O preço do café continua a subir e parte da culpa pode residir na União Europeia, mais especificamente num regulamento comunitário que entrará em vigor no final do ano. O aviso foi dado por Rui Miguel Nabeiro, CEO do Grupo Nabeiro-Delta Cafés no Delta House Experience, em Lisboa.

“O café bate e vai continuar a bater recordes todos os dias. Há um fenómeno que não percebemos, não conseguimos perceber porque não cessa de subir e por que razão os preços das matérias-primas teimam em não parar”, começou por referir ao SAPO 24 o presidente executivo da multinacional portuguesa.

“Muito do que ouvimos (razões e causas) prende-se com a lei EUDR (Regulamento Anti Desflorestação da União Europeia), que irá limitar a possibilidade de compra de café, por exemplo, a pequenos produtores se não georreferenciarem as suas quintas”, algo que “é complexo para pequenos produtores”, explicou Rui Miguel Nabeiro à margem da apresentação do café Catoninho. Este lote especial junta a Delta e um produtor de café na roça Monte Café, em São Tomé e Principe, e será parte do projeto de empreendedorismo The Impossible Coffees, iniciado no ano passado com a produção de Café nos Açores.

“Estamos a tentar perceber se esta lei da reflorestação está a impactar, ou não, o preço. Eu diria que sim”, apontou Rui Miguel Nabeiro, da Delta, empresa parceira da Internacional Coffee Partners, organização que reúne empresas familiares europeias de café e que em junho passado pediu um “período de transição apropriado e de recursos financeiros adicionais” para que os pequenos produtores de café (estimam-se que 12,5 milhões no mundo produzem até 80% do café mundial), possam cumprir o estipulado por Bruxelas.

“A lei está a agravar os preços ao causar eventualmente o aumento de stocks na Europa, que é algo que já estamos a sentir”, disse ainda, ao explicar que esse aumento de stocks é uma forma de “antecipar a entrada” em vigor da EUDR.

A antecipação desta escalada de preços nos mercados internacionais e do reflexo que poderá ter no cliente final já tinha saído da boca de Nabeiro em maio, mês durante o qual procederam a “uma atualização dos preços” de forma a amortecer este aumento.

“O café robusta está ao dobro do que estava há um ano. É um preço quase impossível para a maioria das carteiras. O café arábica pode ter subido 70%”, detalhou. “São aumentos consideráveis e estamos preocupados sobre o que está a acontecer” -  alertou no final da apresentação da nova edição limitada produzida em São Tomé e Príncipe, na histórica Roça Monte Café, impulsionada pelo produtor Amedy Pereira, ou antes, Catoninho, nome que dá origem ao lote.

Embora acredite que os aumentos “se reflitam” no preço final ao consumidor, Rui Miguel Nabeiro salvaguardou que “não será na proporção de magnitude daquilo que é o preço na origem”.

No entanto, face a este cenário, admite, por fim, que restam duas vias aos comerciantes, o último elo da cadeia e quem dita o preço final ao consumidor do café, “uma instituição nacional”. Ou estreita a margem e assume esse estreitamento ou aumenta o preço.