Arnaldo Antunes, Carlos Drummond de Andrade, Gregório de Matos, Hilda Hilst, Vinícius de Moraes e Ferreira Gullar são alguns dos nomes que assinam os mais de 170 poemas que figuram nesta “Antologia da Poesia Erótica Brasileira”, que foi buscar inspiração à “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, reunida e publicada por Natália Correia há mais de 50 anos (1966), explica, na introdução, Eliane Robert Moraes, professora de literatura brasileira na Universidade de São Paulo e organizadora deste livro, lançado em 2015 no Brasil.
Trata-se, assim, da publicação em Portugal do volume que compila as principais figuras da lírica erótica do Brasil, ao longo de cinco séculos, numa obra que conta também com poemas de “incontornáveis e desbocados” autores anónimos e outros consagrados, como Dalton Trevisan, Olavo Bilac ou a pioneira, entre as mulheres, da poesia erótica no Brasil, Gilka Machado, revela a editora.
Sublinhando a “qualidade do trabalho” e a coragem de desafiar a censura de um regime ditatorial da escritora portuguesa Natália Correia, Eliane Robert Moraes afirma que essa “iniciativa notável da poetisa lusitana” continua a ser a principal interlocutora desta seleção brasileira.
Isto porque esta “Antologia da Poesia Erótica Brasileira” é, “antes de tudo, um convite ao leitor português para se lançar à descoberta de um rico diálogo entre escritores que, vivendo em países tão distantes quanto distintos, partilham a aventura da mesma língua”.
“Diálogo de certa forma clandestino, não só por ter ficado oculto na história das relações literárias entre Brasil e Portugal, mas principalmente porque gira em torno do sexo”, acrescenta.
O único nome comum às duas publicações – a portuguesa e a brasileira – é o do poeta Gregório de Matos Guerra, “patrono do trânsito entre as duas líricas eróticas”, já que nasceu e morreu no Brasil (no século XVII), mas viveu três décadas em Portugal.
Eliane Moraes avisa que ao percorrer as páginas deste livro, é possível identificar alguns desdobramentos do erotismo literário português, mas também “apreciar a singular erótica tropical criada no além-mar”.
Contrariamente ao que se passa com a história literária de Portugal, com uma tradição de cancioneiros satíricos que atravessam vários séculos, no Brasil, apesar do papel inaugural de Gregório de Matos, o gosto burlesco desenvolveu-se sobretudo a partir do século XIX. Além disso, a poesia portuguesa costuma valer-se do escárnio para degradar um inimigo, enquanto na brasileira “o sarcasmo quase sempre redunda em brincadeira”, destaca Eliane Moraes.
Resultado de uma “rigorosa pesquisa literária”, para esta antologia foram selecionados mais de 170 poemas de épocas, estéticas e contextos diversos, alternando entre a sensualidade meramente alusiva e a obscenidade mais provocante, dando voz a “um excesso que é, antes de tudo, o da imaginação”.
Regra geral, a entrada nos poemas segue uma ordenação cronológica, tendo por base as datas de nascimento dos seus autores, uma opção que teve por modelo a edição brasileira deste livro, mas também a antologia portuguesa organizada por Natália Correia e outra semelhante espanhola, explica a editora.
No caso dos poemas cuja autoria não foi possível confirmar, foram agrupados na categoria de anónimos e inseridos no livro pelas datas de publicação da fonte encontrada, não sendo possível garantir que essa seja a fonte original, embora se tenha sempre procurado a fonte escrita mais antiga, acrescenta.
No final do livro é possível encontrar não apenas a bibliografia consultada, mas também uma pequena biografia de cada um dos autores.
A fechar a antologia, o posfácio assinado por Eliane Robert Moraes oferece uma contextualização da poesia erótica e uma explicação sobre a forma como é abordada pelos diferentes poetas, que permite uma melhor compreensão da obra.
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