Matthias Maurer falava à agência Lusa, à margem de uma iniciativa promovida pela agência espacial portuguesa Portugal Space, que o levou na sexta-feira a fazer com 30 jovens um voo parabólico, a partir de Beja, que simulou o efeito de gravidade zero, apenas sentido pelos astronautas no espaço.
"Acredito que em 100 anos será normal voar para o espaço como agora é normal voar para Espanha ou para os Estados Unidos em férias", disse, quando questionado sobre o futuro do turismo espacial, que teve um 'boom' em 2021, com viagens suborbitais, mas também orbitais até à Estação Espacial Internacional (EEI), apenas acessíveis a milionários.
O astronauta da Agência Espacial Europeia (ESA), que em maio regressou de uma missão, a primeira, na EEI, onde esteve seis meses, lembrou que hoje viaja-se de avião como não se fazia há 100 anos e que para voar para o espaço de forma mais consistente terá de haver regras.
"Não há regras no espaço, mas se voarmos num avião temos controlo de tráfego aéreo", assinalou, acrescentando que é preciso também evitar a produção de mais lixo espacial, usando foguetões e naves reutilizáveis e desenvolvendo tecnologia que permita "remover grandes satélites" desativados "antes de colidirem".
Matthias Maurer, 52 anos, considera que, dependendo da vontade política, haverá astronautas a voarem para Marte na década de 2040, ou até antes, dado que o conhecimento e a tecnologia espaciais aceleraram muito nos últimos dez anos. Os Estados Unidos ambicionam levar na década de 2030 astronautas para a superfície do planeta, onde terá havido água líquida e vida no passado.
"Voar para o espaço está a entrar numa nova era", afirmou, salientando que se pode aprender com as alterações climáticas de Marte para controlar as da Terra.
Durante a sua missão na EEI, a que chamou de "Beijo Cósmico", por ser uma "declaração de amor ao espaço", Matthias Maurer, formado em ciência dos materiais, fez mais de uma centena de experiências científicas, incluindo testes de novos materiais antimicrobianos, para evitar por exemplo contágios em hospitais por contacto com superfícies contaminadas.
Da cúpula da EEI, uma janela que se "abre" para o espaço, viu "o impacto dos humanos" na Terra, da qual a estação dista 400 quilómetros. Viu não só os efeitos da desflorestação, mas também os da guerra na Ucrânia, que observada do céu surgia "completamente às escuras", apenas pontuada pelos "clarões" de explosões.
Uma das lições que retirou da sua estada na Estação Espacial Internacional é que na Terra, a bem da sua sustentabilidade, todos deviam "trabalhar juntos", em cooperação, tal como os astronautas fazem na EEI, para "serem bem-sucedidos" na sua missão.
"Como humanidade, precisamos de trabalhar juntos e garantir que tratamos o planeta de forma sustentável", sublinhou.
Sobre futuras missões, Matthias Maurer admitiu que podem eventualmente passar por uma nova estada na EEI ou uma viagem à Lua - até à sua órbita ou até à sua superfície.
Comentários