“O desprezo do regime iraniano pela humanidade não conhece limites”, denunciou esta quinta-feira a ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, na sequência da execução de um homem envolvido nos protestos relacionados com a morte de Mahsa Amini, uma jovem iraniana curda presa pela polícia da moralidade por violar o código de vestuário das mulheres, que provocou a revolta naquele país após a sua morte.
Este homem, Mohsen Shekari, “foi julgado e executado num julgamento pérfido e precipitado, porque não concordava com o regime”, declarou a chefe da diplomacia alemã, acrescentando que a ameaça de execução “não sufocará a vontade de liberdade das pessoas”.
Em conferência de imprensa, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de França, Anne-Claire Legendre, declarou, por seu turno, que a execução de Mohsen Shekari soma-se a “outras violações graves e inaceitáveis”.
“Relembramos o nosso mais forte apego ao direito de manifestação pacífica”, acrescentou Anne-Claire Legendre, sublinhando que as aspirações dos manifestantes “são legítimas e devem ser ouvidas”.
O Irão executou hoje, pela primeira vez desde o início das manifestações que abalaram o país, um homem acusado de ter ferido um paramilitar após bloquear o trânsito em uma avenida em Teerão, a capital daquele país.
O Irão tem sido palco de um movimento de protesto desencadeado pela morte de Mahsa Amini a 16 de setembro passado.
A onda de protestos sem precedentes no Irão desde a Revolução Islâmica de 1979 que instaurou o regime teocrático designado pelos seus líderes como “República Islâmica”, foi desencadeada pela morte, a 16 de setembro, de Mahsa Amini, de 22 anos, em Teerão.
A jovem foi detida na capital a 13 de setembro, porque o ‘hijab’ (véu islâmico) que envergava não lhe cobria totalmente o cabelo, e horas mais tarde transportada, em coma, para o hospital onde morreria três dias depois.
Desde esse dia que há manifestações por todo o país, que têm aumentado de dimensão e intensidade e têm sido duramente reprimidas pelas forças de segurança, inclusive com munições reais, tendo já feito mais de 500 mortos e milhares de detidos — alguns dos quais já condenados à morte em julgamentos sumários e executados.
Em quase três meses de protestos, pelo menos 2.000 dos milhares de detidos foram acusados de diversos crimes pela sua participação na contestação, 11 dos quais foram condenados à morte.
As mulheres do Irão receberam na quarta-feira passada a menção especial de “heroínas do ano” pela revista Time, que aplaudiu o seu movimento de “luta pela liberdade” com uma reportagem ilustrada por três mulheres retratadas de costas.
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