Victor Vidal, distinguido por unanimidade com o Prémio Leya, tem 32 anos, é licenciado em História de Arte e professor no Rio de Janeiro, Brasil.
Sobre "Não há pássaros aqui", primeira obra de Victor Vidal, o júri sublinhou a “coerência entre a escrita correntia, tão adequada à inserção de uma história invulgar, de grande violência e de segredos escondidos na aparente banalidade do quotidiano”, afirmou Manuel Alegre.
A notícia apanhou Victor Vidal de surpresa em casa, logo bem cedo de manhã: “Tomei um susto. Estava lendo um livro, tinha acabado de tomar o café da manhã. Estou muito feliz e contente pela homenagem, mas ao mesmo tempo não me parece real”, disse o escritor à Lusa.
“Estou muito emocionado, nunca publiquei nenhum livro. Sempre escrevi, mas nunca tive coragem de mostrar o meu trabalho”, contou.
Victor Vidal diz que o fator desbloqueador desse receio foi o facto de pela primeira vez ter sentido “que o texto tinha algo de importante” para si e para quem o lesse, na medida em que é “muito pessoal”, embora não tenha sido vivido por si.
“Não há pássaros aqui” narra a história de uma mulher que recebe uma chamada telefónica sobre a mãe, com quem não tem boas relações há muitos anos, a dar conta do seu desaparecimento, relatou Victor Vidal.
Essa mulher regressa então à casa da infância para perceber o que se passou, acrescentou, explicando que “esta é a premissa da história”, que nasceu de uma viagem que o autor fez a Amesterdão, onde visitou e conheceu a casa de Anne Frank.
“Conhecer aquela casa e ver onde as pessoas se esconderam teve um forte impacto em mim e comecei a pensar na necessidade de esconder, nos traumas de infância e em esconderijos”.
O Prémio Leya
De acordo com a organização, ao galardão apresentaram-se 907 candidatos de 14 países, tendo sido a edição mais concorrida de sempre. Portugal, Brasil, Angola e Moçambique foram os países de onde vieram mais originais.
O júri contou, nesta edição, com um novo membro, a jornalista e historiadora brasileira Josélia Aguiar, que foi curadora do Festival Literário de Paraty (2017-2018) e é autora de uma biografia de Jorge Amado, vencedora do Prémio Jabuti em 2019, e atualmente é diretora da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo.
O elenco de jurados mantém os nomes das anteriores edições, designadamente José Carlos Seabra Pereira, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Lourenço do Rosário, ex-reitor da Universidade Politécnica de Maputo, o escritor Nuno Júdice, a jornalista e crítica literária Isabel Lucas e a poetisa angolana Ana Paula Tavares.
O Prémio Leya foi criado em 2008 com o objetivo de distinguir um romance inédito escrito em português, sendo o prémio literário com o maior valor pecuniário para romances inéditos em língua portuguesa.
No ano passado, por unanimidade, o vencedor foi o brasileiro Celso Costa, com a obra “A arte de driblar destinos”.
(Notícia atualizada às 13h18 com declarações do escritor)
Comentários