“Terra” foi filmado no Alentejo e tem como protagonista Nuno Alves, um homem que faz carvão em dois grandes fornos cobertos de terra. Embora o processo de fazer carvão seja central no filme, o trabalho da portuguesa Rossana Torres e do japonês Hiroatsu Suzuki “não é propriamente um trabalho documental, é mais uma procura, uma pesquisa cinematográfica da imagem, do som e da maneira de transmitir uma emoção ou de sentir, sentir os elementos naturais, e não só”.
Com o filme, os dois realizadores pretendem, explicou Rossana Torres em declarações à Lusa, “fazer pensar sobre o universo, o mundo, os ciclos naturais, a ancestralidade, também, do ser humano e da vida, descobrir mundos, no fundo, a partir de uma coisa concreta, que neste caso é fazer carvão”.
Os dois realizadores conheceram-se há alguns anos na mesma região que serve de cenário ao filme, e aí iniciaram “uma experiência sem compromisso nenhum”.
“Fomos filmando, filmávamos os dois, situações, encontro com pessoas, conhecer pessoas, conhecer lugares, e daí surgiu o [primeiro filme] ‘Cordão Verde’ [de 2009], que foi uma experiência riquíssima, uma aprendizagem dos dois lados muito grande sobre tudo, sobre o mundo sobre o cinema”, contou Rossana Torres.
Desde “Cordão Verde”, que Rossana Torres e Hiroatsu Suzuki tinham vontade “de continuar e de voltar a fazer [um filme] naquela área”.
Os dois tentaram “financiamentos vários”, mas não conseguiram, “porque à partida não há um guião, não há uma ideia definida, é mais a vontade de encontrar esses lugares e essas pessoas, e depois filma-se o que se achar que faz sentido no momento, é mais um ato intuitivo, não é mental”.
“Terra” foi sendo feito “quando havia tempo”. Nessas filmagens encontraram Nuno Alves, o protagonista do filme, “que também faz esculturas em azinho”.
“Foi a partir daí que o conhecemos e soubemos que ele fazia carvão e que no dia seguinte ia começar uma fornada. Perguntámos se podíamos ir ver. Quando encontrámos aquele lugar ficámos encantados. Depois fomos acompanhando esse trabalho dele, ele fez várias fornadas e fomos filmando”, recordou.
As filmagens duraram cerca de quatro meses, no lugar onde estão os dois fornos “e noutros lugares, porque havia momentos em que nada estava a acontecer”.
“Terra” estreou-se o ano passado no DocLisboa, onde ganhou o prémio para Melhor Filme da Competição Portuguesa, e Rossa Torres confessa que “não estava à espera” da distinção, já que “não é um filme habitual, é um filme diferente”.
“Terra” é exibido entre hoje e terça-feira, no cinema Ideal, sempre às 19:30.
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