Quando foi conhecido o vencedor, no passado dia 20, o presidente do júri, Manuel Alegre, afirmou que "Os Loucos da Rua Mazur" é um romance "bem estruturado, bem escrito, que capta a atenção quer pelo tema, quer pela construção em tempos paralelos".
O júri elogiou "as qualidades de efabulação e verosimilhança em episódios de violência brutal com motivações ideológico-políticas e étnico-religiosas" deste romance inédito de João Pinto Coelho.
Sobre o romance, antecipa o grupo LeYa: “Paris, 2001. Yankel – um livreiro cego que pede às amantes que lhe leiam na cama – recebe a visita de Eryk, seu amigo de infância. Não se veem desde um terrível incidente, durante a ocupação alemã, na pequena cidade onde cresceram – e em cuja floresta correram desenfreados para ver quem primeiro chegava ao coração de Shionka. Eryk – hoje um escritor famoso – está doente e não quer morrer sem escrever o livro que o há de redimir”.
Para escrever este livro, “precisa da memória do amigo judeu, que sempre viu muito para além da sua cegueira”.
“Ao longo de meses, a luz ficará acesa na Livraria Thibault. Enquanto Yankel e Eryk mergulham no passado sob o olhar meticuloso de Vivienne – a editora que não diz tudo o que sabe –, virá ao de cima a história de uma cidade que esteve sempre no fio da navalha; uma cidade de cristãos e judeus, de sãos e de loucos, ocupada por soviéticos e alemães, onde um dia a barbárie correu à solta pelas ruas e nada voltou a ser como era”, acrescentou a editora.
João Pinto Coelho nasceu em Londres há 50 anos e é licenciado em Arquitetura pela Universidade Técnica de Lisboa.
Em 2009 e 2011 participou em ações do Conselho da Europa, em Auschwitz, na Polónia, tendo juntado alunos portugueses e polacos no projeto “Auschwitz in 1st Person/A Letter to Meir Berkovich”.
Para escrever este romance, o escritor baseou-se no trabalho de investigação que desenvolve há vários anos sobre o holocausto para mostrar “que os perpetradores não foram apenas os alemães, mas sim outros atores, os chamados atores improváveis”.
“Eu ando a fazer investigação sobre o Holocausto há cerca de 30 anos, sobretudo com mais intensidade nos últimos dez ou 12, e isso resultou neste livro. Eu sempre pensei que se um dia viesse a escrever um livro, seria sobre este tema, e veio a acontecer assim”, contou em entrevista à agência Lusa.
Um dos protagonistas do livro, que o júri do prémio destacou pela sua “força humana” e como sendo uma personagem que irá ficar como “figura inesquecível da ficção”, é o livreiro cego.
“É um homem que está na fase final da sua vida, que tem uma livraria em Paris e que é judeu, que viveu na Polónia, que sobreviveu ao Holocausto, que sobreviveu na sua pequena cidade e que reencontra um amigo de infância cristão e uma editora”, afirmou o autor.
No fundo, o livreiro é a personagem central da narrativa e é a única personagem a quem o escritor dá voz na primeira pessoa, de vez em quando, apenas em pequenos excertos.
O autor tem já publicado o romance "Perguntem a Sarah Gross" (2015), que foi finalista do Prémio LeYa em 2014.
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