Em entrevista à agência Lusa, a coordenadora destas ações de formação explicou que surgem no âmbito de um programa da União Europeia, adjudicado à Federação Internacional da Cruz Vermelha, para depois ser gerido por cada uma das 24 sociedades nacionais que estão envolvidas.
Susana Gouveia disse que o programa dá pelo nome de EU4Health e é com este enquadramento que até dezembro de 2025 serão realizadas “uma série de ações de primeiros socorros psicológicos”, além de “outras acções que têm a ver com a promoção da saúde mental e do apoio psicossocial”.
O foco é o bem-estar psicológico de todos os que lidam com pessoas refugiadas, sejam voluntários, técnicos, auxiliares, tripulantes de ambulâncias ou com qualquer outra função, e o objetivo é dar formação para “robustecer as competências” de quem tem que lidar com quem foge de conflitos e procura segurança.
“Ao mesmo tempo que estamos a dar-lhes estas ferramentas, estas competências adicionais, estaremos com toda a certeza, a melhorar a qualidade de serviço que eles vão prestar a quem é refugiado, principalmente àquelas pessoas que são refugiadas em contexto de conflito armado, nomeadamente as pessoas que vêm ou que vieram da Ucrânia”, explicou Susana Gouveia.
A responsável apontou que as pessoas que fogem da guerra na Ucrânia, por estarem mais próximas geograficamente, acabam por ser um beneficiário mais sobrevalorizado, mas destacou que, por ser um projeto europeu, cada sociedade nacional da Cruz Vermelha “desenvolve as acções de acordo com aquilo que são as suas necessidades”.
“Ao estarmos a capacitar as pessoas para lidar com situações de necessidade de promoção de bem-estar e de estabilização emocional por parte deste público estratégico, nós não estamos só a direcionar para pessoas deslocadas da Ucrânia, estamos necessariamente a capacitar os técnicos para lidarem com todas as pessoas”, destacou.
Susana Gouveia adiantou que todos os 24 países estão assim obrigados a dar estas ações de formação em primeiros-socorros psicológicos, destacado o pioneirismo do projeto, já que “não é fácil ter financiamento direto para promover a saúde mental”.
De acordo com a responsável, estes primeiros-socorros psicológicos são técnicas que servem para promover as competências, no caso de quem lida com refugiados, para que consigam “fazer uma estabilização emocional da pessoa” que têm à frente e que estará em “descompensação”.
As primeiras ações de formação aconteceram nos dias 02 e 15 de junho e as próximas decorrem entre final deste mês e início de julho, sendo que no total das cinco formações haverá 80 pessoas formadas e com ferramentas que as ajudem a ser capazes de “lidar tanto com o seu stress, a sua estabilização emocional, como a estabilização dos outros”.
Susana Gouveia adiantou que o projeto vai ser disseminado pelas estruturas locais da Cruz Vermelha Portuguesa, sendo elegíveis para este projetos as pessoas que estiveram, por exemplo, durante muito tempo nos centros de acolhimento de emergência, além de voluntários ou outro tipo de funcionários da organização que lidam com refugiados de uma forma direta.
Posteriormente, está pensado que este projeto venha a ser alargado a outros parceiros, nomeadamente voluntários de outras organizações de acolhimento, como as Misericórdias, a Proteção Civil ou outras.
Susana Gouveia descreveu esta formação como “uma medida de saúde pública”, comparando-a a uma situação em que, por exemplo, alguém é atropelado e em que é possível prestar os primeiros socorros enquanto se aguarda pela ajuda diferenciada.
“Isto é uma situação prática de como é que os primeiros socorros psicológicos podem ser. Podem ser utilizados não só em situações de gabinete, de contexto de atendimento, mas também em situações mais amplas ou em situações de exceção, como um tsunami”, explicou.
A responsável, que é também psicóloga, disse ainda que a Cruz Vermelha Portuguesa mantém o seu trabalho em Portugal de acolhimento de pessoas refugiadas, com trabalho na integração, procura por uma habitação, inserção no mercado de trabalho e aprendizagem da língua.
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