Quem andou a falar com peregrinos durante a JMJ habituou-se à expressão "mas está tudo bem", não havia queixa ou mal estar que demovesse os peregrinos da sua missão de estar em comunhão e em felicidade uns com os outros. Também assim o foi para os peregrinos que participaram na Jornada em cima de uma cadeira de rodas, ou a transportar uma. Os poucos problemas da organização "fazem parte" o pior foi a pior preparação de Lisboa, "mas está tudo bem".
Nicholas é francês e, com a ajuda de um voluntário, chega à zona preparada para mobilidade reduzida para assistir à Via Sacra no Parque Eduardo VII. A meio da JMJ diz não ter queixas em relação à acessibilidade do evento. "Está bastante boa, há acesso às partes fundamentais, toda a gente sabe que esta área existe. Às vezes custa e demora a chegar cá, mas assim que cá chegamos é ótimo", diz. A área a que Nicholas se refere é mesmo à frente do altar palco e embora não tenha sombra garante, "não nos podemos queixar. Há acesso a água e protetor solar constantemente". O discurso de Nicholas é pautado pela ideia de que a organização tem tido um papel fundamental e que, mesmo quando há coisas que não correm tão bem, não são as suficientes para se queixar. "O transporte entre palcos é ok, há transporte organizado, não nos podemos queixar. Às vezes falha e temos que chamar um Uber, mas isso é ok".
Diane e Tibu também são franceses, mas a experiência deles em nada se assemelha à de Nicholas. Já no Parque Tejo, antes da vigília, os dois empurram cadeiras de rodas, mas páram para dizer "tivemos muitas dificuldades, duas vezes não encontramos elevador e tivemos que encontrar pessoas que nos levantassem as cadeiras de rodas nas escadas". Têm no total duas cadeiras de rodas no grupo, todos os dias as transportam, dizem nunca ter sabido que a organização fazia esse serviço ou que havia autocarros. Mas a meio das queixas olham um para o outro e corrigem, "mas está tudo bem, as pessoas foram maravilhosas e tentaram ajudar-nos todas as vezes", refere Tibu. Acrescentando que "as infraestruturas da cidade é que não estão preparadas para isto. Principalmente para nós, que ficámos a 30 minutos do centro." Diane explica que a inscrição foi feita tardiamente e que, talvez por isso, não tenham recebido toda a informação. Acrescenta que uma das pessoas que está na cadeira de rodas foi fruto de um acidente muito recente e que, por isso, quando se inscreveram ainda nem essa informação tinham. Ressalvam, o problema nunca foi da JMJ, mas da preparação de Lisboa e principalmente das pedras soltas na calçada "mas não há problema, ficamos felizes em ajudar" dizem quase como pedindo desculpa por apontar críticas.
A calçada, e os seus desenhos em calcário branco e escuro, são o encanto dos turistas que a olham, mas as pedras soltas não são as melhores as amigas das cadeiras de rodas. Ismael é espanhol e esteve na Jornada de Madrid, começa por explicar que "em Madrid os caminhos são mais lisos, e não há pedras, por isso não há comparação possível". A caminho da Via Sacra não tem dúvidas que a acessibilidade e a inclusão da JMJ "está dentro do que se pode fazer, havendo tanta gente é impossível fazer mais e melhor. Está bem organizado, temos espaço mesmo à frente, dá para aceder facilmente." A única coisa menos boa, tal como disse Nicholas e há-de dizer Duarte, é o trajeto entre palcos, como por exemplo ir de Belém ao Parque Eduardo VII. "Aceder entre palcos é um pouco mais difícil, mas faz-se o que se pode", conclui.
Num Parque Tejo quente Lourenço, Duarte e Carlota tentam apanhar a água que a organização vai deitando sobre as pessoas. Fazem parte de um grupo "gigante" de 400 pessoas, um grupo de campos de férias católicos que vieram todos e se reuniram ali, no setor A5. Lourenço, que ficará para sempre conhecido como o jovem foi levitado pelo seu grupo, foi a todos os eventos principais da Jornada Mundial da Juventude.
Diz que a organização tem sido boa, embora o amigo Duarte acrescente "apesar de alguns dias não haver autocarros com rampa", o que obrigou o grupo a ter que ir a pé até casa. Duarte depressa acrescenta, "é bom que assim é uma oportunidade para falar e rezar". A conversa é feita a caminho da zona de acessibilidade reduzida no Parque Tejo, também esta mesmo ao lado do altar palco. Duarte tem acompanhado o amigo Lourenço todos os dias, "acho que em geral foi bom, mas houve algumas situações em que os acessos podiam ser um bocadinho mais controlados, mas também é difícil com a quantidade de pessoas que estão na cidade". E repete o exercício que tem feito todos os dias, "uma pessoa às vezes tem que ter bom senso e seguir bola para a frente." Mas não deixa de dizer que "os autocarros circulavam, embora alguns não tivessem rampa". E, como vai sendo habitual em todos os peregrinos, substitui as queixas por positividade, "com boa vontade tudo se faz." Lourenço diz que sempre que quis sempre pode entrar nos autocarros. E quanto ao calor tem a teoria de que o calor é psicológico e, por isso, o que manda não é o corpo é a mente. Por fim, Duarte reconhece e agradece às pessoas que, no geral, foram todas cooperantes.
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