
No ano em que comemora 40 anos a companhia assinala o dia Mundial do Teatro, 27 de março, com “uma celebração explosiva que pretende ser uma pedrada no charco do comemorativismo rotineiro”, anunciou o Teatro da Rainha num comunicado sobre o ciclo Pimentíada.
Centrado na obra de Alberto Pimenta o ciclo arranca, na quinta-feira, com “O discurso sobre o filho-da-puta”, obra que o Teatro da Rainha já tinha levado à cena e a que agora regressa com elenco renovado (Inês Barros, Fábio Costa, Nuno Machado e Marta Taveira) e encenação de Fernando Mora Ramos.
No dia seguinte Pimenta dá tema a um colóquio que juntará, na Sala Estúdio do Teatro da Rainha, Fernando Mora Ramos, Joëlle Ghazarian, Júlio Henriques, Lúcia Evangelista, Maria Irene Ramalho e Manuel Portela, para debater a vida e obra do poeta e ensaísta natural do Porto.
A “Indulgência Plenária” - poema-livro, em cinco partes, sobre o brutal assassinato da transexual brasileira Gisberta Salce Júnior por um grupo de 14 adolescentes abrigados numa instituição católica - estará em destaque no ciclo de poesia “Diga 33”, com uma leitura aberta no Centro Cultural e de Congressos (CCC) das Caldas da Rainha, no dia 01 abril.
Segue-se “O Homem-Pykante – Diálogos kom Pimenta”, o filme performance de Edgar Pêra que será exibido no pequeno auditório do CCC (no dia 03), tendo como ponto de partida os arquivos, filmados pelo cineasta, entre 1994 e 2018, de performances, conversas e leituras de Alberto Pimenta.
Trata-se “não de um documentário de homenagem, mas antes de “um filme poético de celebração da obra de Alberto Pimenta, fruto de uma amizade e cumplicidade mantidas ao longo de décadas”, pode ler-se na página da companhia na internet.
“Reality Show ou a alegoria das cavernas”, poema em três atos de Alberto Pimenta, é a proposta que se segue, numa encenação de Fernando Mora a alertar para “uma humanidade em queda, a pique, caindo para o interior de um poço escuro que é a caverna da desinformação, das ‘fake news’, da glorificação da barbárie, da propaganda, das teorias da conspiração, da mentira que por aí se propaga em rede ao serviço de um caos que só interessa a quem não lucra com a verdade”.
E no dia 05 o ciclo Pimentíada despede-se com "Marthiya de Abdel Hamidm segundo Alberto Pimenta", uma criação sonora e cénica do compositor Carlos Alberto Augusto, sobre o texto do escritor que aborda a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, em 2003.
A programação dedicada ao “crítico impiedoso da complacência e atavismo portugueses, da corrupção 'endémica', deste conviver com a inoperância e com o fora de prazo contente de tudo, com a podridão institucional” contará com momentos de entrada livre, como “o Discurso sobre o Filho-da-Puta”, e outros para os quais é possível adquirir um passe global de acesso ou bilhetes individuais.
Nascido no Porto, em 26 de dezembro de 1937, José Alberto Resende Figueiredo Pimenta é uma das mais importantes figuras do experimentalismo em Portugal e dos principais poetas contemporâneos, conhecido sobretudo pelo caráter crítico e irreverente da obra, assim como pela diversidade dos géneros abordados. Filólogo, foi professor da Faculdade de Letras da Universidade Nova de Lisboa.
Ao longo dos seus quase 90 anos de vida, escreveu mais de 80 livros, muitos deles premiados, entre poesia, prosa, ensaio, teatro, linguística, crítica, tradução, e não hesitou na produção de performances e happenings.
Entre as suas obras contam-se “Ascensão de dez gostos à boca”, “O silêncio dos poetas” e “A magia que tira os pecados do mundo”, além de "Discurso Sobre o Filho-da-Puta", um dos mais conhecidos e traduzidos dos seus títulos. Entre as edições mais recentes encontram-se "They'll never be the same", "Foge a nuvem com o tempo" e “Ilhíada”.
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