A história chegou-nos esta terça-feira pela pena de Vanessa Friedman do New York Times.
“Fizemos uma descoberta!”. Foi assim que Alex Bolen, CEO da marca de moda Oscar de la Renta, descobriu que a sua nova loja em Paris não iria abrir portas na data prevista - esta semana. Mas desta vez o atraso pode até vir a compensar. É que no espaço que está a ser restaurado foi feita uma descoberta surpreendente.
Criando algum suspense, a jornalista da publicação norte-americana começa por descrever o momento em que Alex Bolen foi chamado a visitar o espaço da nova loja: “Rangendo os dentes, [Bolen] entrou num avião em Nova Iorque. Nathalie Ryan [a arquiteta responsável pelo projeto] levou-o até ao segundo andar daquela que será a loja, onde os trabalhadores, ocupados, limpavam detritos e faziam gestos em direção ao fundo da sala. Bolen (...) exclamou: 'Não, não é possível'”.
À sua frente, o diretor-geral de uma das marcas de moda mais prestigiadas do mundo tinha uma pintura a óleo do século XVII.
Num edifício de Paris, por trás do que se pensava ser apenas uma parede a precisar de obras, estava uma pintura centenária, com três metros de altura e seis de largura, onde aparece representado um marquês acompanhado dos seus cortesãos a caminho de Jerusalém.
“Às vezes, quando trabalhamos em castelos, fazemos algumas descobertas. Mas geralmente são lareiras escondidas, ou, em Itália, um fresco. Mas num apartamento? Numa loja?”, comenta ao New York Times estupefacta a arquiteta Nathalie Ryan.
Intrigados, contactaram um historiador de arte para perceberem a dimensão histórica da descoberta que tinham feito.
Stephane Pinta, especialista em pintura, em particular nas obras dos grandes artistas, determinou que a tela pintada a óleo é de Arnould de Vuez, um pintor do século XVII que trabalhou diretamente com Charles Le Brun, o primeiro pintor de Luís XIV e designer do interior do Palácio de Versailles, perto de Paris, em França.
A pintura terá ido parar àquela parede de um apartamento parisiense, especula o historiador, durante a Segunda Guerra Mundial, para ser protegida dos ataques.
Feita a descoberta, era preciso falar com os proprietários do edifício. O que fazer com a pintura, tendo em conta que removê-la do mural seria demasiado arriscado e poderia implicar a sua perda?
As negociações resultaram na chamada solução “win-win”, em que todas as partes saem a ganhar: Alex Bolen poderá manter a pintura como parte da decoração da sua nova loja e a Oscar de la Renta será responsável pelos custos de restauro da obra.
Uma descoberta nunca vem só
Ainda antes de ter sido encontrada a pintura na parede, já os trabalhos de recuperação do espaço tinham sido surpreendidos por uma outra descoberta.
Por cima dos tetos falsos, deitados abaixo durante as obras, está um conjunto de 29 painéis de madeira, datados do século XIX, tendo oito deles um brasão e um diamante ao centro.
Alex Bolen diz que também vai procurar um especialista em brasões para analisar os tetos.
Se o objetivo era que a loja se destacasse pelo ambiente clássico, o mural centenário e os tetos de madeira parecem ter chegado por encomenda.
Oscar de la Renta foi um prestigiado estilista, nascido na República Dominicana e depois naturalizado norte-americano, que deu o seu nome a um das marcas mais conhecidas no mundo da moda. O designer morreu em 2014, com 82 anos.
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