
Seis meses após um casamento de interesses, o homem mais poderoso do mundo e o empresário mais rico do mundo trocam insultos publicamente.
Quando Trump foi eleito Presidente e escolheu Elon Musk como parceiro informal, muitos comentadores, incluindo eu, ficaram boquiabertos com o ineditismo de um Governo autoritário bicéfalo, num país que se considera o paradigma da democracia. E outra coisa que os comentadores previram é que os super-egos dos dois não prognosticavam um casamento pacífico. Para um narcisista, Trump, partilhar a ribalta era um acto contra-natura. E Musk, um génio sociopata, movido a ketamina, está convencido de que foi ele, só ele, a proporcionar a vitória eleitoral de Trump (com um donativo de 250 milhões de dólares e outras despesas para convencer os eleitores).
Como toda a gente viu, os dois comparsas estavam sempre juntos - na Sala Oval da Casa Branca, em comícios e aparições na TV -, e os objectivos políticos pareciam idênticos: desmontar o “deep state”, reduzir ou fechar diversos organismos governamentais e colocar nos outros funcionários escolhidos pela lealdade ao "supremo líder" e não pela competência.
Para oficializar o processo, Trump criou um organismo oficial, o DOGE, com poderes inéditos: Musk, acompanhado por um grupo de jovens sem qualquer conhecimento sobre o aparelho de Estado, entravam pelas repartições adentro, despediam pessoas e acediam a dados confidenciais sobre funcionários e cidadãos.
As coisas começaram a descarrilar quando Musk viu que nunca iria conseguir o seu objectivo: cortar cerca de 180 mil milhões de dólares na despesa pública. Numa entrevista à CBS disse o seguinte: “Estou preso numa contradição que não me agrada; por um lado, falar contra o Governo, e por outro ficar responsável por tudo o que o Governo faz.” Logo a seguir postou no X: “Lamento, mas não aguento mais esta proposta de Orçamento maciça, escandalosa, cheia de pequenos interesses de legisladores (“Pork filled”), uma abominação desgraçada”.
O Orçamento, que neste momento está em discussão no Senado, depois de ter sido aprovado pela Câmara dos Representantes, foi baptizado por Trump como “Big, Beautiful Bill” (Orçamento Grande e Maravilhoso) e, evidentemente, o Presidente não quer ouvir críticas ao seu conteúdo, muito menos feitas pelo seu parceiro. Assim, o Grande Líder respondeu calmamente no X “Elon e eu tínhamos um bom relacionamento, mas não sei se continuamos a ter… Ele não me criticou pessoalmente, mas tenho a certeza de que o vai fazer a seguir. Estou muito desapontado com ele”
E, de facto, a seguir Musk começou a criticar Trump, rindo às gargalhadas dos memes que vão sendo publicados sobre o fim deste relacionamento.
Até que publicou no X: “Se não fosse eu a entrar com dinheiro, Trump teria perdido esta eleição, os Democratas controlariam a Camara dos Representantes e os Republicanos teriam uma maioria de apenas 51-49 no Senado”. E acrescentou uma mensagem aos congressistas que estão a ponderar quem devem apoiar neste divórcio: “Vocês têm de pensar que Trump tem mais 3,5 anos como Presidente, mas eu vou andar por cá mais de 40 anos…”. Ou seja, os congressistas podem gostar muito da casa da mãe, mas é o pai (Musk) que vai decidir quem poderá comprar a sua própria casa no futuro.
Trump respondeu imediatamente ao ataque: “O Musk está MALUCO. A melhor maneira de poupar dinheiro não é com este Orçamento, mas é terminar os milhares de milhões de contratos e subsídios que as empresas dele recebem do Estado.” E, para começar, o Presidente despediu Musk do DOGE, que continua a funcionar à solta.
Concluído assim o divórcio, Musk voltou para as suas empresas, que entretanto sofreram bastante; as acções da Tesla caíram 17% num dia e os contratos com a Spacex estão em perigo. Mas ainda lançou uma autêntica bomba atómica, ao dizer (sempre no X): “Donald Trump está no processo de Epstein. Essa é a verdadeira razão porque o processo não foi tornado público!
Trump respondeu com uma calma inédita: “Não me importo que o Elon se tenha virado contra mim, já o devia ter feito há meses. Este um dos melhores orçamentos apresentados ao Congresso.”
(Não deixa de ser interessante ver como nos dias de hoje correm as disputas domésticas; em vez de o casal discutir em casa, ou telefonar para os amigos, publica nas redes sociais os seus desagravos.)
E pronto, assim termina o casamento mais curto e público da História. Como poderia dizer Trump, “um divórcio como o Mundo nunca viu”.
Realmente, para quê assistir a novelas, se a realidade é muito mais empolgante do que a ficção?
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