João Costa criticou as políticas educativas do antigo ministro da Educação Nuno Crato para justificar os resultados dos alunos portugueses do 4.º ano no TIMMS - Trends in International Mathematics and Science Study, hoje publicados, após uma apresentação aos jornalistas na terça-feira.
O TIMMS, hoje divulgado, mostra que estes alunos pioraram o seu desempenho a Matemática, tendo descido de 541 pontos nas provas de 2015 para 525 pontos (numa escala de 1 a 1000).
Segundo Luís Pereira dos Santos, presidente do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), esta descida a Matemática a “estatisticamente significativa”.
Segundo o secretário de Estado, houve mudanças feitas pela equipa de Nuno Crato que geraram “maiores dificuldades na aprendizagem”.
João Costa garantiu que a Matemática é “a disciplina com maior investimento público”, mas o resultado das medidas não tem tido grande impacto no sucesso académico dos alunos.
Por isso, disse, é preciso “olhar para o programa como um todo”, sublinhando que existem problemas que já estão identificados, tais como “a transição dos programas de 2009 para as metas curriculares”.
“Houve uma grande antecipação de conteúdos nas metas, alguns dos itens que eram ensinados no 5.º ano passaram para o 3.º ano, por exemplo”, referiu, sublinhando que esta mudança feita durante o mandato de Nuno Crato “gerou maiores dificuldades na aprendizagem”.
Além disso, acrescentou, “as metas curriculares também põem as estratégias de ensino muito centradas no formalismo, numa interpretação mais abstrata do que aquilo que potencia uma melhor aprendizagem que é ir fazendo este equilíbrio entre conteúdos, aquilo que se aprende, e a aplicação desse conhecimento”.
Por outro lado, o responsável recusou qualquer relação entre o pior desempenho destes alunos e o fim dos exames nacionais do 4.º ano – uma medida do atual ministro, Tiago Brandão Rodrigues.
Há dois anos, o secretário de estado criou o Grupo de Trabalho de Matemática, coordenado por Jaime Carvalho da Silva, com a missão de elaborar um conjunto de recomendações sobre o ensino, a aprendizagem e a avaliação na disciplina de Matemática.
Em declarações aos jornalistas, João Costa admitiu que estariam para breve as mudanças, mas que primeiro é preciso que o documento elaborado pelo GTM seja alvo de discussão pública.
“Não me vou comprometer com nenhum prazo de entrada em vigor, porque eu quero que seja objeto de discussão publica e podemos ter intervenções mais de fundo sobre a proposta ou menos profundas. Mas como temos vindo a fazer, esta intervenção será sempre alvo de uma entrada em vigor gradual”, concluiu.
Alunos do 4.º ano estão piores a Matemática
O desempenho dos estudantes portugueses a Matemática e Ciências melhorou significativamente desde 1995, mas os resultados dos alunos do 4.º pioraram nos últimos quatro anos, segundo o estudo internacional TIMMS.
Quase 7.700 alunos portugueses voltaram a participar, no ano passado, no maior estudo internacional que avalia o desempenho dos estudantes do 4.º e 8.º anos de escolaridade a Matemática e Ciências: o TIMMS - Trends in International Mathematics and Science Study.
Os alunos portugueses colocaram Portugal no grupo dos países com um resultado acima do ponto central da escala TIMMS (500 pontos), mas entre os estudantes mais novos os resultados baixaram nos últimos quatro anos.
Em Portugal, 4.300 alunos do 4.º ano fizeram as provas de Matemática e de Ciências e a pontuação média baixou nas duas disciplinas quando comparada com os resultados em 2015.
Mas apenas no caso da Matemática a descida é “estatisticamente significativa”, explicou Luís Pereira dos Santos, presidente do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE).
Através de uma bateria de testes, os estudantes são avaliados numa escala de 1 a 1000 pontos. Os alunos do 4.º ano obtiveram 525 pontos a Matemática, ou seja, menos 16 pontos do que em 2015, segundo o estudo hoje divulgado.
Numa comparação entre os 58 países participantes, os portugueses ficaram em 20.º lugar a Matemática. O país mais bem classificado, Singapura, obteve 625 pontos.
Já a Ciências, os alunos portugueses baixaram os resultados em apenas quatro pontos (de 508 para 504) e o país ficou em 33.º lugar. Singapura, que volta a ser o mais bem classificado, obteve 595 pontos.
Desde a primeira vez que Portugal participou nesta avaliação (em 1995) até agora, verifica-se uma melhoria gradual no desempenho dos alunos ao longo dos anos.
“As boas notícias é que se verifica uma tendência de evolução positiva gradual e sustentada em todos os indicadores e que Portugal está acima da média no TIMMS”, sublinhou o secretário de Estado da Educação, João Costa, admitindo que esta melhoria nos resultados “passou vários governos”.
Através de uma bateria de testes, os alunos são avaliados numa escala de 1 a 1000 pontos. Singapura voltou a ser o país com melhores resultados mundiais às duas disciplinas tanto no 4.º como no 8.º ano, rondando os 600 pontos.
Em Portugal, os resultados mais baixos foram nas provas realizadas pelos alunos do 8.º ano a Matemática, que obtiveram 500 pontos.
Foi a segunda vez que os alunos do 8.º ano participam no TIMMS, registando-se uma melhoria tanto a Matemática como a Ciências.
Em 1995, ficaram abaixo dos 500 pontos às duas disciplinas e agora subiram para 500 pontos a Matemática e 519 pontos a Ciências.
Assim, na lista dos 39 países cujos alunos do 8.º ano participaram, Portugal surge em 18.º lugar a Matemática e 13.º a Ciências.
Numa comparação por géneros, os rapazes obtiveram melhores resultados a Matemática tanto no 4.º como no 8.º ano de escolaridade.
“As diferenças de género têm vindo a acentuar-se em Portugal, ciclo após ciclo, a favor dos rapazes”, sublinha o estudo, que indica que esta é uma tendência que se registou na maioria dos países participantes.
Outro dos pontos analisados foi a diferença dos resultados entre os alunos que frequentam escolas públicas e os de privadas. Tanto a Matemática como a Ciências, os estudantes dos colégios obtiveram melhores resultados.
O TIMMS realizou ainda questionários a professores e encarregados de educação que demonstraram o impacto dos recursos educativos disponíveis em casa no sucesso académico.
Ter livros em casa, ter um quarto próprio ou ligação à Internet foram algumas das perguntas feitas aos pais que voltaram a mostrar como o meio socioeconómico afeta os resultados.
O impacto positivo de frequentar a educação pré-escolar foi também corroborado por este estudo, que analisou ainda a composição socioeconómica da escola.
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