No total são 16 as obras que surgem espalhadas por três pisos, entre pipos, garrafas e ferramentas vinícolas, numa mostra que tem início no Largo da Cruz e termina no Jardim da Ema.
Através de um percurso “algo exigente do ponto de vista físico”, como referiu a curadora Joana Valsassina enquanto apresentava a mostra aos jornalistas, o público é convocado através dos sentidos, uma vez que o perfume do vinho e o aroma a madeira se misturam com as sensações visuais e sonoras que as obras provocam.
“Espaço para o Corpo” integra escultura de grandes dimensões, objetos de menor dimensão, instalações sonoras e trabalhos em vídeo.
Em declarações à agência Lusa, Joana Valsassina destacou que “algumas obras apelam ao movimento do corpo do espectador, enquanto em outras é o corpo e o rosto da própria artista que está no centro”.
Já na brochura da exposição lê-se que “as obras problematizam o corpo enquanto agente criativo e percetivo, explorando a sua relação com o espaço e com o tempo, com o movimento e com a ausência, com a arquitetura e com a intimidade”.
Esta é uma exposição da Fundação de Serralves concebida para as Caves Ferreira, um espaço intimamente ligado a uma figura feminina, a icónica Dona Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida por Ferreirinha, que foi uma empresária portuguesa do século XIX ligada ao cultivo do Vinho do Porto.
A esta inspiração, Joana Valsassina junta outra e igualmente feminina, a escritora e ativista feminista francesa Simone de Beauvoir que “empresta” à exposição uma das suas citações: “O corpo não é uma coisa, é uma situação: é a nossa tomada de posse do mundo e o esboço dos nossos projetos”.
“Gate 1” é a primeira obra da mostra, uma peça inspirada no portão de uma casa da artista polaca Monika Sosnowska.
Dessa, o visitante passa para as “Marquises” da luso-moçambicana Ângela Ferreira ou para a “Polaroid” de Susana Mendes da Silva que coloca o seu próprio rosto em posição central.
Cristina Mateus acrescenta “Sim e Não”, uma instalação vídeo e sonora que antecede os vídeos da brasileira Anna Bella Geiger, da norte-americana Hannah Wilke, ou da cubana Ana Mendieta que chegou aos Estados Unidos como refugiada em 1961.
Soma-se a escultura da espanhola Cristina Iglesias ou “Drop”, de Marije von Warmerdam, que se traduz num som, o de uma bola de pingue-pongue que acompanha o visitante ao longo de uma rampa.
O rigor geométrico surge na exposição através de “Series C Relief”, da alemã Charlotte Posenenske, enquanto a ironia e o humor com “Mom Petit Crochet”, de Ana Jotta.
Adelina Lopes, Dara Birnbaum, Ana Vieira e Paulina Olowska completam a mostra que finaliza com o “Words for gardens”, de Luísa Cunha, descrita pela curadora como “uma artista única pela relação poética que faz da voz com a palavra e o desenho”.
A também coordenadora do programa de exposições itinerantes, na vertente de itinerâncias nacionais, da coleção de Serralves, referiu que “esta exposição foi concebida especificamente para o espaço das caves” para “permitir o cruzamento de públicos”, mas sendo uma mostra “ambiciosa poderá itinerar para outros espaços”.
Sobre o público-alvo de uma exposição que vai estar patente até setembro, a curadora explicou que o objetivo é, através do “cruzamento de públicos que podia coincidir ou não”, por um lado “chegar a um público que não iria a Serralves, mas assim conhece a coleção de Serralves”, e por outro levar “outro tipo de público às Caves Ferreira”.
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