“É uma viagem, porque permite ver o percurso da Paula Rego. Temos obras desde 1975 até 2004, portanto o período é suficientemente abrangente para conseguirmos ver o percurso da artista”, resumiu aos jornalistas Isabel Braga, curadora da exposição “Quem conta um conto… Paula Rego na Coleção de Serralves”, que é hoje formalmente inaugurada no Museu de Serralves, apesar de já estar aberta ao público desde o final de outubro.
À margem de uma visita para a imprensa, Isabel Braga disse que a mostra tem 21 obras, sendo 20 do acervo de Serralves, algumas delas depósitos, e uma de um colecionador privado.
“O título da exposição fala justamente de quem conta um conto, acrescenta um ponto e é um pouco isso. Por um lado, a Paula Rego vai buscar os seus temas a contos populares tradicionais, a temas literários, a histórias da sua infância e com essas informações ela vai-nos contar várias histórias. Cada quadro dela é uma história, ou seja, ela vai acrescentar algo ao conto original. Para além disso, todos nós vamos também acrescentar a nossa própria interpretação e vamos dar a nossa própria leitura das coisas com base no nosso conhecimento”, afirmou a curadora.
A exposição revela a “linguagem extremamente singular” que Paula Rego foi construindo desde o início da sua carreira, acrescentou Isabel Braga.
“Desde o início da carreira [de Paula Rego] que há crítica ao regime político da altura e depois ao longo de todo o seu trabalho até às obras mais recentes, que é precisamente essa crítica ao poder, ao totalitarismo. Ela é uma pessoa que teve sempre o seu modo de pensar muito livre, que era caracterizada por uma certa desobediência aos padrões”, realçou.
Isabel Braga explicou que a exposição não é “oficialmente uma celebração do 25 de Abril”, mas mostra as críticas ao Estado Novo que Paula Rego fez pela arte ao longo de toda a sua carreira.
“Muitas das suas obras fazem referência justamente aos anos de infância em que ela viveu num Portugal cinzento, e de onde saiu aos 17 anos, porque o pai, que era uma pessoa liberal e proveniente de uma classe social alta, foi capaz de perceber que o Portugal daquela época não era um país para uma mulher e, portanto, Rego foi estudar para Inglaterra, onde estudou artes em Londres, e onde teve a possibilidade de fazer uma carreira e de viver uma vida bastante diferente daquela que teria vivido se ficasse em Portugal”, frisou a curadora.
Organizada no ano em que Paula Rego morreu, a exposição mostra um conjunto de gravuras em torno do tema “Menina e cão” e que foram executadas em 1987, como a “Menina sentada num cão”, “Menina com homem pequeno e cão”, “Quatro meninas a brincar com um cão” e “Menina com a mãe e um cão” ou “Histórias de embalar”, sobre uma cena de violência em que o cão ataca um homem, sob as ordens da menina.
O universo dos contos infantis pode, por exemplo, ser apreciado com a obra “Children and their Stories” (1989), que conta a história de um grupo de crianças que dança de mãos dadas, numa roda.
“Quem conta um conto…” fica patente em Serralves até 30 de abril de 2023.
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