1970 a 1986, que lhe dedicou a edição original do Memorial do Convento. Isabel da Nóbrega é ainda avó da decoradora Graça Viterbo. (Ver https://pt.wikipedia.org/wiki/Isabel_da_N%C3%B3brega, consultado em 14-10-2019). LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», 23 de Março de 1967, pp. 203-204.

30 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», op. cit., 9 de Novembro de 1966, pp. 126-127.

31 Entrevista de Fernando Dacosta.

32 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», Diário Popular, 24 de Maio de 1970, p. 19.

33 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», op. cit., 10 de Dezembro de 1967, p. 376.

34 LAGOA, Vera, «Bisbilhotices», Diário Popular, 26 de Março de 1969, p. 31.

35 Ibidem, 26 de Agosto de 1970, p. 21.