“A água está a tornar-se cada vez mais imprevisível” e os sinais de alerta são impossíveis de ignorar”, disse hoje Celeste Saulo, secretária-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma agência da ONU, numa conferência de imprensa.
A OMM apresentou hoje um novo relatório sobre os recursos hídricos, que aponta para um agravamento da escassez de água a nível mundial. Analisando 33 anos de dados, a organização constatou que os cursos de água do mundo atingiram no ano passado um nível de seca nunca antes registado.
“No contexto das alterações climáticas, a água está a dar-nos uma amostra das mudanças que se avizinham”, afirmou também Celeste Saulo em comunicado.
E acrescentou: “Os sinais de alerta multiplicam-se: estamos a assistir a uma exacerbação de precipitações extremas, inundações e secas, que estão a ter um pesado custo para as vidas, os ecossistemas e as economias”.
Com 2023 a ser o ano mais quente de que há registo, as temperaturas elevadas e a precipitação geralmente baixa contribuíram para secas prolongadas.
Os fenómenos hidrológicos extremos foram incentivados não só por fatores climáticos naturais, como a transição das condições de La Niña para um episódio de El Niño em meados de 2023 (relacionados com a alterações de temperatura da superfície da água no oceano Pacífico), mas também pelas alterações climáticas induzidas pelo homem, afirmou a OMM.
“O aumento da temperatura acelerou o ciclo hidrológico, que também se tornou mais irregular e menos previsível”, explicou Celeste Saulo.
Uma atmosfera mais quente pode reter mais humidade, pelo que o aquecimento global aumenta o risco de precipitações fortes, mas a evaporação acelerada e a secagem do solo agravam as secas.
Em consequência, “somos confrontados com situações cada vez mais difíceis, em que a água é demasiado abundante ou insuficiente”, disse.
Atualmente, 3,6 mil milhões de pessoas não têm acesso suficiente à água durante pelo menos um mês por ano e prevê-se que esse número ultrapasse os cinco mil milhões em 2050, segundo a ONU.
O relatório revela que o caudal de cerca de 50% dos rios do mundo esteve abaixo do normal no ano passado.
Os glaciares estão também na linha da frente do aquecimento global: de acordo com dados preliminares relativos ao período de setembro de 2022 a agosto de 2023, perderam mais de 600 gigatoneladas de água, a pior perda em 50 anos de observação.
“O degelo e os glaciares ameaçam a segurança hídrica a longo prazo de muitos milhões de pessoas. No entanto, não estamos a tomar as medidas urgentes que são necessárias”, alertou a secretária-geral da OMM.
Segundo a OMM, foi o continente africano o que mais sofreu no ano passado com os fenómenos meteorológicos relacionados com a água e o que registou mais mortes.
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