Ana Pinho falava aos deputados da comissão parlamentar de Cultura a propósito da demissão do diretor do Museu de Serralves, João Ribas, na sequência de requerimentos do Bloco de Esquerda e do Partido Socialista.
“Não há nem houve qualquer censura”, afirmou, acrescentando que “houve respeito e prudência com a obra de Mapplethorpe”.
Ana Pinho salientou que esta exposição “vai mais longe do que muitas exposições noutros países, que evitaram muitas das obras lá expostas”.
No entanto, a responsável sublinhou que a exposição de Mapplethorpe, na forma final, foi aprovada, assinada e inaugurada pelo curador.
Segundo Ana Pinho, também foi João Ribas quem propôs um espaço reservado.
“Por iniciativa do diretor do museu deveria haver esta ala, foi esta a posição também da administração”, afirmou.
Contudo, “em entrevista, disse que não haveria resguardo, não poderia haver impedimento ao acesso as obras”, afirmou, considerando que com isto, “João Ribas revelou imaturidade e deslealdade”.
“Disse aos jornais o que não disse à administração e à administração o que não disse aos jornais”, realçou.
Para a presidente da Fundação de Serralves, foi um “facto surpreendente” que o diretor do museu diga aos responsáveis da fundação “que a exposição vai ter uma área reservada em que serão colocadas obras mais polemicas” e depois vá “dizer a um jornal algo completamente ao contrário”.
“Isto causou ao conselho de administração uma perda de confiança no diretor de museu porque isto não é possível: dizer uma coisa e depois outra completamente diferente quando está a falar com um jornal”, defendeu.
Ana Pinho contou que o conselho de administração pediu então explicações a João Ribas e que ele não foi capaz de explicar o que tinha dito ao jornal, o que aumentou ainda mais a “perplexidade” dos responsáveis.
Numa visita à exposição do conselho de administração com João Ribas, já após estes acontecimentos, houve uma discussão sobre que obras deveriam ir para a sala reservada, adiantou.
De acordo com Ana Pinho, “ao contrário do afirmado, o conselho de administração nunca retirou nem pediu para retirar nenhuma obra em momento nenhum. Apenas garantiu que aquilo que tinha sido proposto fosse feito”.
Ana Pinho especificou ainda que a ideia de João Ribas de haver uma sala reservada foi permitir que todo o tipo de público visitasse a exposição, até crianças e escolas.
“Não mandámos retirar obras da exposição. O que houve foi uma total contradição entre o que estava combinado e foi publicamente manifestado num jornal. A partir daí o conselho de administração teve de perguntar o que se passava e teve de garantir que o que estava combinado seria feito”, sublinhou.
O historiador José Pacheco Pereira, membro do conselho de administração da Fundação Serralves, considerou que se está a “falar dentro da nuvem das contradições”.
“Temos vários documentos que mostram que essa nuvem de contradições não é nossa. Temos muita facilidade em mostrar”, afirmou Pacheco Pereira, frisando que “é falso” que tenham sido retiradas duas obras.
“As duas obras referidas são muito menos violentas do que algumas que estão expostas. Por que é que nós censurámos duas muito mais pacíficas do que outras que estão na sala? Cenas que podem ser interpretadas como pedofilia, cenas violentas, cenas que não têm sequer palavras em português para as designar estão lá expostas, porque iríamos censurar obras de homens com o sexo à mostra?”, questionou.
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