“Recebi a mensagem a avisar que estavam a invadir a academia, mas, como não estamos sempre com o telemóvel, só a vi depois. Era de um amigo que passou junto da academia e viu o grupo de adeptos a aproximar-se”, disse o jogador, ouvido hoje, por Skype, na 22.ª sessão do julgamento da invasão à academia.
O médio, que alinha nos franceses do Mónaco por empréstimo do Atlético de Madrid, mostrou alguma relutância em identificar o amigo que lhe enviou a mensagem, garantindo que já o tinha feito durante a fase de inquérito, mas acabou por fazê-lo a pedido da juíza.
Gelson, de 24 anos e que representou o Sporting durante sete, disse ter “sentido muito medo” e ficado “paralisado” quando a academia do clube foi invadida, em 15 de maio de 2018.
“Tive medo, paralisei perante a situação. Foi uma situação mesmo muito difícil, e acho que até hoje ainda sinto alguma dificuldade em lidar com isso, foi muito difícil para mim e para a minha família”, referiu, acrescentando: “depois daquilo, nunca andava sozinho na rua.”
Gelson Martins disse ter estado perto de Acuña, que foi agredido “com pontapés, socos e chapadas”, e lembrou que um dos agressores lhe disse para não ter medo, que não lhe ia acontecer nada.
“Quando estavam a bater no Acuña, estava um rapaz à minha frente, que não fez nada, e disse-me para eu ficar ao pé dele que não me ia acontecer nada. Como tinham todos a cara tapada não o reconheci”, disse.
Hoje, perante o coletivo de juízes, e depois de ter visto, a pedido da advogada Sandra Martins, a cara do arguido Domingos Monteiro, que descreveu “como um amigo da namorada”, disse que, “pela lógica”, só podia ter sido essa a pessoa que o protegeu.
O médio confirmou declarações anteriores de outros futebolistas e membros da equipa técnica de que os “seguranças tentaram fechar as portas, mas não conseguiram evitar a entrada do grupo” e que os agressores tinham como principais alvos Battaglia, Acuña, William Carvalho e Rui Patrício.
Gelson referiu ainda ter visto uma “tocha a atingir o preparador físico” e disse só se ter apercebido “do som do alarme de incêndio no final do ataque”.
O julgamento prossegue na próxima quarta-feira (29 de janeiro), com as audições dos jogadores Piccini e Fábio Coentrão e Carlos Mota, enfermeiro.
Na sexta-feira, dia 31, deverão ser ouvidos André Geraldes, ex-team manager do Sporting, que aguarda resposta ao pedido para ser ouvido por videoconferência, e William Carvalho, atual jogador dos espanhóis do Bétis e um dos ‘capitães’ dos ‘leões’ à data dos factos.
Frederico Varandas, que chefiava o departamento médico e é atualmente presidente do clube, deve ser ouvido em 7 de fevereiro, enquanto José Sousa Cintra, que liderou o clube entre 1989 e 1995 e ocupou a presidência da SAD durante dois meses, por nomeação, após a saída de Bruno de Carvalho, deve ser ouvido no dia 14.
O processo, que está a ser julgado no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Bruno de Carvalho, à data presidente do clube, ‘Mustafá’, líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Os três arguidos respondem ainda por um crime de detenção de arma proibida agravado e ‘Mustafá’ também por um crime de tráfico de estupefacientes.
Aos arguidos que participaram diretamente no ataque à academia, o Ministério Público imputa-lhes a coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Estes 41 arguidos vão responder ainda por dois crimes de dano com violência, por um crime de detenção de arma proibida agravado e por um crime de introdução em lugar vedado ao público.
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