“Neste momento não vejo rigorosamente cenário nenhum que me fizesse voltar à política”, afirmou André Silva em entrevista à agência Lusa dias antes de deixar a liderança do Pessoas-Animais-Natureza e também o parlamento.
Apesar de ressalvar que aprendeu “a nunca dizer nunca e a nunca dizer sempre”, o dirigente afirmou que “neste momento não se perspetiva nenhum regresso”.
“E portanto não há qualquer motivo para regressar porque, como referi, houve um período de afirmação e de consolidação do partido, que tem vindo a acumular sucessos e crescimento ao longo de todos estes anos”, destacou, defendendo igualmente que o PAN “tem todas as condições e todo o tempo” para “prosseguir aquilo que é o seu caminho” e o seu “percurso de crescimento”.
Sobre Inês Sousa Real, a única candidata a porta-voz no VIII Congresso do PAN, que decorre este fim de semana em Tomar, André Silva considerou-a “uma pessoa trabalhadora, empenhada, comprometida com os valores do partido”, e assinalou que a líder parlamentar integra a direção do partido “há muitos anos”, pelo que representa uma “continuidade natural”.
E defendeu que tem “todas as condições para que o PAN continue no seu caminho e no seu percurso de sucesso”.
Numa conversa onde foi abordada também a relação com o PS, uma vez que o PAN foi um dos partidos que viabilizou orçamentos do Estado, o ainda porta-voz sublinhou que “as pessoas não só compreendem como aceitam, como concordam, com esta postura do PAN, construtiva, de oposição, de escrutínio ao Governo”.
“Mas quando é necessário, e a política é feita de alianças e de conversa de negociações, quando é necessário para fazer avançar as nossas causas, os nossos valores, negociar e fazer acordos, pois porque não”, sustentou, defendendo que o partido foi “bem sucedido” no equilíbrio entre fazer avançar medidas e manter a sua “independência”.
Para André Silva, “não houve nenhum momento de tensão com o Partido Socialista e com o Governo maior do que a iniciativa legislativa em que se previa a existência de períodos de nojo para quem sai do Governo para cargos, por exemplo, como a administração do Banco de Portugal”, projeto a que chamou “a lei Centeno”.
“Isto claramente não é de um partido que tem qualquer dependência ou que sente que outro partido seja o seu patrão político”, frisou.
No que toca às negociações em torno do Orçamento do Estado para o próximo ano, o líder sustentou que “os sinais que estão a ser dados pelo PS é que quer encetar conversações com os partidos que nos últimos anos tem feito acordos, para além do PAN”.
E destacou que o seu partido “está disponível para conversar, para dialogar” com todos os partidos e fazer propostas para melhorar uma proposta do Governo que antevê que não será “a ideal”, indicando que as reuniões neste sentido “vão começar nas próximas semanas”, já depois da sua saída.
A dias de deixar a liderança do PAN, André Silva classificou como “nonsense” (disparate) e “ridículo” as críticas internas de que o partido se afastou das causas pelas quais nasceu, como a defesa dos animais, frisou as mudanças que ajudou a implementar nas “políticas públicas de bem-estar animal”, considerando que houve um “avanço enorme” neste campo, e fez também fez um balanço positivo do seu mandato.
E desafiou as pessoas “que fazem essa avaliação absolutamente errada e descontextualizada” a apresentarem-se em congresso.
Já do que ficou por fazer, sublinhou três coisas: “a abolição das corridas de touros”, o “fim dos subsídios perversos para as grandes indústrias poluentes” e o alargamento do “direito de voto a cidadãos com 16 anos”.
Sobre a desfiliação da deputada Cristina Rodrigues, que foi sua chefe de gabinete, e do eurodeputado Francisco Guerreiro, considerou “uma facada ao partido”, além de uma “desilusão pessoal”, e criticou o trabalho feito pelos dois enquanto independentes.
“Se ainda pelo menos estivessem a fazer alguma coisa, ainda pelo menos estivessem a ter um papel preponderante na política europeia ou na política portuguesa, [mas] aquilo que é a ação ou a inação destes deputados fala por si”, sublinhou.
André Silva foi eleito porta-voz do PAN em 2014 e em 2015 foi eleito deputado único do partido na Assembleia da República.
Em março, numa carta aos militantes, anunciou que vai deixar as funções executivas no partido e o lugar de deputado, invocando motivos pessoais e a defesa do princípio da limitação de mandatos.
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