A pandemia de covid-19 podia ter sido prevenida. Esta é a conclusão de um painel independente liderado por Helen Clark, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia e por Ellen Johnson Sirleaf, ex-presidente da Liberia.
O relatório agora conhecido foi pedido pelo diretor-geral da Organização Mundial de Saúde por iniciativa dos Estados membros, que exigiram em maio do ano passado uma análise imparcial do que aconteceu e do que pode ser aprendido com a pandemia.
Este painel independente descobriu "pontos fracos em todos os pontos da corrente": a preparação para enfrentar esta situação foi inconsistente, faltaram recursos financeiros, os sistemas de alerta foram lentos e fracos, a Organização Mundial de Saúde não tinha poder suficiente e a liderança política global foi ausente.
Para Ellen Johnson Sirleaf "a situação em que nos encontramos hoje podia ter sido prevenida. A propagação de um novo coronavírus, o SARS-CoV-2, transformou-se numa pandemia catastrófica, que já matou mais de 3,25 milhões de pessoas e continua a afetar a vida em todo o mundo, e é fruto de uma miríade de falhas, lacunas e atrasos na preparação da resposta. Isso deveu-se em parte à incapacidade de aprender com o passado".
Segundo Helen Clark, citada pelo The Guardian, fevereiro de 2020 foi mesmo "uma oportunidade perdida para evitar a pandemia, numa altura em que muitos países decidiram esperar para ver". "Só quando as camas nos cuidados intensivos começaram a encher é que alguns decidiram agir" e "aí já era muito tarde para evitar o impacto da pandemia", acrescenta.
Segundo o relatório, a China detectou o vírus prontamente, quando este surgiu no final de 2019, e os seus alertas deviam ter sido ouvidos.
"Quando olhamos para esse período, no final de dezembro de 2019, as autoridades de saúde de Wuhan agiram rapidamente quando perceberam que havia grupos de indivíduos com uma pneumonia que não era normal", diz Sirleaf.
Se o primeiro alerta foi rápido, os sistemas depois montados para validar e responder a esta ameaça foram "demasiado lentos. O sistema não foi rápido o suficiente quando confrontado com a rapidez de propagação de um patogénio respiratório".
A ação da OMS foi também "prejudicada pelos regulamentos e procedimentos internacionais de saúde", nota Clark.
Segundo painel deste relatório, a OMS poderia ter declarado o novo coronavírus uma emergência global a 22 de janeiro, o que só veio a acontecer a 30 desse mês. E durante o "mês perdido" de fevereiro de 2020, os países deviam ter-se preparado para o que aí vinha.
Depois, as atitudes a nível global variaram: enquanto alguns países adotaram uma estratégia agressiva para conter a propagação do vírus, outros "desvalorizaram" a questão e "isso teve consequências", diz Clark.
A situação sanitária complexa foi agravada “pela falta de liderança global, pelas tensões geopolíticas e pelo nacionalismo, o que enfraqueceu o sistema multilateral, cuja função é agir para manter o mundo seguro”.
O painel que realizou este relatório pede mudanças radicais para o futuro, por forma a garantir que os líderes políticos estão alinhados na forma como endereçam este tipo de desafio, tanto ao nível dos recursos financeiros como dos instrumentos que o mundo precisa para agir.
Assim, recomenda a criação de um “conselho global de ameaças à saúde”, liderado por chefes de estado, por forma a garantir uma monitorização deste tipo de ameaças e garantir uma resposta coletiva coordenada quando necessário.
Paralelamente, defende uma OMS mais ágil e com melhores recursos.
Por fim, pede aos líderes políticos dos países mais ricos que se comprometam a fazer chegar vacinas aos países com menos recursos.
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