Depois de, em 2009, ter apresentado duas instalações em vídeo na capela da Casa de Serralves, onde teve a oportunidade para se encontrar com Manoel de Oliveira (1908-2015), incluindo um momento gravado que ficou para a posteridade, o trabalho da realizadora francesa volta a estar exposto em Serralves, desta feita na Casa do Cinema que tem o nome do cineasta português.
“Agnès Varda (1928-2019) afirma ter tido três vidas: primeiro como fotógrafa, depois como cineasta e, finalmente, como artista plástica. Passando por cada uma dessas três modalidades, esta exposição testemunha o modo como a sua produção artística se desenvolveu em diálogo com a sua obra cinematográfica, sendo também representativa do modo como a realizadora se foi reinventando”, lembrou a Fundação de Serralves, em comunicado.
A exposição “Luz e Sombra” vai incluir duas instalações: “Uma cabana de cinema: A estufa da felicidade”, de 2018, e “Patatutopia”, de 2003.
Os dois trabalhos “dispõem-se a um idêntico confronto: a falsa vivacidade dos girassóis e a deterioração das batatas, a imagem estereotipada da felicidade e a representação alegórica da velhice”.
“Oposições que, em última instância, se acordam e sublimam num antagonismo entre uma crítica da inutilidade e os princípios éticos e estéticos da reutilização, do combate ao desperdício e à obsolescência — em todos os sentidos: materiais, simbólicos, políticos, fílmicos e humanos”, realçou Serralves, no mesmo texto, sobre a exposição que conta com curadoria do diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, António Preto.
Aquando da morte de Varda, em 2019, Preto disse à Lusa que com o desaparecimento da cineasta se tinha perdido também “uma forma de fazer cinema e um entendimento do cinema de que ela foi pioneira”.
“É representativa dessa nova maneira de olhar para a possibilidade de filmar e para o mundo através da câmara. Era uma realizadora profundamente curiosa, profundamente inquieta e profundamente generosa. Os filmes traduzem todas as dimensões da sua pessoa, que se confunde com a obra”, disse o diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira.
António Preto, que escreveu em 2016 o discurso laudatório da atribuição do doutoramento ‘honoris causa’ a Agnès Varda pela Universidade Lusófona do Porto, sublinhou que a morte da cineasta foi “uma perda enorme para o cinema europeu e para o cinema de autor”.
Multipremiada ao longo de uma carreira iniciada em 1954 com “La Pointe-Courte”, Varda nasceu em Bruxelas no dia 30 de maio de 1928, filha de pai grego e mãe francesa, mudando-se para Paris para estudar fotografia, segundo a biografia da France Culture.
Habitualmente classificada como a “avó” do movimento cinematográfico ‘Nouvelle Vague’, Varda destacou-se, poucos anos depois da sua estreia, com “Cléo de 5 à 7” (“Duas Horas na Vida de uma Mulher”, no título português).
Entre os seus filmes mais conhecidos e premiados estão “Sem Eira Nem Beira”, “As Praias de Agnès”, “Duas horas na vida de uma mulher”, “A felicidade”, “Os respigadores e a respigadora” e “As praias de Agnès”.
Recebeu os mais importantes prémios de cinema, entre os quais o Leopardo de Honra do Festival de Locarno, a Palma de Ouro de Carreira do Festival de Cannes e o Óscar honorário.
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