Visto como um apologista das atrocidades cometidas pela Sérvia de Slobodan Milosevic – de quem fez o elogio fúnebre em 2006 - durante a guerra dos Balcãs, a escolha de Peter Handke para a atribuição do galardão deste ano tem sido criticada, levando até à demissão de um membro externo do comité do Nobel da Literatura.
Há semanas, o jornal The Intercept revelou que Handke chegou a ser detentor de um passaporte jugoslavo, em 1999, embora não tenha sido possível esclarecer se o autor obteve aquela nacionalidade.
Hoje, na conferência de imprensa que antecede a palestra dos galardoados, Handke respondeu ao jornalista do Intercept Peter Maass que preferia a carta anónima de repúdio que recebeu, escrita sobre papel higiénico, do que as suas “perguntas vazias e ignorantes”.
Questionado sobre se havia mudado de opinião em relação à guerra dos Balcãs nos anos 1990, Handke, em dia do seu 77.º aniversário, afirmou amar a literatura, mas detestar as opiniões, recusando-se a responder a perguntas sobre o tema.
Já hoje, horas antes da conferência de imprensa, o académico e antigo secretário permanente da Academia Sueca Peter Englund, que nos anos 1990 cobriu o conflito nos Balcãs enquanto jornalista, anunciou que não iria estar presente na entregue do Nobel da Literatura a Peter Handke, por considerar que seria uma hipocrisia.
Para terça-feira, dia em que está prevista a entrega do prémio, estão marcados protestos na capital sueca contra a atribuição do galardão ao austríaco. Questionado sobre o que é quereria dizer aos manifestantes, Handke respondeu: “Diga-me. Talvez precise do seu conselho”.
Em 1995, meses depois do massacre de Srebrenica, Peter Handke publicou um livro controverso que regista a viagem à região, intitulado "Voyage hivernal vers le Danube, la Save, la Morava et la Drina" ("Viagem de Inverno aos rios Danúbio, Save, Morava e Drina", em tradução livre).
Nascido em 1942 em Griffen, na Áustria, Peter Handke foi apresentado pela Academia Sueca como "um dos mais influentes escritores da Europa depois da Segunda Guerra Mundial", não isento de polémica, por ter tido uma postura pró-Sérvia na guerra dos Balcãs, nos anos 1990.
Estudou Direito, mas abandonou o curso quando publicou o primeiro romance, "Die Hornissen" ("As vespas"), aos 22 anos, em 1966, ao qual se seguiu a peça "Offending the audience" ("Insulto ao público", 1969). Com ambos "marcou uma posição no panorama literário", escreveu a Academia Sueca.
Numa entrevista à agência Lusa em 2009, quando esteve em Portugal a convite do Estoril Film Festival, Peter Handke apresentava-se, na altura, como um "escritor de prosa" que escreveu poesia quando era jovem e que gostaria de voltar a escrevê-la.
O autor, com mais de uma dezena de obras publicadas em Portugal, entre as quais "A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty", "A Mulher Canhota" e "Poema à Duração", afirmava ser um "feliz prisioneiro da literatura" e admitia que era "normal não escrever absolutamente nada durante meses e meses".
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