A esta 30.ª edição do prémio concorreram cerca de meia centena de obras literárias originais, tendo a vencedora recebido um premio pecuniário no valor de cinco mil euros.
“Um cão deitado à fossa” é um romance cuja arquitetura literária se processa através do cruzamento de dois registos narrativos diferentes, referiu o júri.
Por um lado, uma história que “encena vidas marcadas por uma espécie de infelicidade dramática de natureza psicológica e afetiva, e onde um modo machista e repressivo de estar no mundo orienta, através de uma linguagem muito grosseira, comportamentos iníquos e atitudes violentas”.
Por outro lado, num registo gráfico e literário completamente diferente, e “através de uma forma de comentário estilisticamente muito cativante, mas de grande contundência, temos uma espécie de libelo acusatório desse universo tipificado por homens egoístas e mulheres submissas”, resume.
O júri considerou ainda que embora a atmosfera do romance seja a de uma “ruralidade fechada nos seus próprios fantasmas”, esta é uma história “muito agradável de ler”, porque o tom violento e desesperado – reflexo da complexidade das relações entre homens e mulheres -, “emerge de uma escrita cujo alcance literário deve ser reconhecido pela sua qualidade imagística e harmonia estilística”.
A cerimónia pública de anúncio do vencedor realizou-se hoje no Fórum Municipal Romeu Correia – Sala Pablo Neruda, em Almada.
Carla Pais, nascida em 1979 no concelho de Leiria, abandonou a escola aos dezassete anos para ser mãe, terminando o 12.º ano mais tarde, no ensino noturno.
Em 2012, mudou-se para França, onde fez limpezas, embalou salmão e tomou conta de crianças. Hoje é empregada de escritório num Centro de Formação à Distância.
Em 2015, venceu o Prémio Literário Horácio Bento Gouveia com o conto “A Alma do Diabo” e obteve o terceiro lugar no concurso de poesia Agostinho Gomes com o poema “Assimetria dos Lábios”.
No ano seguinte, o seu conto “O búzio do meu pai” foi selecionado para integrar a antologia de contos “A Infância”, promovida pelo Centro de Estudos Mário Cláudio, e, em 2017, arrecadou o Prémio de Poesia Francisco Rodrigues Lobo, pela obra “A Instrumentação do Fogo”.
Indigitado para o Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís de 2016, o romance “Mea Culpa” acabou por não o obter, dado que a autora tinha publicado anteriormente uma outra obra de caráter ficcional, o que não era permitido pelo regulamento.
Lançado pela Câmara Municipal de Almada em 1989, para promover a criação literária em língua portuguesa, o Prémio Literário Cidade de Almada é atribuído anualmente, sendo dedicado ao Romance nos anos par, e à Poesia nos anos ímpar.
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