A abordagem desta tragédia de Eurípides pelo dramaturgo e encenador português abriu a edição de 2022 do Festival de Avignon, em França, festival de artes de palco que Tiago Rodrigues passou a dirigir, e abre caminho a quatro outras produções do projeto “Finisterra”, elaborado no interior da União dos Teatros da Europa, de que o S. João faz parte desde 2003.
“Pensar a catástrofe, hoje” é o mote de “Finisterra”, “o novo gesto internacional do Teatro Nacional S. João” (TNSJ), é o corolário de um projeto desenvolvido em conjunto por teatros nacionais de Espanha, França, Luxemburgo, Roménia, República Checa, Eslováquia, Bulgária, Eslovénia, Sérvia e Grécia.
Em “Finisterra” cada produção resulta da parceria de dois teatros nacionais, circula depois pelos restantes e, no Porto, os espetáculos serão representados sequencialmente, a partir do próximo dia 27, depois de estreados nos países de origem, ocupando cerca de um mês de programação, segundo o comunicado do TNSJ.
“Iphigénie”, “Decalogue of Anxiety”, “Prometheus ’22”, “Focs/Vatre” e “Iokasté” são os títulos das peças a serem apresentadas nos palcos dos teatros S. João e Carlos Alberto.
A partir da matriz clássica da tragédia grega, as peças procuraram refletir sobre a experiência da catástrofe, questionando o impacto da pandemia e o recrudescimento dos nacionalismos no continente europeu.
“Iphigénie”, uma produção do Théâtre National de Strasbourg, com participação do TNSJ, estará em cena neste teatro em 27 e 28 de janeiro.
Com texto de Tiago Rodrigues e encenação de Anne Théron, “Iphigénie”, que revisita a personagem de Eurípides, também tratada por Racine, põe em cena o destino de Ifigénia e, segundo a apresentação da obra, como este seria se “os homens que decidem a sua sorte não se submetessem à autoridade dos deuses”.
“Uma abordagem ao livre-arbítrio que seduziu a encenadora francesa, que explora com frequência o grito interior das mulheres nas suas encenações”, explica o TNSJ. Falado em francês, “Iphigénie” conta com interpretação dos atores portugueses Carolina Amaral e João Cravo Cardoso, nos papéis de Ifigénia e Aquiles, aos quais se juntam Fanny Avram, Alez Descas e Vincent Dissez, entre outros, e chega ao Porto depois de uma digressão por França, iniciada na abertura do Festival d’Avignon, no passado mês de julho.
“Decalogue of Anxiety”, uma coprodução búlgaro-luxemburguesa com dramaturgia de Florian Hirsch, do Théâtre National du Luxembourg, e direção artística de Margarita Mladenova e Ivan Dobchev, do Theatre Laboratory Sfumato, é o segundo espetáculo do ciclo, que estará no Teatro Carlos Alberto nos dias 03 e 04 de fevereiro, uma semana depois de se estrear no Luxemburgo.
A partir de “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury, “o espetáculo imagina um grupo de dissidentes que procura salvar a literatura mundial das chamas, memorizando alguns dos grandes textos da humanidade, de Platão a Dostoiévski e de Tchékhov a Heiner Müller e à sua Máquina-Hamlet”, indica o S. João.
Falado em língua portuguesa, inglesa, alemã, francesa, castelhana, grega e búlgara, “Decalogue of Anxiety” é “uma esquizofrenia idiomática protagonizada por dez jovens atores e atrizes, entre os quais o português Daniel Pinto”, segundo a programação do S. João.
A 10 e 11 de fevereiro, este teatro apresenta “Prometheus’22”, num regresso do encenador romeno-húngaro Gábor Tompa a esta sala do Porto, onde dirigiu a recente produção do TNSJ “À Espera de Godot”, de Beckett.
Acompanhado por Ágnes Kali, “Prometheus ’22” é uma coprodução dos romenos Hungarian Theatre of Cluj e Constanta State Theatre e do teatro eslovaco SNT Drama Ljubljana.
A peça parte de “Prometeu Agrilhoado”, de Ésquilo, e estabelece um “elo paradoxal entre os intelectuais — cientistas, médicos, artistas — do século XXI e o titã da mitologia grega”.
Para o encenador Gábor Tompa, o espetáculo “aborda o mito de Prometeu a partir uma perspetiva irónica, explorando a sua relevância no mundo contemporâneo”. Falado em esloveno, romeno, húngaro e inglês, “Prometheus´22” é uma homenagem ao dramaturgo Samuel Beckett.
Nos dias 17 e 18 de fevereiro, também no S. João, é a vez de “Focs/Vatre”, uma encenação de Carme Portaceli, diretora do Teatre Nacional de Catalunya, instituição produtora do espetáculo, em parceria com o sérvio Yugoslav Drama Theatre.
“Focs/Vatre”, termos catalão e sérvio para fogos, baseia-se em “Feux”, da escritora belga Marguerite Yourcenar.
Publicada em 1936, a obra é uma sequência de textos sobre o conceito de amor que tem por base as figuras da mitologia grega. Falada em sérvio e catalão, a peça estreia-se na Sérvia, a 02 de fevereiro.
A fechar o “Finisterra”, no Teatro Carlos Alberto, estará, nos dias 24 e 25 de fevereiro, a peça “Iokasté”, uma coprodução checo-eslovaca, falada em ambas as línguas, com texto e encenação do encenador eslovaco Lukás Brutovský.
A peça chega ao Porto depois de estreada nos teatros produtores, o Prague City e o Slovak Chamber — SKD Martin, e centra-se na figura da mitologia grega Jocasta, a mãe de Édipo, “dando-lhe a centralidade e a voz que nunca teve, para investigar as raízes da misoginia, do antifeminismo e da masculinidade tóxica”, acrescenta o comunicado do S. João.
Os espetáculos do “Finisterra” decorrem à sexta-feira, às 21:00, e ao sábado, às 19:00, e têm legendagem em português.
Além de ingressos individuais para cada espetáculo, o TNSJ disponibiliza a possibilidade de aquisição de uma assinatura para todo o ciclo.
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