Foi em 1991 que estreou o clássico Disney “A Bela e o Monstro”, um filme com uma lição de vida que viria a influenciar as crianças de futuras gerações, tal como muitos outros clássicos dos estúdios o tinham feito anteriormente. Quando se trata de magia não há nenhuma empresa que se compare com a Walt Disney Pictures, capaz de transmitir as mais variadas sensações com cada filme que cria e de nos levar a viver intensamente uma pura fantasia vezes sem conta.
Já desde 1937, com a sua primeira longa metragem “A Branca de Neve e os Sete Anões”, Walt Disney definia o que viria a ser o futuro do cinema de animação, trazendo histórias encantadoras para as famílias, acompanhadas de uma boa lição de moral. Acima de tudo Walt Disney foi um homem sonhador e revolucionário. Sempre muito à frente do paradigma em que atuava, trouxe inovações para a história do cinema como muitos poucos o fizeram, das quais se destacam o desenho animado sonoro e a longa metragem de animação. Foi ainda quem mais óscares da academia ganhou na história do cinema (22 no total).
Apesar de tudo isto, Walt Disney não podia imaginar que os seus preciosos contos de animação viriam a sofrer grandes transformações no futuro, sendo lançados novamente para o grande ecrã e novamente com uma grande produção. No entanto, com o avançar da tecnologia e do cinema digital, foram criadas as condições necessárias para remakes destes clássicos à luz da dita modernidade e adaptados à realidade do cinema do século vinte e um. Foram feitas várias versões de clássicos Disney desde então, tais como Alice no País das Maravilhas (2010), Bela Adormecida (2014 - Maléfica), Cinderela (2015), O livro da selva (2016) e claro, Bela e o Monstro (2017). Mega-produções que tiram proveito dos efeitos especiais para re-contar uma história de fantasia, mantendo a essência do conto, mas que acrescentam algo de diferente ao conjunto e que fazem as salas de cinema de todo o mundo esgotarem durante o fim de semana de estreia.
E o mesmo se passou com a Bela e o Monstro. A longa metragem estreou na passada quinta feira, e esgotou todas as salas de cinema de Lisboa.Nos primeiros quatro dias de exibição, 119.323 viram o novo filme da Disney e nos EUA, tornou-se o filme mais rentável de sempre estreado em março. Certamente, muita dessa popularidade deve-se ao fator “Emma Watson”, uma das atrizes e ativistas britânicas mais populares da atualidade, que desempenha o papel de Bela.
Para alguns o filme é um “desperdício de talento” visto que, além de Emma Watson, conta com vários atores de renome, como Ian McKellen, Ewan McGregor e ainda Emma Thompson, que desempenham alguns dos papéis secundários. No entanto, representar um Candelabro (McGregor), um Relógio (McKellen) ou uma Chaleira (Thompson) não são tarefas que se peçam regularmente a atores de cinema.
Durante muitos anos, Lumiére (a "vela" em a Bela e o Monstro), por exemplo, foi uma figura de referência do universo Disney e, ao trazer de volta para o grande ecrã uma personagem como esta para ser representada por um ator, é algo que acarreta uma grande responsabilidade. Aliás, toda a equipa de produção tinha um enorme peso nos ombros ao fazer um remake de um dos filmes mais populares de todos os tempos. As expectativas do público são altas e, na indústria, a menor desilusão pode custar milhões. Será justo dizer que, em certa medida, a produtora jogou pelo seguro, contratando atores que nunca desiludem, recriando o conto da forma mais precisa possível, cantando as mesmas músicas e enchendo o filme de formidáveis efeitos especiais.
Começando com o palácio e as decorações e terminando com os objetos encantados, o filme apresenta uma coleção de realidade virtual de se lhe tirar o chapéu. A forma como os produtores conseguiram equilibrar o live-action com o caráter de animação, sem retirar o charme do filme original é algo absolutamente notável. Por vezes nem damos conta da distinção, sendo a transição entre técnicas tão real e tão discreta.
Acompanhando os efeitos especiais estão as artes cénicas e de guarda roupa, que se destacam essencialmente nos momentos musicais e de coreografia, e que foram deixados a cargo de veteranos da área como Jacqueline Durant , Katie Spencer e Sarah Greenwood (Anna Karenina).
Deixo a surpresa para quem ainda não viu o filme, mas além do Monstro, a personagem digital que mais me chamou a atenção foi o guarda-fatos que, quando não está a dormir, está a cantar ópera enquanto dispara roupas por todos os lados. As músicas mantiveram-se neste filme e a direção musical foi deixada a cargo do pioneiro Disney, Alan Menken, vencedor de oito óscares da Academia e o artista por trás de grandes bandas sonoras como a de Hércules (1997), Aladdin (1992) e ainda A Bela e o Monstro (1991).
Como é de calcular, com uma fórmula tão rica, o filme consegue de facto captar toda a magia que é expectável do mundo Disney. É uma produção bastante ambiciosa, que contou com 160 milhões de dólares americanos investidos, o que a torna na produção musical mais cara de sempre, em termos nominais.
Já falámos do conto mas falta-nos o ponto que desta vez foi acrescentado à história. À semelhança de muitos filmes da última década, o tema da diversidade está presente em A Bela e o Monstro, um aspecto que faltava no clássico de 1991. Casais interraciais, indivíduos de todas as etnias na corte real, e ainda a primeira personagem homossexual da Disney - LeFou. São pequenos detalhes que a produtora quis incluir na produção e que, ainda que não sejam muito significativos para os especialistas da área, representam algum progresso por parte da marca.
Por outro lado, o facto de nada de inovador ter sido acrescentado ao enredo obriga-nos a questionar o “porquê” da criação deste filme. É certo que trará bastante lucro para a empresa, mas do ponto de vista criativo, por muito mérito que tenha a produção visual, não acrescenta valor absolutamente nenhum para os espectadores, que provavelmente se irão esquecer do filme com o passar dos anos. Como muitos outros remakes, a dúvida acerca do filme reside no propósito do mesmo. Uma jogada como esta pode querer demonstrar que a Disney está a ficar sem ideias novas e portanto recicla provas de sucesso para garantir os objetivos financeiros do grupo. Será que é a isto que se resume a magia do mais recente clássico Disney?
Independentemente do propósito associado à produção, e ainda que não seja um musical da categoria de La La Land, A Bela e o Monstro é um filme simplesmente encantador, romântico e bem disposto. Jogar pelo seguro pode ter sido uma aposta cara para a Disney, mas foi garantidamente aquilo que tornou esta obra numa adaptação verdadeiramente mágica e digna do grande ecrã, dada a enorme responsabilidade que tinha associada. Confesso que entrei na sala com as expectativas baixas, mas, tal como o conto nos ensina, não devemos julgar as coisas pela sua aparência e acabei por ter um serão bastante divertido e, acima de tudo, nostálgico.
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