A peça, que junta dança, instalação, vídeo e música, estreia-se esta sexta-feira, pelas 21:00, no grande auditório do Rivoli, e volta a ser exibida pelas 19:00 de sábado, numa coprodução entre o Balleteatro, que Né Barros dirige, e o Teatro Municipal do Porto.
“A dramaturgia do espetáculo foi feita para que se pudessem cruzar vários tipos de revoluções, das artísticas às sociais, e funcionam como várias camadas”, explicou à Lusa a coreógrafa Né Barros, reforçando que a obra incide sobre “um sentido expandido do termo”.
Dividido em três momentos, “o que antecede uma revolução, a revolução e a pós-revolução”, o espetáculo abre com uma instalação sonora do grupo Haarvöl, “que funciona como o estado de utopia que antecede a revolução”, antes de um trabalho de performance com intervenção de vídeo, som e música, antes do “lado traumático do pós-revolução” encerrar a peça.
No lado musical, a produção colaborou com o coletivo Digitópia, grupo da Casa da Música que trabalha no âmbito da exploração de música digital, para criar temas originais e executar algumas obras.
Entre a “gravação de temas” e a interpretação ao vivo de outros, neste último caso pelos Haarvol, “Revoluções” conta com quatro Sonatas de John Cage, “Pendulum”, de Steve Reich, “Studie II”, de Karlheinz Stockhausen, e “Pop’eclectic”, de Bernard Parmegiani.
Com direção musical de José Alberto Gomes, da Digitópia, e Duarte Cardoso (Haarvöl), ao piano, “Revoluções” é interpretado por Deeogo Oliveira, Elisabete Magalhães, Francesca Perrucci, José Meireles, Júlio Cerdeira e Sónia Cunha, que exploram a relação do corpo com as revoluções, artísticas ou sociais, e os vários cruzamentos que proporciona.
Né Barros decidiu trabalhar o tema através de três fatores, conjugando a experiência do trabalho anterior que aborda a ideia “de um corpo dançante que se relaciona com a paisagem e questões de território”, os 50 anos do Maio de 68, em França, com momentos de efeméride que “servem sempre para reflexão”, e o trabalho como investigadora.
O espetáculo surge na sequência de uma série de reflexões sobre a mesma temática promovida pelo Grupo de Estética, Política e Conhecimento do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, em que se insere também “Revoluções”.
Para o público, há igualmente a intenção de demonstrar e “devolver alguma humanidade ao mundo perante questões complexas”, no seu “pequeno contributo”, em contraponto com a ideia de que “as revoluções não se fazem diante dos ecrãs, como estamos muitas vezes hoje em dia”, uma ideia que Né Barros retirou do Comité Invisível.
Autores do folhetim “A Ressurreição que vem”, divulgado em 2007 em França, o Comité era composto por vários colaboradores anónimos que argumentavam, nesse documento, que “não são as razões que fazem as revoluções, são os corpos”.
“A ideia de corpo está sempre muito presente, porque é o grande motor das revoluções, e não há nada como a dança e o corpo na sua maior amplitude. Qual melhor móbil para convocar esta ideia de força da revolução que é o corpo?”, atirou a diretora do Balleteatro.
Depois do Porto, o espetáculo é apresentado no Centro Cultural de Ílhavo, no distrito de Aveiro, a 23 de novembro, antes de chegar a Coimbra, a 18 de abril de 2019, ao Convento São Francisco.
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